Realizado em Campinas, ‘Uma Chamada Furry’ reúne depoimentos de fãs das produções artísticas que têm animais com expressões ou características humanas como personagens
Depoimentos para o documentário foram colhidos em nove cidades do País, inclusive durante encontro de fãs de furry no Teatro Amazonas (Divulgação)
O primeiro documentário de produção nacional sobre a comunidade furry do Brasil está sendo conduzido em Campinas e tem previsão de lançamento no final do mês de março. A produção audiovisual de 50 minutos é feita pelo produtor Paulo Pessôa Neto e direção de Paola Champi, com roteiro assinado por Rafael Alziro. O termo "furry" vem do inglês, significa "peludo" e surgiu na década de 1980 como referência aos fãs que gostam de produções artísticas com criaturas ou animais antropomórficos, isto é, aqueles que têm expressões, ações ou características humanas.
O documentário "Uma Chamada Furry" registra essa subcultura nas cinco regiões brasileiras. Para isso, a equipe de produção viajou no ano passado para nove cidades — Sorocaba, Santo André e Santos (SP), Vitória (ES), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Brasília (DF) e Santa Maria (RS) — para ouvir as comunidades que já têm um trabalho local estruturado. O filme foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo e pelo edital de incentivo de produção audiovisual da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
Um exemplo comum da subcultura furry — derivada da cultura geek — são os personagens de fábulas "que mesmo que não tenham a apresentação de um design em corpo humano, possuem pensamentos e habilidade de fala humana, por isso também são animais antropomórficos" explica o produtor, jornalista e pesquisador Paulo Pessôa Neto, que é carioca e mora há sete anos em Campinas. Outro exemplo bastante popular citado por ele são os personagens da Disney, como o Mickey e o Pato Donald, que já possuem características humanas também em seu design.
DIVERSIDADE E INCLUSÃO
A diretora Paola Champi é uma cineasta peruana de descendência indígena, que veio para Campinas ainda criança. Ela comenta que os depoimentos colhidos em diferentes regiões do País tiveram em comum, além da paixão por personagens furries, relatos sobre inclusão, diversidade, pertencimento e união. "Sempre gostei desses personagens", diz Paola, que integra a comunidade de fãs há mais de cinco anos e criou, junto com Paulo Pessôa, um canal de conexão e divulgação de eventos desse segmento, que leva os nomes de seus personagens: @pulimevega
"Durante a produção, acabei percebendo que não é só um espaço de diversão, mas um espaço de comunidade diversa onde as pessoas não se sentem excluídas", diz Paola. E cita como exemplo a presença de muitos autistas, de integrantes de comunidades LGBT+, pessoas com deficiência, várias etnias e outros que colocam suas identidades nos personagens e se sentem acolhidos, respeitados e, muitas vezes, esse se torna um espaço de autoconhecimento e conexão", explica. O relacionamento entre os personagens virtuais sempre começa online e depois passa por encontros presenciais em cidades onde as comunidades já estão bem estruturadas, como é o caso de Santos e Sorocaba.
AUDIOVISUAL E OFICINAS
O projeto é uma continuação do trabalho de conclusão de curso da diretora Paola Champi, formada em Midialogia pela Unicamp e mestranda no Programa de Pós-Graduação de Divulgação Científica e Cultural da mesma universidade. Ela só conheceu esse tema durante as aulas e se apaixonou pela ideia de criar personagens caracterizados com sua identidade e ter a autoria de suas histórias. E como gosta de desenhar, a arte ficou completa.
Em Campinas, a comunidade ainda não é muito grande, por isso um evento está sendo criado para reunir os fãs e promover oficinas com esse direcionamento.
As oficinas gratuitas acontecem nos dias 30 e 31 de janeiro e 1˚ de fevereiro, das 13h às 17h, na Biblioteca Municipal Manoel Zink, no Centro da cidade, para ampliar as informações relacionadas a esse tema, sua diversidade e criatividade. Qualquer pessoa e de qualquer idade pode participar, em especial aquelas que têm interesse na profissionalização das histórias em quadrinhos e personagens furries. A produção do documentário será um dos temas abordados e a programação completa, inclusive com link para inscrição nas oficinas, está nas redes sociais @pulimevega - @chamadafurry.
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