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Shows de covers invadiram bares de Campinas e região

Espetáculos do gênero invadiram também os teatros, locais antes praticamente exclusivos de artistas com trabalho próprio - que, hoje, não encontram espaço para se apresentar

Marita Siqueira
02/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 14:51
Bee Gees Alive, um dos grupos cover do trio de sucesso: pose igual (  Divulgação)

Bee Gees Alive, um dos grupos cover do trio de sucesso: pose igual ( Divulgação)

Nostalgia, saudosismo, falta de opção. Essas são algumas das razões que levam o público a shows de covers de bandas ou cantores consagrados. Nos últimos tempos, espetáculos do gênero invadiram não só os bares de Campinas e região, mas também os teatros, locais antes praticamente exclusivos de artistas com trabalho próprio. Ironicamente, enquanto Abba Cover, Elton John Cover e Bee Gees Alive, por exemplo, se apresentam em palcos nobres como o Theatro Municipal de Paulínia e o Teatro Municipal José de Castro Mendes, artistas de relevância para música brasileira como Boca Livre, Duofel, Tribo de Jah e Cristóvão Bastos encontram espaço — e ainda uma fatia pequena do bolo — para mostrar seu trabalho em bares, numa situação inversa ao que ocorria anos atrás. Apenas para constar, no Teatro Castro Mendes, em Campinas, ocorreram, entre março e abril deste ano, apresentações do The Beat Beatles, Pink Floyd Brasil e Elvis Tribute on Tour Brazil. A Teatro GT, uma das grandes produtoras que trazem espetáculos para a região, promoveu neste ano Bee Gees Alive (Indaiatuba, Campinas e Paulínia), Abba The History (Paulínia), Elton John Tribute (Campinas), Beatles Forever (Paulínia) e programou para maio Elton John Tribute (Paulínia) e Beatles Forever (Campinas). Para o diretor da GT, Thonny Piassa, o aumento dos shows cover ocorre devido à procura do público por espetáculos idênticos aos dos ídolos. “Sejam alguns que já morreram, bandas que não existem mais, ou que ainda estão vivos, mas seguem carreira internacional, como Elton Jonn. Sejam shows cover ou musicais sobre obra e vida de músicos, que também estão em alta, existe um crescente interesse do público. Mas, como qualquer ‘moda’, tem sempre projetos de excelente qualidade e outros não, o público precisa se informar antes de ir assistir”, diz. O programador dos teatros Folha (São Paulo) e Amil (Campinas), Cláudio Marinho, concorda que há uma tendência de crescimento para atrações do gênero. “Este ano a gente não programou música para Campinas, mas em São Paulo, terá Abba, Elvis The Cover e outros. As pessoas gostam. Acredito que o público tenha uma paixão pelo artista original e essa é a motivação inicial; depois, o artista cover acaba fazendo o seu público também.” Vale lembrar que no Teatro Amil a principal aposta da programação é o humor, sobretudo stand-up. Baixista da banda de rock autoral Muzzarelas e dono da loja Chopsuey Discos, no Centro de Campinas, Daniel Pacetta Giometti não vê com bons olhos essa cena de cover no palco nobre. “Eu não pago para ver uma banda cover, sempre dou preferência a trabalhos originais, ainda mais porque tenho uma loja de discos e prefiro apoiar quem faz um trampo próprio.” E completa: “Se fosse um trabalho de pesquisa, como uma banda resgatar algo desconhecido do grande público, eu acharia válido e muito produtivo. Por exemplo: uma banda tocando músicas dos Los Saicos (banda peruana dos anos 1960). Mas o que tenho visto por aí é muita banda apelando para um repertório mais do que consagrado, com receio de ousar, completamente acomodado. Acho essa falta de desafio a coisa menos rock do mundo”. Giometti pondera sobre a mesmice. “É bem complicado ter a maior parte da cena musical da cidade baseada nesse tipo de coisa, que piora ao tomar uma maior proporção e chegar a grandes espaços como teatros. Na verdade, é a mesmice que impressiona e vai além de apresentar composições de outros autores. O Richard Cheese (norte-americano) faz versões realmente interessantes, o Manic Spanic (grupo americano) faz releituras de clássicos do punk rock estilo vato, assim como o Bloco Vomit, da Escócia, que também apresenta clássicos do punk, só que em forma de samba. A Elis Regina não compunha, nem o Elvis (Presley), mas deixavam suas marcas nas canções”, diz. O produtor Maks Tiritan compara a situação com o domínio dos shows cover nos bares, que já vem de algum tempo, e considera ainda mais polêmico o fato de que ocorra também nos tablados. “A diferença é que muito provavelmente uma banda cover num desses espaços (teatros) consegue levar muito mais público do que uma autoral e, consequentemente, faturando mais. Eu não vou dizer que sou contra pura e simplesmente!”, afirma, propondo uma alternativa. “O que acho é que, neste caso, e também em relação aos bares noturnos, se poderia achar uma fórmula em que, ao lotar o espaço com uma banda cover que atraia mais público, se coloque sempre uma banda autoral de estilo semelhante para abrir a ‘atração principal’, mesmo a ordem das coisas estando invertida.” Espetáculo Com relação a esse paralelo do bar e o teatro levantado por Tiritan, o músico Marcelo Diniz pondera que o tablado talvez seja mais apto do que os palcos de bares para o cover. “No quesito espetáculo, o teatro acaba sendo um lugar mais propício até para esse tipo de apresentação. Ainda não assisti nenhum show desses para saber como é a dinâmica toda, mas seria bacana, por exemplo, uma reprodução na íntegra de algum show clássico famoso, como Pink Floyd Cover reproduzindo o (disco) 'The Wall'. Em termos de condições técnicas para aparelhos e efeitos, o teatro é um lugar ideal. Vejo nesse primeiro momento como se fosse um musical qualquer, sabe?” Já o produtor musical Everaldo Cardoso dos Santos, dono da loja Riva Rock, é enfático ao ser questionado se iria ao teatro ver uma apresentação de banda cover. “Eu não vou. Prefiro ouvir o vinil ou CD da banda original.” Para ele, o saudosismo pode ser o principal fator da conquista do público. “Acho que o fato de a pessoa já ser condicionada a isso há tempos, pode ter virado uma boa opção de ver a banda dos amigos e de poder cantar as músicas preferidas no show.” Seja qual for a motivação que leva às pessoas ao teatro para assistir apresentações de grupos cover, o fato é que há uma forte tendência a favor desse tipo de show e, em contrapartida, as músicas autorais perdem cada dia mais espaço em Campinas e outras cidades da região. A discussão é polêmica, porém necessária.

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