'O Aniversário de Jean Lucca'

Sesi Amoreiras recebe espetáculo infantil gratuito

Peça será encenada nesta sexta-feira, 3, às 20h e volta ao palco nos dias 4, 10 e 11 de junho, no mesmo horário

Aline Guevara
01/06/2022 às 10:41.
Atualizado em 01/06/2022 às 10:41
Maristela Chálala (em destaque) e demais atores e atrizes que sobem ao palco do Sesi para falar sobre os paradoxos que cercam a vida social (Ale Virgílio)

Maristela Chálala (em destaque) e demais atores e atrizes que sobem ao palco do Sesi para falar sobre os paradoxos que cercam a vida social (Ale Virgílio)

Uma festa infantil para uma criança que nunca é vista, uma família vivendo atrás dos muros do condomínio de luxo onde mora, pais paranoicos sempre com medo de terem a casa invadida. Esse é o combo de fatores que move "O Aniversário de Jean Lucca", espetáculo que será encenado no Sesi Amoreiras nesta sexta-feira, 3, às 20h, gratuitamente. A peça volta ao palco nos dias 4, 10 e 11 de junho, no mesmo horário.

O espetáculo partiu de uma situação que chegou aos ouvidos do diretor Dan Nakagawa: uma festa de aniversário infantil onde todas as crianças eram rapidamente separadas dos adultos ao chegarem ao local e o evento seguia sem que os dois grupos tivessem qualquer interação. Para o dramaturgo, isso evidencia um dos absurdos da nossa realidade: "Ficou na minha cabeça essa ideia de terceirização da nossa vida, inclusive da criação dos filhos". Enquanto escrevia o texto, Dan decidiu explorar o tema levando-o a extremos. "Na peça, os pais nem conhecem o próprio filho, que fica evidente pela sua ausência", revela. E se essa é a relação com a criança, a indiferença com os empregados da casa é ainda maior. "Não sabem os nomes das pessoas que trabalham para eles, chamam todos de Nani e mesmo quando há uma troca de funcionários, acham que é a mesma pessoa. Não olham nem para os seus rostos, só o uniforme importa. Só enxergam mesmo quem está na mesma bolha", descreve Dan.

Outro tema frequente em "O Aniversário de Jean Lucca" é o medo constante vivido pelos personagens de classe média/alta. Enquanto preparam a festa para o invisível filho, eles temem que o evento seja invadido. "A peça fala muito sobre essa bolha em que essas pessoas vivem, quando elas não têm muita dimensão do que há ao redor". Dan explica que a cultura do medo em nossa sociedade - o medo de ser assaltado, de ser atacado - alimenta uma estrutura social desigual e um “apartheid” social entre ricos e pobres. "O medo é um fator muito importante para o controle social", reflete o diretor. Ele diz, ainda que a obra trata dos muros visíveis e invisíveis na sociedade.

Apesar do exagero das situações retratadas e da influência da dramaturgia de Samuel Beckett, Matéi Visniec e Eugène Ionesco, o diretor não gosta de associar sua peça ao "Teatro do Absurdo" por não concordar com a sua denominação. "Acho problemático usar a palavra 'absurdo' para classificarmos, porque é como se deslegitimássemos a profundidade da discussão proposta, afastando-a da realidade. O que esse tipo de teatro faz é colocar uma lupa em situações que vivemos. Elas podem soar malucas, mas partem do real", pondera.

Para tratar todos os temas com cuidado, Dan e o dramaturgista Lucas Vanatt, que faz o papel de provocador das discussões levantadas, analisaram alguns estudos do psicanalista e professor paulistano Christian Dunker sobre o conceito de "Cultura da Indiferença". "Nós nos aproximamos e ficamos amigos. Os textos do Christian foram muito importantes para irmos engrossando esse caldo do texto da peça, mas também lemos materiais sobre formação de condomínio e trabalhos sobre espaços geográficos do Milton Santos", compartilha o diretor que também atuou como compositor no espetáculo. A música é bastante presente na peça, que não pode ser classificada como um musical tradicional. No entanto, nas palavras de Dan, é "quase um". Ele conta que "a música entra de supetão, adentrando onde a palavra não consegue alcançar e o racional não dá conta".

O elenco da peça traz Maristela Chálala, Elisete Santos, Vívian Valente, Alex Huszar, Mariana Torres, Alef Barros, Heitor Garcia Lima, Adriane Hintze, Igor Mo e Felipe Tercetto. Os atores são acompanhados pelo músico André Vilé que, além de executar uma sonoplastia experimental ruidosa, toca ao vivo parte da trilha sonora.

PROGRAME-SE

Espetáculo "O Aniversário de Jean Lucca"

Quando: sextas e sábados, 3, 4, 10 e 11/06, às 20h

Onde: Sesi Amoreiras - Av. das Amoreiras, 450, Parque Itália

Entrada franca. Reservas antecipadas pelo site Meu Sesi. Ingressos reservados válidos somente até 15 minutos antes do show, depois o excedente é distribuído.

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