Dia do Filatelista Brasileiro

Selos: paixão que ainda atrai admiradores de todas as idades

Considerada uma fonte de conhecimento a filatelia sobrevive à decadência do hábito de enviar cartas

Cibele Vieira/ [email protected]
05/03/2023 às 17:16.
Atualizado em 05/03/2023 às 17:17
Reinaldo Macedo: colecionar selos está em alta (Rodrigo Zanotto)

Reinaldo Macedo: colecionar selos está em alta (Rodrigo Zanotto)

Comemorado em 5 de março, o Dia do Filatelista Brasileiro homenageia os estudiosos da arte de colecionar selos. Um hábito que muitos previam entrar em extinção com a redução do envio de cartas pelos Correios, mas acabou surpreendendo ao voltar a ser estimulado durante a pandemia. O colecionador e vice-presidente da Federação Internacional de Filatelia, Reinaldo Macedo, conta que durante o isolamento social provocado pela Covid, "muitos retiraram suas coleções das gavetas e voltaram à ativa. O reflexo foi a criação de inúmeros grupos de WhatsApp e o aumento nas vendas dos comerciantes filatélicos".

Para o presidente do Centro Temático de Campinas (CTC), José Carlos Venciguera, "ser filatelista é um hobby, mas antes de tudo é uma fonte de conhecimento, pois só se torna filatelista quem gosta de adquirir novos conhecimentos, já que os selos nos informam sobre cultura, geografia, história e muitas outras áreas". Em Campinas havia, na agência central dos Correios, uma loja filatélica que mantinha um cadastro de colecionadores. "Mas a política da empresa encerrou as atividades dessa loja bem antes da pandemia e assim deixamos de ter controle do número local", diz Venciguera. Em outubro o CTC completa 35 anos e entre os eventos programados há a emissão de um carimbo comemorativo com a imagem do coreto do Jardim Carlos Gomes (https://ctc-campinas.org.br/).

A estimativa é que o Brasil tenha hoje cerca de cinco mil filatelistas. Mas se por coleção logo pensamos em número de selos, Reinaldo Macedo corrige: "esse dado é irrelevante para um colecionador". Ele, que também é jurado em eventos filatelistas pelo mundo afora, explica que "o importante é a raridade da peça, a qualidade da conservação, a forma de apresentação e a valorização do estudo que o colecionador faz sobre a peça". Ele exemplifica que "não adianta ter cinco mil selos se não souber o que tem ou como tem. Da mesma forma, posso ter apenas dez cartas, mas com excelente qualidade técnica, histórica e financeira. Então essa avaliação de quantidade não é considerada relevante".

Saga de colecionador

A coleção de Macedo - que ele diz não ter ideia de quantos selos é composta - recebeu a medalha de ouro FIP (Fédération Internacionale de Philatélie) na exposição realizada em Londres em 2022. Seus selos são adquiridos, classificados e montados em folhas organizadas em livros. Com sua experiência, que vem amadurecendo desde os 14 anos de idade, ele orienta quem vai começar a fazer a primeira coleção genérica, para que o colecionador entenda se gosta ou não de selos. Depois, em função de seus conhecimentos e habilidades, ele pode escolher uma forma de colecionismo (Tradicional, História Postal, Aerofilatelia, Maximafilia, Inteiros Postais, Selos Fiscais, Temática, Moderna, Classe Aberta e Um Quadro) e estudar a classe escolhida. O ideal, reforça, "é sempre fazer intercâmbio com outros colecionadores e frequentar encontros e exposições".

O hobby de colecionar selos é acessível para iniciantes, mas pode se tornar um pouco mais custoso caso o filatelista decida ser expositor em grandes eventos mundiais de filatelia. E eles não são poucos. Esse ano, por exemplo, tem um encontro filatélico nacional em Ribeirão Preto, SP, entre 31 de março e 2 de abril, uma exposição em Essen, na Alemanha, em maio, além de eventos na Argentina e no Uruguai. Uma das novidades do setor é a criação recente de novas classes expositivas: a Moderna (com material emitido nos últimos 20 anos) e a Classe Aberta (onde é possível mesclar material filatélico e não filatélico).

Reinaldo Macedo começou a colecionar coisas variadas em 1974, aos 14 anos, e dois anos depois iniciou uma coleção de selos comemorativos do Brasil. Sua motivação foi um velho caderno de desenho com selos afixados com durex, que ganhou do irmão mais velho. "A beleza dos selos e a curiosidade por descobrir os países de origem foram meus motivadores", conta. O que o instiga, revela, "é o lado cultural do hobby, além de toda a parte social agregada, onde o encontro com os amigos do Brasil e do mundo se transformam em momentos inesquecíveis".

Entre as muitas histórias que coleciona, ele lembra de uma que o marcou. "Em março de 1979 o Brasil lançou um selo comemorativo da inauguração do Metrô do Rio de Janeiro e eu li, em alguma coluna filatélica da época, que ao apreciar uma folha completa, tinha-se a sensação de entrada e saída do trem no túnel. Curioso, fui até os Correios de Campinas e a dona Rosa, encarregada do guichê de filatelia, me mostrou uma folha e observamos que tinha um deslocamento da impressão da cor do trem, causando assim algo muito cobiçado na filatelia: a variedade. E esta foi minha primeira variedade".

Dia do Filatelista

A data comemorativa ao filatelista brasileiro foi determinada em homenagem ao dia 5 de março de 1829, quando o Imperador D. Pedro I, por meio de decreto, criou e organizou os Correios no Brasil. Até então, o serviço de correspondência utilizava as normas da coroa portuguesa. O Brasil foi o segundo país no mundo a emitir selos postais, os "Olhos de Boi", lançados em 1º de agosto de 1843. A Inglaterra foi o primeiro país a fazer esse tipo de emissão, ao criar, em 1840, o selo postal Penny Black, idealizado por Rowland Hill.

Campeões de 2022

Após a apuração dos mais de oito mil votos recebidos, a Associação dos Filatelistas Brasileiros (FILABRAS) anunciou, no dia 1º de março, o selo mais bonito do Brasil de 2022: a emissão postal Especial Profissão: Bombeiros. A peça recebeu 11% dos votos e concorreu com os demais 20 lançamentos da programação filatélica promovida pelos Correios no ano passado. A segunda emissão mais votada foi o lançamento "Pôr do Sol", série com registros fotográficos que ilustram a riqueza e a diversidade de paisagens e cidades brasileiras. O último lançamento de 2022, a Emissão Postal Especial Série América - Arte - Forró, ficou em terceiro lugar na eleição. 

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