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Saudade: Obrigado, Benito Juarez!

A morte foi confirmada por seu filho, André Juarez. 'Meus amigos, comunico o falecimento do meu amado pai, o maestro Benito Juarez'

Francisco Lima Neto
04/08/2020 às 11:30.
Atualizado em 28/03/2022 às 19:48
Morre o maestro Benito Juarez (Cedoc/RAC)

Morre o maestro Benito Juarez (Cedoc/RAC)

O maestro Benito Juarez, ex-diretor artístico e ex-regente da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC), morreu na manhã desta segunda-feira (3), em São Paulo, aos 86 anos, de causas naturais, segundo seu irmão, Raimundo de Souza. Deixa cinco filhos e netos. Juarez comandou a OSMC por 25 anos e foi o responsável por sua popularização e projeção nacional. A morte foi confirmada por seu filho, André Juarez. "Meus amigos, comunico o falecimento do meu amado pai, o maestro Benito Juarez. Descanse em paz, Baxoca. Vou honrar seu nome sempre. Muita força, moleque", publicou em uma rede social, André Juarez. "Benito fez a alegria de um sem número de pessoas aqui na terra e agora vai fazer a mesma alegria no céu", diz Raimundo de Souza, irmão do maestro. Ele nasceu na cidade mineira de Januária, em novembro de 1933. Estreou no universo musical por meio do canto coral e viola. Frequentou a Escola Livre de Música de São Paulo e também no Curso de Formação de Professores, mantido pelo Estado. Estudou também em Salvador, na Escola Livre de Música da Bahia, com H.J. Koellreutter e foi membro da Orquestra Sinfônica da Bahia. Depois voltou à São Paulo, onde se dedicou à formação de maestros pelo interior, com o Movimento Villa-Lobos. Juarez, de acordo com a Unicamp, foi um dos fundadores do Instituto de Artes (IA), na década de 1970, quando era apenas o Departamento de Música da Universidade. "Também foi um dos idealizadores do curso de Música Popular Brasileira (MPB), primeiro no Brasil e único oferecido em universidade pública no Estado de São Paulo", informa a assessoria da universidade. Contudo, sua atuação não ficou restrita ao ambiente acadêmico. Ele entrou para a história ao reger o concerto pelas eleições diretas para Presidência da República, em 1984, convidado pelo Movimento Diretas Já. Isso tornou a OSMC conhecida como a “Orquestra das Diretas”. Assumiu a OSMC em 1975 e foi responsável por sua popularização, levando a orquestra onde o público estava. Permaneceu na direção até janeiro do ano 2000. Benito Juarez estava aposentado na Unicamp há mais de 20 anos, quando também deixou suas atividades na Orquestra de Campinas. Segundo o pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp, Fernando Hashimoto, o maestro foi um dos grandes incentivadores da popularização da Orquestra Sinfônica e de corais. Hashimoto esteve envolvido com a Orquestra e com o maestro por 16 anos. “Quando entrei para a Sinfônica, em 1996, ela era considerada uma das principais orquestras do País. Mantinha um corpo de profissionais muito bons e era muito estável”, conta o pró-reitor. Ponto alto de seu trabalho era a valorização da diversidade. O maestro incluía composições dos mais diversos artistas brasileiros, como Hermeto Paschoal e Milton Nascimento. Ele ressaltava a importância da valorização dos compositores de música popular tanto quanto o repertório erudito.  “Toquei como músico da Sinfônica de Campinas por muitos anos com o Maestro Benito Juarez, e também convivi com ele na Unicamp”, disse o pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp, Fernando Hashimoto. “Lamentamos profundamente a perda não apenas do artista e do docente, mas sobretudo do cidadão que soube traduzir em sua obra o espírito de nosso tempo e a necessidade de levar a cultura para todas as camadas da sociedade”, disse o reitor Marcelo Knobel. “Benito foi uma personalidade fundamental para o desenvolvimento das artes e da cultura de Campinas, privilegiando a sua difusão para a população em geral, pioneiro nesse tipo de atuação, e que certamente contribuiu para a aproximação das pessoas com um patrimônio da cidade, que é a Orquestra Municipal", acrescenta. Com a Sinfônica de Campinas, levou a sonoridade peculiar do coletivo para os quatro cantos do país, obtendo reconhecimento nacional e internacional. A Sinfônica foi a primeira a receber o grande prêmio pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e o prêmio Qualidade Brasil – Sudeste Paulista. Juarez foi ainda um dos fundadores do Coralusp, em 1967, imprimindo importante trabalho com o grupo em concertos no exterior, além de gravações para a TV Cultura. Junto com José Luiz Visconti, então diretor do Grêmio Politécnico, fundou o Coralusp em 1967. Denominado, inicialmente, “Coral Universitário Poli-Enfermagem” e integrado por alunos daquelas Escolas, que logo se abriu à comunidade universitária e à comunidade em geral, incorporando-se, em março de 1971, à Reitoria da Universidade, como “Coral Universidade de São Paulo”- Coralusp. Em meados da década de 70 se agregou à Coordenadoria de Atividades Culturais (CODAC/USP), desencadeando, ao longo do tempo, gradual processo de expansão, ao formar novos grupos corais dentro e fora do campus USP/Butantã. Nas próprias palavras de um dos fundadores, José Luiz Visconti, a criação do Coralusp pode ser considerada uma ousadia, pois de 1967 a 1972, o coral foi praticamente auto suficiente em recursos, até ser incluído na estrutura da USP. Após deixar a OSMC fundou a Banda Sinfônica do Exército, criada em 2002, e foi seu regente titular e diretor artístico-musical. Julio Medaglia, maestro, arranjador, compositor, e apresentador do programa Prelúdio, da TV Cultura, que conviveu com Juarez, diz que o trabalho dele em Campinas foi um dos mais importantes do Brasil. "Primeiro por conta da qualidade dos músicos e do trabalho de criar uma sonoridade compacta e bastante aveludada. De longe a gente identifica a Orquestra Sinfônica de Campinas. Segundo, porque fez um trabalho de animação cultural que foi exemplo para o Brasil inteiro. Nenhuma outra orquestra foi tão provocadora e ousada como o que ele fez em Campinas nesses 25 anos, com esses músicos maravilhosos", afirma. Segundo ele, durante a direção de Juarez, nenhuma outra orquestra executava e gravava tantas músicas brasileiras como a de Campinas. "Ele gravou compositores importantes de todos os segmentos, com uma qualidade fora do comum. Todos os compositores brasileiros recebiam encomendas para comporem obras para serem executadas e gravadas pela orquestra de Campinas", diz. "Ele prestou um serviço gigantesco. Cada concerto dele tinha alguma provocação, por isso estavam sempre lotados. Sempre muito inovador", opina. O maestro diz que os melhores concertos que fez foram com a orquestra campineira, convidado por Juarez. "Ligava pra ele propunha as coisas e ele sempre topava tudo. Trabalhei muito com ele. Era um vulcão cultural”, complementa Medaglia. O apresentador da TV Cultura afirma que Juarez colocou Campinas no mapa do Brasil nesse setor cultural. "Só existiam grandes orquestras no eixo Rio-São Paulo naquela época. A de Campinas era a única excelente fora desse eixo. Tudo por responsabilidade dele, com músicos maravilhosos. E a orquestra de Campinas era a mais importante do Brasil do ponto de vista de provocação cultural", conclui. O prefeito Jonas Donizette (PSB) informou com profundo pesar, o falecimento do maestro Benito Juarez. Em razão de sua morte, Jonas decretou luto oficial de três dias em Campinas. "Meus sentimentos à família, amigos e aos milhares de admiradores", diz o prefeito. O velório do maestro está ocorrendo em Itapecerica da Serra, Região Metropolitana de São Paulo, e o corpo será cremado hoje. (Com Jornal da Unicamp) PRINCIPAIS PRÊMIOS RECEBIDOS PELA SINFÔNICA E MAESTRO 1973: Recebe o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como melhor regente. 1975: Recebe o Grande Prêmio da Crítica (pela APCA) pelo trabalho desenvolvido junto ao Coralusp e Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. 1995: A Sinfônica realiza a abertura da primeira edição do Encontro de Cultura Brasileira 1997: Recebe o Prêmio Qualidade Brasil – Sudeste Paulista. 2008: Recebe o prêmio Melhor Projeto Musical Erudito de 2008

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