são joão

Sanfoneiros de Campinas dão o tom das celebrações juninas

Clara Tomie Rodriguez quanto Leandro Serizo foram tocados pela sanfona

Aline Guevara
23/06/2022 às 20:49.
Atualizado em 24/06/2022 às 08:40
Clara Tomie Rodriguez faz até sete apresentações por fim de semana (Ethno Índia / Divulgação)

Clara Tomie Rodriguez faz até sete apresentações por fim de semana (Ethno Índia / Divulgação)

Tanto Clara Tomie Rodriguez quanto Leandro Serizo foram tocados pela sanfona. O instrumento está longe de ser popular como o violão ou o piano, mas eles lembram que a paixão foi arrebatadora. "Na primeira vez que eu coloquei uma sanfona no colo, esquecida em casa pelo meu amigo, eu me apaixonei", lembra Clara. Hoje sanfoneiros, os dois compartilham sua música em bares, casas de shows e, especialmente, nas festas juninas. O período é especial e lota a agenda de ambos: nas celebrações, os acordes característicos são fundamentais para manter a alegria da festividade. "A sanfona é a princesa da festa, que dá a trilha sonora", aponta a sanfoneira.

Clara começou a tocar em 2013, quando ainda tentava encontrar o seu instrumento dentro da música. Passou por vários até chegar na sanfona e achar definitivamente seu lugar com o forró. "Ele representa uma cultura e herança nordestina. É uma afirmação identitária do nordestino que migrou para o sul. Muitas das letras das músicas que tocamos trazem essa exaltação de raiz, em contraste com o preconceito que os migrantes sofriam e ainda sofrem", conta a sanfoneira, que também é aluna e pesquisadora na Faculdade de Música na Unicamp. 

Luiz Gonzaga e Dominguinhos 

O forró e seus subgêneros, o baião, o xote, a quadrilha e o arrasta-pé, foram alguns dos ritmos que profissionalizaram Leandro como músico. Ele lembra que aprendeu a tocar a sanfona com Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Desde então, as festas juninas são muito presentes na sua vida como músico. "As festas juninas potencializam esse poder da sanfona de colocar todo mundo para dançar, interagir e festejar. Elas também abrem esse espaço para aproximação e troca. Ainda mais depois de dois anos sem elas, as pessoas estão querendo muito essa animação", avisa Leandro, que já tem sentido esse clima nos eventos onde tocou.

O sanfoneiro compartilha que uma de suas conexões com o instrumento vem de suas raízes na periferia, no interior de Minas Gerais e da Bahia. "Eu relaciono com a trajetória da minha família. O forró carrega um contexto social ligado à pobreza, da simplicidade, mas dentro de um lugar de resistência", reforça o músico, que conecta estes significados a muitos dos eventos e festas que promovem o som da sanfona.

Natal do meio do ano

Fora do São João, as sanfonas de Clara e Leandro continuam a tocar. Os eventos se tornam mais específicos para quem gosta de forró, mas permite experimentações e outros ritmos. Clara foge um pouco de Luiz Gonzaga para adentrar no reggae e na música clássica. Já Leandro mantém o interesse em desenvolver sonoridades dentro da paixão musical que o levou para a sanfona: a música cigana dos Balcãs, que também é foco de suas pesquisas na Faculdade de Música da Unicamp. Mas os sanfoneiros ressaltam que é no período junino que sua música atinge um público muito mais diverso e pronto para festejar.

Para Clara, a festa junina representa trabalho. Ela chega a tocar sete vezes em um único fim de semana. Mas esclarece que a energia e a alegria da festividade, mesmo assim, permanecem. "Por mais que eu esteja lá executando a mesma quadrilha que já toquei um milhão de vezes, sei a importância de tocar para o povo dançar. Eu gravei um álbum que chama 'Fé na Festa', porque é assim que eu vejo, como um ritual, um momento para sonhar e comemorar. O São João é o Natal do meio do ano", brinca a sanfoneira, enquanto se prepara para mais um fim de semana repleto de música e celebração junina.

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