ESTREIA

Robert Redford dirige e estrela o longa 'Sem Proteção'

Filme sobre a militância norte-americana mostra uma América oculta: direção eficiente, mas sem ousar

João Nunes
24/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:46
Cena do filme 'Sem Proteção', com direção e atuação de Robert Redford. (Divulgação)

Cena do filme 'Sem Proteção', com direção e atuação de Robert Redford. (Divulgação)

Robert Redford tem algumas incursões na direção (até ganhou Oscar com Gente como a Gente, 1980), sem nunca se notabilizar no ofício. É simples entender a razão se observarmos o novo trabalho dele, 'Sem Proteção' (The Company you Keep, Estados Unidos, 2013), que estreia nesta sexta-feira (24) em Campinas: direção eficiente sem nunca ousar e narrativa tradicional e, apesar de apreciarmos a história, nunca ficamos fascinados por ela.

Há um tema interessante como mote: as perigosas relações de militantes norte-americanos nos anos 1960 na luta contra a guerra do Vietnã — aqui se trata do grupo terrorista Weather Underground que, 30 anos antes, assaltou banco e assassinou um guarda.

Começa quando o FBI prende Sharon (Susan Sarandon), ex-integrante do grupo, em Albany (Nova York). Razão para o editor do jornal local Sun Times falar sobre a decadência do jornalismo, pois este não deu a notícia. E tempo de o jovem repórter Ben Harper (o sempre eficiente Shia LaBeouf) demonstrar que a profissão ainda tem relevância.

O tema político gera bons momentos, mas o repórter que vira detetive não oferece nada de novo. E como crer que o rapaz descobre algo bombástico sem que o FBI nunca tenha sabido? Há descompasso entre o tema principal e a discussão sobre o jornalismo.

Se o filme nos faz conhecer o pouco divulgado ativismo político nos EUA, também ficamos sabendo dos problemas do jornalismo que, ainda assim, respira e sem ajuda de aparelhos. Mas, convenhamos, jornalista que apura bem a notícia anda em falta, porém não precisa ser detetive.

A prisão de Susan é ponto de partida para a história de Jim Grant (Robert Redford), advogado que vive com a filha de 11 anos. Trinta anos antes, ele era ativista. Quando o repórter o procura para saber a razão de ter se negado a defender Susan, ele se torna fugitivo.

A seguir, veremos uma corrida para descobrir a real história envolvendo antigos membros do grupo e acompanharemos Jim no reencontro com eles através do país. O FBI persegue Jim e o jornalista; este precisa apenas do Google e de pesquisas em bibliotecas — cenas comuns em filmes desse tipo — para descobrir a verdade.

É possível se envolver com a história, pois são relatos humanos que têm a discussão sobre jornalismo e ativismo político como cenário. Quem envelheceu e quem continua relevante? Perdemos as utopias ou nos tornamos adultos, como diz Jim a certa altura? E o jornalismo se esqueceu do princípio romântico de contar boas histórias?

Se o conceito político de esquerda e direita foi enterrado, talvez restem as utopias comportamentais: conservadores e progressistas em lados opostos se posicionando sobre o comportamento nos dias de hoje. Quanto ao jornalismo, ele está em crise, mas não há como avaliar o futuro imediato da profissão. O mundo passa por revolução grandiosa desde o advento da internet e talvez nada seja substituído, mas transformado.

Sem Proteção traz tais questões à tona, mas não se sabe a eficiência do debate que ele suscita, pois elas estão nas entrelinhas. Importa, de fato, o suspense gerado pelo drama.

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