O ano é 1183- o rei Henrique II, da Inglaterra, convoca os três filhos e a rainha Eleanor para comemorar o Natal. O convidado especial é outro monarca
Camila dos Anjos e Regina Duarte em cena: frases cortantes no convívio intempestivo da realeza inglesa (Divulgação)
O ano é 1183 - o rei Henrique II, da Inglaterra, convoca os três filhos e a rainha Eleanor para comemorar o Natal. O convidado especial é outro monarca, o jovem Felipe II, da França. Mais que os festejos religiosos, todos estão juntos, na verdade, em torno de um único interesse: quem será escolhido como sucessor de Henrique? "Segue-se uma disputa sem limites, em que ninguém respeita o outro ao preparar artimanhas para sair vencedor", comenta o encenador Ulysses Cruz, diretor da montagem, que retrata sem piedade esse peculiar momento da monarquia inglesa. O espetáculo estreou na sexta-feira no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, e fica em cartaz até 29 de julho. A montagem inicia temporada na mesma época em que a sucessão real continua em alta, com o casamento do príncipe Harry com a plebeia Meghan Markle, ontem. Escrita em 1966 pelo americano James Goldman, a peça chegou ao cinema dois anos depois. Apesar de baseada em fatos históricos, a trama é fictícia - não houve, por exemplo, o encontro da família real para festejar o Natal em 1183. Mesmo assim, a disputa pelo poder é retratada por diálogos arrepiantes "Em muitos momentos, essa família fracionada me fez lembrar os personagens de Nelson Rodrigues, que sabia como poucos mostrar uma intimidade conturbada", observa Caio Paduan, que vive Ricardo, o filho mais velho, o futuro "Coração de Leão". Ele é o preferido da mãe, a rainha Eleanor (Regina Duarte), para ser o novo rei. Henrique (Leopoldo Pacheco), no entanto, prefere o caçula, João, que depois ficou conhecido como "Sem Terra" (Filipe Bragança), para sucedê-lo. Nessa disputa, o filho do meio, Geoffrey (Michel Waisman), sem apoio algum, oscila entre os irmãos, interessado apenas em obter as maiores vantagens, qualquer que seja o escolhido para ocupar o trono. Nesse território minado, aparecem ainda a princesa Alais (Camila dos Anjos), amante de Henrique, e o rei da França, Felipe II (Sidney Santiago), com quem Ricardo manteve um suposto relacionamento na juventude. "Especificamente na relação entre Henrique e Eleanor, marcada por amor e ódio, percebo algo de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, peça de Edward Albee", comenta Regina Duarte. De fato, a relação marital oscila consideravelmente. Irritado com as tentativas de a mulher tentar tirar-lhe do poder, Henrique enclausurou Eleanor em uma torre, onde ficou durante 15 anos e de onde só saía em datas festivas. O texto é recheado de frases cortantes, que exemplificam a relação intempestiva. Um exemplo: questionado sobre como está a mulher, Henrique, que a trata como a nova Medusa, dispara: "Se deteriorando, espero". A rainha não fica atrás: quando perguntam a ela sobre a turbulência familiar, ela responde: "Temos o dom para odiar". "Na verdade, Henrique tem um imenso prazer em fomentar a anarquia em sua família", acredita Leopoldo Pacheco. "Apesar de apaixonado por Eleanor, ele a deixa presa e também faz tudo para que nenhum dos filhos se case com Alais, que é sua amante." Ulysses Cruz se inspirou em uma montagem na Inglaterra e a transformou em um espetáculo próximo dos brasileiros, como um ensaio teatral. Os atores não apenas vestem figurinos casuais, evitando os trajes típicos do passado, como até carregam o roteiro, lendo as frases em determinadas cenas. A iluminação de Caetano Vilela reforça o tom operístico da disputa familiar. AGENDE-SE O quê: O Leão no Inverno Quando: Até 29/7, 6ª e sábado às 21h; domingo às 19h Onde: Teatro Porto Seguro (Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo, fone: 11 3226-7300) Quanto: de R$ 50,00 a R$ 80,00 (à venda na bilheteria de terça a sábado das 13h às 21h e domingo das 12h às 19. Pela internet no site: http://www.tudus.com.br)