O produtor artístico Fabricio Bizu, de Campinas, defende que nem só de passado vive o movimento cultural que já conquista novas gerações
"A gente tem uma identidade que aconteceu no espírito de época, que não tinha internet" (Kamá Ribeiro)
Quando se fala em psicodelia, é impossível não se lembrar imediatamente do Festival Woodstock, em 1969, nos Estados Unidos, das músicas de Jimi Hendrix, e aqui no Brasil de Secos & Molhados. "Na verdade, é muito mais do que isso e o nosso País tem identidade própria nesse movimento, que inclui música, artes e literatura e engloba diversos artistas famosos e também pouco conhecidos!" É o que defende o produtor artístico, Fabricio Bizu, de 43 anos, de Campinas.
Apaixonado por tudo o que envolve a psicodelia brasileira, ele é um defensor e guardião da história de todas as vertentes desse movimento que se originou na década de 1960. É também um influenciador digital que faz questão de mostrar que nem só de saudosismo vive a psicodelia. "Não é puramente nostalgia. O pessoal da época está transferindo um legado para os mais jovens. Eu, na faixa dos 40 anos, estou pegando isso com quem tem por volta de 70 anos e atingindo quem está na faixa de 20", afirma.
Nessa toada de unir passado, presente e futuro, Fabricio não se aquieta. Um de seus mais recentes projetos é o lançamento de uma reedição do disco de vinil "Terreno Baldio", da banda homônima, formada na capital paulista na década de 1970 apostando em um estilo de rock, que hoje é classificado como progressivo. "É uma reedição do disco lançado em 1976, com um trabalho artístico de capa do brasileiro Beny Tchaikovsky, já falecido, e encarte com pinturas psicodélicas, com o selo Psico BR", explica. Segundo ele, há um grande simbolismo nesse trabalho, uma vez que o nome da banda e sua música queriam mostrar a possibilidade de um grito de liberdade em um espaço livre da repressão política da época. "É possível até fazer um paralelo daquela situação com a pandemia. Além disso, o conteúdo emocional nas apresentações que ocorrem até hoje se torna uma espécie de catarse coletiva", diz.
A força do Brasil
Surrealismo, arte visionária e imagens fantásticas são elementos sempre presentes em tudo que envolve a psicodelia. E o vinil "Terreno Baldio" não é o único item representativo. "Já fiz outros discos anteriormente com cartazes de arte psicodélica brasileira, retratando a época de 1970, quando aconteceram movimentos da juventude mundial, como o Woodstock, simultaneamente aos promovidos aqui no Brasil ao longo daquela década, mas ficaram para trás por conta da força do marketing dos Estados Unidos", afirma.
Para mostrar que o Brasil tem identidade própria, ele revela que a ideia é reproduzir cartazes de eventos que foram realizados aqui para provar que esse movimento de música e arte que houve no Brasil foi simultâneo ao do mundo. "Não é algo importado e copiado", destaca.
"A gente tem uma identidade que aconteceu no espírito de época, que não tinha internet. Tenho cartazes do artista Antonio Peticov sobre um festival de música aberta livre que ocorreu em 1967, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O Festival de Monterey foi simultâneo. Como explicar que copiamos algo em 1967?", provoca.
Para exaltar uma história brasileira pouco conhecida, Fabricio participa de eventos, debates e palestras sobre o movimento psicodélico e se dedica a movimentar grupos na internet para mostrar que "o ecossistema é diferente, não é uma cultura industrializada", diz. Em seu apartamento em Campinas, ele não cruza os braços e isso indica que muito mais vem por aí.