Projeto cultural resgata memórias do curso de Artes Cênicas da Unicamp

“dascenicas.com.br” é o nome do site que está sendo construído como um arquivo de memórias – resgatando fotos, vídeos e relatos – de 15 anos de histórias do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas muito além do ambiente acadêmico, essa iniciativa resgata a importância do trabalho realizado desde a década de 1970, em um barracão que reunia professores que vinham de diferentes vertentes de palcos e onde eram formados atores que repercutiram no teatro nacional, com uma formação prática e o resgate dos valores culturais brasileiros. O trabalho será colocado no ar em março, aberto à visitação, em um site produzido por cinco ex-alunos do Departamento que viveram aquele momento. 

"Diferente de outros cursos universitários de teatro que olhavam para a Europa e discutiam formas de linguagens texto-centradas, naquele grupo o objeto da pesquisa era a arte do Brasil, com suas músicas, danças, diversidades culturais, sincretismos religiosos, dramaturgias e seu povo", explica a coordenadora do projeto e diretora de teatro Neyde Veneziano.

O projeto tem apoio do PROAC (Programa de Ação Cultural) 2021 e reúne mais de mil fotos do período de 1985 a 2000 que irão ilustrar o acervo, revelando a importância do Departamento de Artes Cênicas para todos os que passaram por lá, assim como seu significado para o teatro brasileiro ao formar atores e artistas por meio de estudos e práticas.

Parte importante dessa história vem sendo documentada no projeto de memórias que pode ser visto no Instagram @almanacdrops, realizado por cinco ex-alunos que pretendem transformar o arquivo em site e que poderá, futuramente, até virar livro. 

"Organizar o site foi uma consequência desse encontro, gerando um trabalho árduo, intenso, criativo e merecedor de aplausos. Os ex-alunos coletaram e mapearam as memórias afetivas e os aprendizados, transformando-os em matéria-prima para o dascenicas.com.br. Estamos relembrando e registrando a história, mas usando canais modernos e digitais", explica Neyde. Nessa primeira etapa, se envolveram diretamente com a produção, roteiros, levantamento de material e entrevistas as ex-alunas Ana Célia Padovan, Carla Hossri, Daniele Pimenta, João André Garboggini e Mônica Sucupira.

HISTÓRIAS DO “PEQUENO OLIMPO”

O conceito do projeto surgiu durante o primeiro ano de pandemia, quando ex-alunos, professores e ex-professores do Departamento de Artes Cênicas se juntaram virtualmente em um grupo no WhatsApp. Eles lembram que o ano era 1985 quando, oficialmente, foi fundado o Departamento de Artes Cênicas da Unicamp. Mas a história começou bem antes, na década de 1970, quando um grupo de artistas, comandado pelo diretor de teatro Celso Nunes, iniciou o curso de Artes Cênicas em um barracão. O local, pela efervescência cultural constante, era apelidado de “Pequeno Olimpo”, lembram os professores da época. “No local aconteciam discussões, ensaios, leituras e peças de teatro, que deram origem à formação de alguns dos principais atores, diretores, dramaturgos, pesquisadores e professores do país”, conta Neyde. 

Hoje, o barracão não existe mais, foi demolido para dar espaço para outras obras. Mas o grupo conseguiu coletar fotos, temas de aulas, espetáculos, grupos e temporadas, produções feitas naquele período. Já os depoimentos e entrevistas dos primeiros professores contam detalhes da construção do Departamento, enquanto os relatos de ex-alunos apontam eventos peculiares em suas passagens pelo curso. Para os coordenadores do projeto, o resgate histórico do Departamento possibilita ampliar a importância de práticas e do pensamento de personalidades como Celso Nunes, Marcio Aurelio, Luís Otávio Burnier, Paulo Betti, Neyde Veneziano, Adilson Barros, Waterloo Gregório, Wanderley Martins, Regina Braga, Maria Lucia Candeias, Sara Lopes, Marcio Tadeu, Marcilia Rosário, Helô Cardoso, Reinaldo Santiago, Paulo Vieira, entre outros, que formaram muitos artistas. 

Neyde Veneziano foi professora na USP e, depois, veio para a Unicamp, onde se aposentou em 1999. Ela relembra que, “na época, o curso era ministrado por artistas, não por professores com carreira acadêmica. Todos saíram do teatro e vieram até com pouca experiência didática, mas com muita vivência artística. Bem mais tarde é que foram abertos os concursos, se transformando em uma formação mais acadêmica”.

Ela afirma que é importante resgatar a história desse período porque ele foi diferenciado, os alunos se envolviam, eram vibrantes, trabalhavam a performance, criavam projetos e o resultado foram os muitos grupos de teatro que nasceram naquele nicho. O foco, ressalta, era olhar para o passado popular, o teatro de rua, a cultura brasileira.

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