CRÍTICA

Produção grandiosa, filme superficial

Assim é Círculo de Fogo, de Guillermo del Toro, em cartaz nos cinemas da região

João Nunes
10/08/2013 às 14:19.
Atualizado em 25/04/2022 às 05:51
Imagem do cartaz de divulgação de 'Círculo de Fogo', de Guillermo Del Toro: orçado em US$ 200 milhões (Divulgação)

Imagem do cartaz de divulgação de 'Círculo de Fogo', de Guillermo Del Toro: orçado em US$ 200 milhões (Divulgação)

É impossível ficar indiferente à produção deslumbrante de Círculo de Fogo (Pacific Rim, Estados Unidos, 2013), do mexicano Guillermo del Toro, assim como seus monstruosos — com o perdão do trocadilho — efeitos especiais. Os de sempre. Com o dinheiro investido por Hollywood, era o mínimo a se esperar. O diretor, como se sabe, tem no currículo, entre outros, os incensados A Espinha do Diabo (2001) e O Labirinto do Fauno (2006). Neste, figuras disformes e apavorantes davam significado ao contexto histórico em que se situa, ou seja, a Espanha dominada pela ditadura franquista.Em Círculo de Fogo, estamos bem distantes da essência daquele notável trabalho de Del Toro, pois se trata de blockbuster com todos os riscos que a tarefa representa. Sim, há simbologias. Como na belíssima cena em que a japonesa Mako (Rinko Kikuchi) retorna ao passado e vê um monstro destruir a família dela. A sequência da garotinha fugindo (a melhor; vale o filme) remete à bomba de Hiroshima (ou experiência similar), mesmo que a citação não seja explícita.Porém, a superficialidade que se vê no conjunto está proporcionalmente desconectada, no sentido emocional, de sequência tão dramática e forte. Afinal, Círculo de Fogo reúne imensidão de clichês — sabemos que eles são onipresentes, mas, aqui, os produtores apontaram para muitos alvos a fim de acertar em alguns. O resultado é um filme longo, barulhento, com insuportável trilha sonora banal e personagens sem carisma dentro de roteiro óbvio.Um dos males do nosso tempo, a filosofia do politicamente correto, é usada não apenas para fazer média (chefão negro, mocinha japonesa), mas com o intuito de agradar a gregos e troianos, asiáticos e americanos, europeus e brasileiros. E se o objetivo é não desagradar nenhuma etnia ou tribo, por que não demonizar um alien?Sim, entendemos que toda uma cultura japonesa e seus monstros trash estão devidamente citados e incorporados ao conceito buscado pelo diretor (a história é de Travis Beacham, que escreveu o roteiro com Del Toro). Curiosamente, o monstro foi concebido para meter medo, mas os aliens desse tipo de produção estão cada vez maiores e menos assustadores. Para piorar, temos a impressão que os vimos em um punhado de outros filmes — até quando rosnam são iguais.Mocinhos com defeitos e segredos inconfessáveis estão presentes até na novela das nove. Mas no filme, ele é Raleigh (Charlie Hunnam), loiro bonito, perfeito representante da América, ilibado e cultor dos princípios nobres americanos, como coragem, determinação, lealdade etc. Como teve o irmão destroçado pelo monstro, irá vingá-lo.Entre as muitas citações de produções do gênero (precisa de dados científicos para referendar a seriedade da história, depois prescindirá da alta tecnologia porque a salvação virá do anacrônico), chama a atenção o fato de o monstro habitar as profundezas do Pacífico — daí o título original, algo como às margens do Pacífico.E, para chegar lá, os heróis necessitam fazer uma tal neuroconexão, ideia semelhante ao que se viu em Matrix (Irmãos Wachowski, 1999) e Avatar (James Cameron, 2009) — e até em A Origem (Christopher Nolan, 2010). Assim, a percepção de que estamos diante de algo pouco original é tão evidente que fica difícil justificá-lo.Círculo de Fogo narra a história de criaturas monstruosas, conhecidas como Kaiju, que entram em luta contra os humanos. Para combatê-los, a humanidade desenvolve robôs gigantescos, os Jaegers, controlados por duas pessoas através da neuroconexão. Mas os Jaegers se mostram insuficientes para derrotá-los. A última esperança é um robô obsoleto, que será comandado pelo antigo piloto Raleigh e pela treinadora Mako.Guillermo del Toro é cineasta competente, de personalidade e com domínio sobre o que faz. Compreende-se que os fãs do trabalho dele e das referências usadas apreciem Círculo de Fogo. Porém, não dá para encontrar no filme o que ele não tem.

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