E O OSCAR VAI PARA...

Premiação do cinema acontece neste domingo em Los Angeles

Acontece neste domingo, 24, em Los Angeles, nos EUA a 85ª edição do prêmio mais badalado do cinema

João Nunes
24/02/2013 às 16:54.
Atualizado em 26/04/2022 às 03:23
Estátuas que representam o Oscar cobertas com plástico em tenda em frente ao Dolby Theatre, onde será realizada a premiação  (AFP)

Estátuas que representam o Oscar cobertas com plástico em tenda em frente ao Dolby Theatre, onde será realizada a premiação (AFP)

Se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tivesse indicado Ben Affleck para diretor, ele estaria neste momento dando os últimos retoques no discurso de agradecimento pelo Oscar de Argo na premiação na 85ª cerimônia do Oscar, que acontece neste domingo, 24, a partir das 22h (horário de Brasília), em Los Angeles.

Ainda assim, Argo, com sete indicações, tornou-se favorito na disputa que tem Lincoln (Steve Spielberg), com doze, como principal adversário. O fillme de Affleck conquistou o Globo de Ouro, o Bafta (o Oscar inglês) e o Producers Guild of America (PGA), organização que dá as cartas em Holywood — nos últimos cinco anos, todas as escolhas do sindicato ganharam o Oscar.

E ainda tem a seu favor o fato de ser o que melhor expressa o espírito do herói norte-americano entre os quatro filmes de conteúdo político dos nove em disputa. Argo narra como uma falsa equipe de cinema resgata seis americanos na embaixada do Canadá, no Irã, em 1979, em plena revolução islâmica. Heroísmo exacerbado e sem autocrítica.

Diferente dos outros três, em especial Lincoln — o concorrente direto. Este conta o episódio da votação da lei que aprovou o fim da escravidão nos Estados Unidos, em 1865, e tem como protagonista o mais incensado presidente do país, Abraham Lincoln. Só que foi uma guerra suja. O presidente usou a velha máxima atribuída aos jesuítas de que os fins justificam os meios e comprou congressistas para poder aprovar a lei — uma mancha do currículo do presidente mais amado da América.

A Hora mais Escura, de Kathryn Bigelow, com cinco indicações e praticamente fora da premiação, fala dos procedimentos que culminaram com o assassinato de Osama Bin Laden, em 2011, e revela o uso da tortura por agentes americanos para arrancar confissão de prisioneiros. Custou caro a denúncia, pois gerou antipatia entre políticos dos Estados Unidos — o que praticamente lhe tirou a chance de levar a estatueta.

Por fim, Django Livre, de Quentin Tarantino, com seis indicações, também sofreu perseguição. Entrou no meio do redemoinho da discussão sobre armas depois do tiroteio ocorrido em Connecticut em que morreram 28 crianças, e jogou com o politicamente incorreto ao colocar um negro (Jamie Foxx) se vingando dos brancos em pleno período da escravidão.

O certo é que o conteúdo político dará as cartas na cerimônia, mas, sabemos, a Academia, patrocinadora do show, costuma ser conservadora. Tarantino e Bigelow serão meros coadjuvantes, assim como Michael Haneke e seu doloroso Amor. Haneke, no entanto, não sairá de mãos vazias, pois praticamente se garantirá na categoria filme estrangeiro. E o simpático e exuberante As Aventuras de Pi (Ang Lee), com onze indicações, deverá se contentar com prêmios técnicos.

Além de Amor, várias outras categorias estão praticamente garantidas na premiação do 85ª Oscar. Daniel Day-Lewis levará seu terceiro Oscar, desta vez pela impressionante performance como Lincoln. A bola da vez Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) também parece ser favas contadas como atriz (ainda que Emmanuelle Rivas esteja infinitamente melhor em Amor), assim como Anne Hathaway (Os Miseráveis) ganhará seu prêmio de coadjuvante — mesmo não tendo feito nada muito especial.

Não dá para imaginar Christoph Waltz (Django Livre) sem seu segundo Oscar, mas a batalha, aqui, parece bem mais complexa. Se Argo for o ganhador, seu único ator indicado, o coadjuvante Alan Arkin pode vencer o alemão para dar suporte à vitória do filme de Affleck.

Da mesma forma, o roteiro de Quentin Tarantino, em condições normais, superaria qualquer um da lista, mas ele tampouco tem o prêmio assegurado. Uma pena. Como se sabe, o Oscar nem sempre está interessado no melhor. Razões industriais são mais importantes que a qualidade. Se entrarmos no terreno político, o cenário fica ainda mais complicado.

Mesmo com todas estas contradições, o Oscar não se tornou o prêmio mais famoso do cinema mundial por acaso. Há fãs e detratores, além de injustiças. Porém, não se pode esquecer: Oscar é um prêmio da indústria americana de cinema. Poderia ser de sabonete. É de cinema.

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