COMEÇA O PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO

Prefeitura de Paulínia inicia processo de concessão de uso do Theatro Municipal Paulo Gracindo

A Prefeitura de Paulínia iniciou, com audiência pública realizada no dia 29/01, o processo de concessão de uso do Theatro Municipal Paulo Gracindo

Cibele Vieira e Aline Guevara/ cadernoc@rac.com.br
02/02/2024 às 09:12.
Atualizado em 02/02/2024 às 09:12

A Prefeitura de Paulínia iniciou, com audiência pública realizada no dia 29/01, o processo de concessão de uso do Theatro Municipal Paulo Gracindo (Rodrigo Zanotto)

Ele já nasceu grandioso. Na arquitetura, na infraestrutura, na capacidade de público, na abrangência de atividades. Inaugurado em 2008, teve 12 anos de atividades e foi desativado em 2020. Agora, o Teatro Municipal Paulo Gracindo, de Paulínia, volta à cena com um processo de concessão apresentado em audiência pública realizada na última segunda-feira, dia 29 de janeiro. A expectativa é que o edital seja publicado em março, mas a data ainda não foi confirmada oficialmente pelo secretário de Esportes, Cultura e Turismo, Alexandre Fávaro Corrêa, que após a audiência se negou a comentar o assunto. Grupos de artistas locais aguardam o edital e se organizam para questionar formalmente aspectos técnicos e jurídicos da Concessão.

A proposta de concessão feita pela Prefeitura Municipal encontra resistência por parte de pessoas ligadas à área cultural e que entendem a privatização como um processo que irá elitizar o teatro, diminuir o acesso às artes e cultura para a população de menor renda, permitir o uso seletivo do espaço e escolha de produções de acordo com a possibilidade de lucro, com prejuízo para os artistas locais. "É papel do poder público garantir a pluralidade artística e o acesso do público, por isso não se privatiza a cultura", afirma o produtor cultural Benê Silva, que já atuou como diretor artístico do Teatro Municipal Manoel Lyra, em Santa Bárbara Doeste (1996-2001), do Teatro Iguatemi (2013-2016) e atuou também na área teatral em Paulínia desde 1993, inclusive como diretor do Departamento de Teatro até 2012.

Na apresentação feita durante a audiência realizada com a presença de aproximadamente 30 pessoas no auditório Carlos Tontoli do Paço Municipal - a proposta da Prefeitura é "delegar a terceiros para investir (adequar, ampliar e reformar) e explorar, por sua conta e risco, se remunerando com a exploração". A concessão, segundo a apresentação feita no evento, abrange a reforma e manutenção da edificação, das áreas verdes do entorno e a administração, operação e exploração do teatro e estacionamento, inclusive com permissão para realização de eventos ao ar livre no entorno do teatro. O prazo de concessão é de 20 anos (prorrogável por igual período) e a estimativa de investimentos em obras de restauração é de aproximadamente R$ 4,7 milhões.

OUSADIA E DESCASO

A obra projetada pelo arquiteto Ismael Solé foi considerada uma das mais ousadas e com melhor infraestrutura do interior paulista, com 1389 lugares, custou R$ 53 milhões e foi construída em dois anos (2007-2008). Fechado desde a pandemia, o prédio exibe hoje sinais externos de abandono, vandalismo e destruição. Artistas locais comentam que a parte interna sofreu furtos de fios e cabos, há danos nos camarins e em outras instalações. E funcionários que já trabalharam no local, comentaram recentemente (2022) em entrevista ao Correio Popular, que há outros problemas envolvidos, como documentação desatualizada, dívidas de energia elétrica e impostos municipais atrasados.

O produtor cultural Benê Silva comenta que "o desmanche cultural vem acontecendo na cidade há anos, e entregar o teatro para a iniciativa privada é jogar uma pá de cal na cultura, é um prejuízo que impacta toda a região". Ele diz que na audiência pública não foi apresentado um detalhamento dos danos do teatro e indaga as razões que deixaram o imóvel chegar a essa situação de abandono, já que o fundo de cultura do município recebe um percentual do ISS arrecadado. Benê criticou ainda a entrega de um bem público à iniciativa privada sem nenhum estudo de impacto, nem informações sobre exigências de contrapartidas, fiscalização e outras.

UM LOCAL DE REFERÊNCIA

Inaugurado em 4 de julho de 2008 com show de Maria Rita e a exibição do documentário "O Mistério do Samba", de Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda, o Theatro Municipal de Paulínia chegou à cidade causando impacto. Foi "batizado" por Fernanda Montenegro, pois, com ele, também era lançado o I Festival Paulínia de Cinema, grande promessa para impulsionar o cenário cinematográfico realizado pelo Pólo de Cinema da cidade.

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura na época, o projeto adotou o padrão do Dolby Theatre, em Los Angeles, onde a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood realiza sua cerimônia de entrega do Oscar. O espaço foi projetado para ser multiuso, dando lugar para espetáculos de música erudita, artes cênicas e sessões de cinema. Local único na região, virou símbolo cultural. O teatro conseguia receber apresentações grandiosas graças a uma parruda estrutura acústica e cenográfica que permitia mudanças de cenário.

Localizado na Av. José Lozano Araújo nº 1551 no Parque Brasil 500, próximo ao Paço Municipal, o teatro está localizado em área total de 42,4 mil m², sendo 4,3 mil m² de construção com pavimento de 10,8 mil m², e outros 27,3 mil m² de jardins e calçadas. A audiência pública realizada para ouvir a população sobre a proposta de Concessão durou mais de três horas, foi gravada e está disponível no youtube.com/ prefeituradepauliniasp.

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