Espetáculo traz para os palcos vários questionamentos do filósofo Baruch Spinoza que valem ainda para os dias atuais
Espetáculo terá duas apresentações gratuitas nesta quinta-feira, às 15h e às 19h, no Teatro Padre Anchieta, em Campinas; peça conta com trilha sonora executada ao vivo (Ronaldo Gutierrez)
O filósofo holandês Baruch de Spinoza era um homem que estava incomodado com a realidade à sua volta. Ele não entendia, por exemplo, porque as mulheres não tinham os mesmos direitos destinados aos homens, ou porque as pessoas aceitavam de forma tão submissa dogmas religiosos sem questionar. São reflexões válidas para 2024, mas que o estudioso fazia na Europa do século XVII. O espetáculo "O Deus de Spinoza" mergulha nas indagações que fizeram o filósofo ser perseguido,traçando um paralelo com os dias atuais.
A peça, cuja estreia foi em agosto de 2022, já fez três temporadas em São Paulo e chega gratuitamente em Campinas para as duas únicas apresentações nesta quinta (dia 1˚) no Espaço Cultural Maria Monteiro. Contemplado pelo Proac, o espetáculo faz sua primeira apresentação na cidade antes de seguir para outros municípios do interior do estado. Para assegurar um lugar nas duas sessões, basta chegar com uma hora de antecedência.
VELHOS TEMPOS, MESMOS PROBLEMAS
O texto de estreia é de Régis de Oliveira, um jurista e desembargador que há anos se dedica ao estudo de filosofia. "Através do pensamento do filósofo, podemos reconhecer muitos comportamentos de nossa sociedade atual, com suas superstições, crenças ou mistérios. E podemos notar como os donos do poder sabem manipular as multidões através do medo e da imposição do sistema", conta o escritor.
Na peça ele faz um recorte da vida de Spinoza, desde sua condenação em 1656, até a sua morte em 1677. Para o diretor da peça, também responsável pela adaptação do texto de Régis, uma das características mais convidativas para a filosofia de Spinoza é justamente essa atualidade de seus argumentos. "Apesar de nascer em 1632, o seu pensamento libertário é muito avançado para a época. É avançado para hoje também", analisa Luiz Amorim.
Diferente do que poderia parecer pela temática, "O Deus de Spinoza" é uma peça bem-humorada e de linguagem acessível, visando um público a partir de 12 anos. Luiz lembra que a peça foi encenada com sucesso para grupos de adolescentes em idade escolar. "A gente quer, de uma maneira popular, mostrar que essas ideias não são só para estudiosos, especialistas, intelectuais. E além de falar de ideias, a peça é sobre um ser humano que pensava diferente e que foi punido por isso.
QUESTIONAMENTO E PUNIÇÃO
A peça narra parte dos eventos da vida de Spinoza, esclarecendo para a plateia que após questionar as instituições, igreja e Estado, o filósofo passa a ser pressionado e perseguido. "O Spinoza, na peça, questiona de forma engraçada, mas forte os rabinos que tentam impedir suas ideias. 'Então quer dizer que não pode pensar', ele diz. E os rabinos replicam: 'mas a gente já pensou por você, estamos aqui para isso. Não precisa ter esse trabalho'", detalha Luiz, rindo.
O diretor explica que a expressão que nomeia a peça, "o Deus de Spinoza", foi criada por Einstein. "Quando perguntado se ele acreditava em Deus, o Einstein disse que sim, mas no Deus de Spinoza. Este é um conceito sobre natureza, cosmos, sobre aquilo que nos afeta." Um dos objetivos da peça é trazer o exemplo de Spinoza para incentivar a continuidade do pensamento crítico, dos questionamentos, e mostrar que esse é um tipo de conteúdo para todas as pessoas.
MÚSICA AO VIVO
A peça, de 80 minutos de duração, conta com uma trilha composta por músicas sefarditas do século XVII executadas ao vivo por Marcus Veríssimo, Margot Lohn, Lucas Bisparo e Lisi Andrade, no comando do violão, da guitarra, do baixo, do violino e do sopro - os instrumentos também são ferramentas cênicas.
O elenco é formado por Bruno Perillo, Norival Rizzo, David Kullock, Luiz Amorim e Roberto Borenstein, além do figurino de João Pimenta, cenografia de Evas Carretero e desenho de luz de Cesar Pivetti.
PROGRAME-SE
Peça "O Deus de Spinoza"
Quando: quinta, às 15h e às 19h
Onde: Teatro Padre Anchieta no Espaço Cultural Maria Monteiro - R. Dom Gilberto Pereira Lopes, s/nº, Vila Padre Anchieta
Entrada gratuita (é preciso chegar com uma hora de antecedência)
Informações: Instagram @odeusdespinoza
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