O violonista, cantor e compositor vive uma ativa agenda de shows e uma obra que cria elos entre o samba, o Carnaval e o choro
Muito cobrado por novidades, Paulinho tem novas composições que vêm sendo lançadas aos poucos (Divulgação)
Suave nos gestos e nas palavras, Paulinho transita sem pressa na passagem para os 80 anos. O aniversário é neste sábado (12), mas o carioca lançou ontem no Rio de Janeiro o show de comemoração pela nova idade. Paulo César Baptista Faria integra a segunda geração de ouro da música brasileira, dos nascidos em 1942, que tiveram a infância e adolescência marcada pelo rádio em casa. Cresceu em ambiente musical e, sem saudosismo, se adaptou a muitas mudanças na música e no mundo. Mas como pai de sete filhos e avô de sete netos (passou por três casamentos), às vezes declara que nem sempre consegue acompanhar as transformações, pois segue num ritmo sem pressa.
Sua mãe, Paula, era enfermeira e gostava de cantarolar sambas. O pai, Benedicto César Ramos de Faria, era violonista do conjunto da Rádio Ipanema. Foi nos ensaios familiares do grupo, que Paulinho conheceu Jacob do Bandolim e Pixinguinha, entre outros músicos que se reuniam para fazer choro e eventualmente cantar valsas e sambas de diferentes épocas. Ele aprendeu os primeiros acordes musicais com o zelador do prédio onde a família morava. Aos 20 anos, depois de tocar em bares e saraus, chegou a Portela (onde é baluarte hoje) e foi das mãos de Cartola que recebeu, pela primeira vez, um cachê.
O samba mudou o rumo de sua carreira. Sua composição mais famosa "Foi um rio que passou em minha vida" fez tanto sucesso em 1970 que o obrigou a ter um empresário e uma banda. Ao longo daquela década, gravou em média um disco por ano e ganhou diversos prêmios. Antes, embora conhecido dos festivais, costumava se apresentar sozinho ao violão ou com outros instrumentistas. Em 1974, seu pai entrou para o conjunto. Hoje, o violonista é João Rabello, um de seus quatro filhos com Lila Rabello. Gravou 22 discos entre 1968 e 2020, além de ter participado da gravação de outros seis, com outros artistas. Em 2021, venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba com "Sempre se pode sonhar".
Sua música é considerada fruto de encontros e fusões, entre dois fenômenos culturais vistos como antagônicos: a estética e sofisticação da classe média da zona sul do Rio de Janeiro dos anos 1950/1960 e a vibração dos subúrbios cariocas. Um traço comum do artista é compor nas formas de sambas, choros e experimentações, mas sempre em busca de novas formas. Ele gosta de ler e de ouvir música - muitas, de diferentes estilos - tanto que possui cerca de seis mil discos e tem comentado que espera que os filhos e netos cuidem desse patrimônio.
Recentemente, declarou que não pensa muito na idade, assegurando que seu tempo é hoje, como expressa o título do filme de Izabel Jaguaribe, no qual ele foi entrevistado por Zuenir Ventura. O documentário "Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje" será exibido hoje, às 14h, no Canal Brasil. O filme mostra sua biografia, influências, mestres e amigos, assim como seu modo de vida simples e peculiar, com atividades como restaurar carros antigos, marcenaria e jogar sinuca.
Novidades e homenagens
Muito cobrado por novidades, Paulinho tem novas composições que vêm sendo lançadas aos poucos. Durante a pandemia se reconectou ao violão e compôs seis músicas instrumentais e finalizou alguns choros que estavam na gaveta. Dois chegaram às plataformas digitais em julho, no terceiro álbum do violonista João Camarero. E em novembro foi lançado "Ouvindo Paulinho da Viola", álbum do flautista e saxofonista Mário Sève, que acompanha o cantor em shows desde 1976. Também está nas plataformas (e em CD) "Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola". O pianista Bastos é parceiro desde o início da década de 1970 e Senise, flautista e saxofonista, é um antigo admirador da obra do sambista.
Vinte anos após ter se lançado no mercado fonográfico com o Grupo Semente no álbum duplo "A música de Paulinho da Viola" (2002), a cantora Teresa Cristina volta ao repertório do compositor carioca em show que estreou no início deste mês no Rio de Janeiro, com o título "Paulinho 80 + 20", previsto para chegar a São Paulo na próxima semana. Na Spotify Brasil também foi incluída a playlist "Atemporais" com as regravações de Criolo e Emicida em homenagem aos 80 anos do príncipe do samba.
Em 1996, Paulino da Viola esteve em Campinas, no Ginásio da Unicamp, apresentando o show "As Margens do Rio", acompanhado pela Velha Guarda da Portela e com as participações especiais de Radamés Gnatalli e Quinteto e Elton Medeiros