sem pressa

Paulinho da Viola completa 80 anos neste sábado

O violonista, cantor e compositor vive uma ativa agenda de shows e uma obra que cria elos entre o samba, o Carnaval e o choro

Cibele Vieira/ [email protected]
12/11/2022 às 10:01.
Atualizado em 12/11/2022 às 10:01
Muito cobrado por novidades, Paulinho tem novas composições que vêm sendo lançadas aos poucos (Divulgação)

Muito cobrado por novidades, Paulinho tem novas composições que vêm sendo lançadas aos poucos (Divulgação)

Suave nos gestos e nas palavras, Paulinho transita sem pressa na passagem para os 80 anos. O aniversário é neste sábado (12), mas o carioca lançou ontem no Rio de Janeiro o show de comemoração pela nova idade. Paulo César Baptista Faria integra a segunda geração de ouro da música brasileira, dos nascidos em 1942, que tiveram a infância e adolescência marcada pelo rádio em casa. Cresceu em ambiente musical e, sem saudosismo, se adaptou a muitas mudanças na música e no mundo. Mas como pai de sete filhos e avô de sete netos (passou por três casamentos), às vezes declara que nem sempre consegue acompanhar as transformações, pois segue num ritmo sem pressa.

Sua mãe, Paula, era enfermeira e gostava de cantarolar sambas. O pai, Benedicto César Ramos de Faria, era violonista do conjunto da Rádio Ipanema. Foi nos ensaios familiares do grupo, que Paulinho conheceu Jacob do Bandolim e Pixinguinha, entre outros músicos que se reuniam para fazer choro e eventualmente cantar valsas e sambas de diferentes épocas. Ele aprendeu os primeiros acordes musicais com o zelador do prédio onde a família morava. Aos 20 anos, depois de tocar em bares e saraus, chegou a Portela (onde é baluarte hoje) e foi das mãos de Cartola que recebeu, pela primeira vez, um cachê.

O samba mudou o rumo de sua carreira. Sua composição mais famosa "Foi um rio que passou em minha vida" fez tanto sucesso em 1970 que o obrigou a ter um empresário e uma banda. Ao longo daquela década, gravou em média um disco por ano e ganhou diversos prêmios. Antes, embora conhecido dos festivais, costumava se apresentar sozinho ao violão ou com outros instrumentistas. Em 1974, seu pai entrou para o conjunto. Hoje, o violonista é João Rabello, um de seus quatro filhos com Lila Rabello. Gravou 22 discos entre 1968 e 2020, além de ter participado da gravação de outros seis, com outros artistas. Em 2021, venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba com "Sempre se pode sonhar".

Sua música é considerada fruto de encontros e fusões, entre dois fenômenos culturais vistos como antagônicos: a estética e sofisticação da classe média da zona sul do Rio de Janeiro dos anos 1950/1960 e a vibração dos subúrbios cariocas. Um traço comum do artista é compor nas formas de sambas, choros e experimentações, mas sempre em busca de novas formas. Ele gosta de ler e de ouvir música - muitas, de diferentes estilos - tanto que possui cerca de seis mil discos e tem comentado que espera que os filhos e netos cuidem desse patrimônio.

Recentemente, declarou que não pensa muito na idade, assegurando que seu tempo é hoje, como expressa o título do filme de Izabel Jaguaribe, no qual ele foi entrevistado por Zuenir Ventura. O documentário "Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje" será exibido hoje, às 14h, no Canal Brasil. O filme mostra sua biografia, influências, mestres e amigos, assim como seu modo de vida simples e peculiar, com atividades como restaurar carros antigos, marcenaria e jogar sinuca.

Novidades e homenagens

Muito cobrado por novidades, Paulinho tem novas composições que vêm sendo lançadas aos poucos. Durante a pandemia se reconectou ao violão e compôs seis músicas instrumentais e finalizou alguns choros que estavam na gaveta. Dois chegaram às plataformas digitais em julho, no terceiro álbum do violonista João Camarero. E em novembro foi lançado "Ouvindo Paulinho da Viola", álbum do flautista e saxofonista Mário Sève, que acompanha o cantor em shows desde 1976. Também está nas plataformas (e em CD) "Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola". O pianista Bastos é parceiro desde o início da década de 1970 e Senise, flautista e saxofonista, é um antigo admirador da obra do sambista.

Vinte anos após ter se lançado no mercado fonográfico com o Grupo Semente no álbum duplo "A música de Paulinho da Viola" (2002), a cantora Teresa Cristina volta ao repertório do compositor carioca em show que estreou no início deste mês no Rio de Janeiro, com o título "Paulinho 80 + 20", previsto para chegar a São Paulo na próxima semana. Na Spotify Brasil também foi incluída a playlist "Atemporais" com as regravações de Criolo e Emicida em homenagem aos 80 anos do príncipe do samba.

Em 1996, Paulino da Viola esteve em Campinas, no Ginásio da Unicamp, apresentando o show "As Margens do Rio", acompanhado pela Velha Guarda da Portela e com as participações especiais de Radamés Gnatalli e Quinteto e Elton Medeiros

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