INAGURAÇÃO

Patrimônio arquitetônico, história que resiste

‘Inaugurada hoje no Museu da Cidade, exposição resgata as construções consideradas ‘joias raras’ de Campinas e seguirá com entrada gratuita até o próximo dia 28

Mariana Camba/[email protected]
04/07/2025 às 13:30.
Atualizado em 04/07/2025 às 13:31
A história de Campinas, com suas construções antigas — algumas ainda preservadas —, está registrada em fotos na exposição da Casa de Vidro (Acervo MIS)

A história de Campinas, com suas construções antigas — algumas ainda preservadas —, está registrada em fotos na exposição da Casa de Vidro (Acervo MIS)

A história das cidades – contada pela arquitetura, identidade e passado que suas construções carregam – está retratada na exposição “Tesouros de São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto” que será aberta hoje (dia 4), às 15h*, no Museu da Cidade. Nessa mostra, será possível relembrar – e até desvendar – as “joias raras” de Campinas que, no dia a dia, passam despercebidas pela maioria das pessoas. É uma iniciativa que mapeia o patrimônio arquitetônico dos três municípios e revela as construções de valor único que resistiram ao tempo.

Durante a visita, o público receberá mapas de bolso, com as plantas de Campinas nos anos de 1878, 1900 e 1929. Nas ruas e avenidas, há a indicação dos tesouros que permanecem no município e os que foram perdidos, mas que contam com a preservação documental. Nos mapas, há um cronograma das construções arquitetônicas de cada período.

A exibição é fruto do projeto de pesquisa “Arqueologia da Paisagem”, que teve início em 2022, realizado pela professora da Faculdade de Arquitetura da USP, Beatriz Piccolotto Cirqueira Bueno, e a arquiteta e aluna de pós-doutorado da Faculdade de Arquitetura da USP, Maria Rita Silveira de Paula Amoroso. Mais de 50 imagens de registros arquitetônicos de Campinas compõem a mostra – são parte do acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS). A parte da mostra com foco em Campinas também é retratada no livro digital de mesmo nome, disponível para consulta no site da Prefeitura.

Segundo Maria de Paula Amoroso, Campinas nasceu a partir de uma parada de repouso de tropeiros, durante suas viagens em direção a Goiás. O município surge da união de três “pontos de parada”, sendo o primeiro nas imediações da Casa Grande e Tulha, localizadas na Chácara Proença, o segundo próximo ao Viaduto do Laurão e o terceiro no Largo Santa Cruz, próximo da Avenida Anchieta.

A arquiteta ressaltou que, no trajeto, é possível identificar construções esquecidas, com fragmentos da história campineira. Um dos destaques é a matriz velha “Basílica do Carmo”, inaugurada em 1781, que posteriormente deu lugar à igreja do Rosário, demolida devido às obras de ampliação das Avenidas Campos Sales e Francisco Glicério.

O Colégio Culto à Ciência também é uma importante obra da cidade, ressaltou, fundada em 1874 e com projeto elaborado pelo engenheiro Guilherme Krug. A arquitetura da escola, que foi berço de nomes importantes como Santos Dumont, é caracterizada pela junção dos estilos eclético e neoclássico, como símbolo de mais de um século de história.

Outro destaque é o Mercado Municipal de Campinas, resultado do projeto de Ramos de Azevedo, composto por um estilo eclético com elemento mouriscos, de estilo árabe, com inauguração em 1908. Para a arquiteta, a obra revela traços únicos da dinâmica da cidade na época e que, com o passar dos anos, foi se moldando às necessidades do município.

A Catedral Metropolitana de Campinas é uma das construções protagonistas da exposição, por preservar o estilo neoclássico mesclado ao rococó, cuja fachada de tijolos foi terminada por Ramos de Azevedo. Com fundação em 1883, a construção é considerada a maior Catedral de taipa no Brasil.

Na mesma época, também houve a inauguração do Solar do Barão de Itapura – prédio que presidiu as atividades da PUCCampinas e foi tombado como patrimônio histórico e cultural pelo Estado e município na década de 1980. O imóvel – que configura um palacete – foi construído para abrigar a família do barão Joaquim Policarpo de Souza Aranha, com uma arquitetura única por ser remanescente de um dos períodos mais significativos da moradia urbana na história de Campinas. A obra é um símbolo da aristocracia que emergia na época, resultado da economia cafeeira.

A arquiteta chamou a atenção para a antiga “Escola do Povo”, que atualmente é uma casa localizada entre o Corpo de Bombeiros e o MIS – na Rua José Paulino. O tesouro arquitetônico escondido foi projetado por Ferreira Penteado no século 19 e destinado ao ensino de pessoas que, na época, não tinham condições financeiras para os estudos. Hoje, a residência permanece de portas fechadas.

A mostra é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Cultura e Turismo, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepacc) e a Universidade de São Paulo (USP).

ARQUITETURA DA PERDA

Maria de Paula Barroso ressaltou como a história demanda a manutenção de seus símbolos arquitetônicos, para que a população possa reconhecer sua identidade e ter conhecimento da sua origem. Ao não preservar tais construções, acrescentou, há o risco de perder o sentimento de pertencimento ao município. “Quando isso não acontece, as construções são derrubadas com facilidade, porque não há um apego àquele legado de representatividade histórica.”

Ao analisar Campinas, a arquiteta disse ser possível identificar as transformações pelas quais a cidade passou. Entre os “tesouros arquitetônicos” mantidos nas três cidades evidenciadas na exposição, São Paulo é a que mais manteve as construções históricas. Para Maria, quanto mais a arquitetura da perda cresce, mais o município perde sua identidade e os símbolos materiais de seu desenvolvimento.

PROGRAME-SE

Exposição ‘Tesouros de São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto’

Quando: A partir de hoje (dia 4), às 15h, até 28 de julho.

De terça a sexta-feira, das 10h às 12h e das 14h às 17h, e aos sábados, das 10h às 14h.

Onde: Museu da Cidade – Casa de Vidro – Avenida Doutor Heitor Penteado, 2.145, Taquaral.

Entrada gratuita

Informações: (19) 3733-7556

*Ao contrário do que foi divulgado no portal da Prefeitura de Campinas e na edição de hoje do Correio, a abertura da exposição “Tesouros de São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto” será hoje às 15 horas – e não às 19h – no Museu da Cidade – Casa de Vidro. No evento, haverá um bate-papo sobre o tema, resgatando as construções consideradas “joias raras” de Campinas.

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