exposição 100+1 spirits

Para lembrar o mestre Will Eisner

Se estivesse vivo, o gênio dos quadrinhos Will Eisner, criador do personagem The Spirit na década de 1940, completaria 100 anos em 2017

Delma Medeiros
delma@rac.com,br
04/05/2018 às 08:33.
Atualizado em 28/04/2022 às 07:40
Reproduções de capas de The Spirit feitas por cartunistas brasileiros inspiradas no gênio das HQs. (Leandro Ferreira)

Reproduções de capas de The Spirit feitas por cartunistas brasileiros inspiradas no gênio das HQs. (Leandro Ferreira)

Se estivesse vivo, o gênio dos quadrinhos Will Eisner, criador do personagem The Spirit na década de 1940, completaria 100 anos em 2017. Com o objetivo de homenagear o mestre, o ilustrador gaúcho Vilmar Rossi Junior organizou uma homenagem virtual no ano passado na qual tentou reunir 100 ilustradores que recriassem capas do principal personagem de Eisner, The Spirit. Apesar de ter a adesão de dezenas de cartunistas – de novatos a veteranos como Maurício de Sousa – o tempo foi curto e faltou um pouco para totalizar a centena. Agora, um ano depois, a exposição 100+1 Spirits ganha versão real e mais que completa na Biblioteca Municipal Professor Ernesto Manuel Zink, de Campinas.  “Completamos as capas que faltavam com professores e alunos da Pandora Escola de Arte e mais alguns convidados ilustres e, como se passou mais um ano, tivemos a ideia do 100+1. O mais um, no caso, foi o jornalista Djota Carvalho, que entrevistou Will Eisner para o jornal Correio Popular em 1996”, conta o filósofo e cartunista Márcio José Andrade da Silva, que faz a curadoria da exposição ao lado de Bira Dantas, cartunista e professor da Pandora. “A exposição original do Valmir foi muito interessante, pois trouxe a tona nomes de artistas que eram pouco conhecidos. Tanto naquelas capas quanto nas novas que coletamos para a 100+1 Spirits, mantivemos a mesma linha: cada cartunista convidado escolheu uma capa de uma revista do Spirit e fez uma releitura com o próprio traço ou até mesmo usando seus personagens ”, diz Bira, que também é o responsável pela arte do cartaz de divulgação e uma das capas. Maurício de Sousa, por exemplo, transformou Cebolinha em Spirit e Mônica na vilã P´Gell. “Eisner foi um mestre e de uma humildade tocante. Quando fiz a entrevista ele estava na faixa dos 80 anos e não ouvia direito, mas foi atencioso, gentil, quando não entendia a pergunta, pedia para repetir. Foi uma grande experiência”, coloca Djota. O cartunista destaca que além de influenciar os quadrinhos na forma, Spirit também era inovador em seu conteúdo: um detetive que usava máscara, mas não tinha super-poderes, em cujas histórias o personagem principal era o comportamento humano, explica Djota. “Spirit, por vezes, sequer aparecia na HQ a não ser nos últimos quadrinhos, para fazer um comentário sarcástico/filosófico que resumia o espírito humano. Eisner dizia que ele representava o espírito da época, por isso o nome”, completa. "É importante dizer que não fiz o Spirit para se transformar em super-herói. No Spirit, o que realmente contava era o espírito das pessoas na época e eu estava mais interessado em histórias curtas", afirmava o autor. Sobre a entrevista, ela foi feita por telefone com o cartunista pouco antes de sua vinda ao Brasil para o lançamento de sua autobiografia No Coração da Tormenta, em 1996. “Pelo que sei esta foi a única entrevista que ele deu para um jornal de Campinas. Mas gostava muito dos quadrinistas brasileiros, era fã do Ziraldo e do Maurício de Souza, tinha um assistente brasileiro”, relembra Djota. Tempos depois, Djota criou o Só Dando Gizada, tiras que desenhou por cerca de dez anos no Caderno C e nos projetos do Correio Escola, por isso usou os personagens da tira em sua capa. “Quando entrevistei Will Eisner há mais de 20 anos, ele notou que eu adorava quadrinhos e na conversa acabei falando que desenhava um pouco. Humilde como ele só, Eisner se ofereceu para ver meu desenho e me dar umas dicas e eu, obviamente, nunca mandei nada para ele, por um misto de vergonha e porque na mesma entrevista ele havia me dito que não tinha tempo para ler tanta coisa que recebia, cerca de 40 revistas por semana. O engraçado é que agora, quase 13 anos depois da morte dele, Eisner me ensinou: reproduzindo a capa dele descobri noções de uso de cores quentes e frias para ilustrar luz e sombra sobre as quais nunca tinha atentado antes”, aponta. DJota, que também noticiou a morte de Eisner no Correio em janeiro de 2005 e o relançamento do personagem pelas mãos de Darwyn Cooke em 2006, vai abrir a exposição hoje ao lado do jornalista e pesquisador de HQs João Antonio Buher. Segundo Suze Elias, responsável pela rede de quadrinhos da Biblioteca, a mostra vai ocupar o antigo salão de pesquisa e a sala de leitura da Biblioteca. Além das 100+1 capas, estarão expostas fotos do acervo pessoal de Maurício de Souza com Eisner, a reprodução da matéria publicada no Correio Popular, entre outras curiosidades. QUEM FOI WILL EISNER? Will Eisner é conhecido como o homem que mudou os conceitos da chamada nona arte e o personagem Spirit, por sua vez, foi inúmeras vezes descrito como “o Cidadão Kane das HQs”. O artista deu contribuições profundas à arte do desenho, estático ou animado. Nascido em 17 de março de 1917 em Nova York, filho de imigrantes judeus, William Erwin Eisner se interessou por quadrinhos ainda menino. Vendia jornais em Wall Street e, sempre que podia, parava o trabalho para ler as tiras dos hoje clássicos Popeye, Krazy Kat, Steve Canyon, Flash Gordon e Jim das Selvas. Em 1936, aos 18 anos, publicou suas primeiras histórias na revista WOW (Harry Karry e The Flame), e, um ano depois, fundou a própria empresa de quadrinhos tendo como sócio o editor da WOW, Jerry Igger. O primeiro personagem de sucesso veio em 1937: Sheena, a Rainha das Selvas, uma versão feminina e loira de Tarzan que publicava sob o pseudônimo de William Thomas. Foi em 1940, porém, que Will Eisner começou a se tornar conhecido internacionalmente com aquele que se tornou sua maior criação: The Spirit. O personagem revolucionou os quadrinhos na forma e no conteúdo. Em seus desenhos, Eisner utilizou conceitos até então inéditos nas HQs: fusões, cortes, ângulos insólitos e uso de sombras. Era um mestre do branco e preto, criando noções de profundidade e claro e escuro com maestria. "Eisner é o melhor. Ele ainda é o melhor de todos nós", declarou Frank Miller, autor cultuado pela série Sin City justamente pela utilização de preto e branco que faz nos desenhos e que, claro, é inspirada por Eisner. AGENDE-SE O quê: Exposição 100+1 Spirits, em homenagem a Will Eisner Quando: Hoje, às 19h. Até 31/5, de segunda a sexta, das 9h às 17h Onde: Biblioteca Municipal professor Ernesto Manuel Zink (Av. Benjamin Constant, 1.633, Centro, fone: 2116-0423) Quanto: Entrada franca

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