Família circense de Campinas conta como Orlando Orfei, morto domingo (2), mudou essa forma de arte
A família Brede: o neto Allan, o filho Alex, a mãe Marion e a nora, Cláudia, na Cia do Circo de Campinas: contato próximo com o mestre Orlando ( Elcio Alves)
A magia do circo e as lembranças de uma época de ouro ao lado do veterano Orlando Orfei, um dos maiores nomes do circo mundial, vão permanecer vivas na memória de Marion Brede, de 66 anos. A fama, a admiração e o respeito que tinha dos colegas foram conquistados por Orfei graças ao talento e à paixão pelo circo. Ele morreu no último fim de semana, aos 95 anos em Duque de Caxias, onde estava internado desde o dia 18 de julho por causa de uma pneumonia. Seu corpo foi enterrado ontem no cemitério de Mesquita, na Baixada Fluminense.A humildade também foi ingrediente fundamental, segundo Marion, que veio da Itália com Orfei em 1968. Marion começou trabalhar com o artista e empresário aos 16 anos e recorda-se como se fosse hoje do Festival Mundial do Circo, em Milão, quando surgiu o convite de um brasileiro para que a trupe se apresentasse na América Latina: no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e no Ibirapuera, em São Paulo. Os superespetáculos encantaram o público que jamais havia presenciado apresentações como as de então. “Foi um sucesso total nessa época. Aqui não tinha grandes circos. Viemos com um superespetáculo. Era algo jamais visto. Só na orquestra havia 48 pessoas. O espetáculo tinha duração de três horas: com cavalos, elefantes, leões, tinha de tudo, fora as grandes atrações acrobáticas”, conta Marion, que era trapezista e equilibrista. Nascida em uma família de artistas (atualmente na 8ª geração), ela se apresentava ao lado do pai, que fazia o doble trapézio. Nos primeiros anos no Brasil, o público chegava a 20 mil pessoas, segundo Marion, e as pessoas chegavam a sentar no picadeiro. “Era algo inédito para o Brasil. Era uma época de ouro. O público chovia. O Orlando Orfei pôs o circo na América Latina lá em cima”, conta. Por diversas vezes o circo veio para Campinas. Marion lembra-se que a primeira apresentação foi realizada nas proximidades do Viaduto Cury. As demais ocorreram na Lagoa do Taquaral. “A primeira vez foi perto do Viaduto Cury, próximo da Maternidade, há 40 anos. Depois, voltamos várias vezes.” Os anos foram passando e a trupe foi ficando no Brasil. E foi no circo do Orfei, quando os artistas se apresentavam em Santo André, em 1971, que nasceu o filho de Marion, Alex Brede, também artista de circo. “Fiquei grávida e trabalhei até os sete meses, quando a barriga apareceu. Parei durante três meses e quando o meu filho nasceu voltei a trabalhar.” Alex Brede, filho de Marion, não apenas nasceu como aprendeu os primeiros passos da arte circense no circo de Orfei. Mais que isso, conheceu a sua mulher, a artista Cláudia Orteney, graças ao circo. “Nasci no Circo Tihany. Nossas famílias se encontraram, começamos a namorar, casamos e voltamos para o Orlando Orfei. Ficamos lá até uns dez anos atrás, quando o circo fechou”, conta Cláudia. Marion saiu do circo de Orfei e fundou a Escola de Circo Cia do Circo de Campinas, atualmente dirigida por Cláudia e Alex. “Orfei foi um ícone na parte de locução, como apresentador e domador. Tinha uma alma do circo. Tudo isso transmitia para o público. A sua maneira de falar encantava a plateia. As pessoas paravam para escutar ele onde estivesse, no rádio, na TV. Tinha uma magia incrível. O aprendizado com ele foi grande”, acrescentou Brede.RespeitoMarion lembra do respeito com que Orfei tratava os funcionários. “Ele como dono era um homem fantástico. Era um homem de circo e entendia de tudo. Tinha o maior respeito desde o maior artista até o empregado que armava o circo ou cuidava do picadeiro. Era uma pessoa muito humilde”. Lembra também da sua relação com os grandes animais e felinos. “Na Itália, quando estávamos em Roma, ele fazia dublê para o cinema. Aquelas lutas com leões, com tigres, em filmes de Roma, ele que fazia, não era o ator. Os animais eram como cachorros para ele. Andava com leão pela cidade inteira em cima de um jeep solto. Era um ídolo”, completou.