Festival de Veneza é o primeiro de grandes proporções a retomar edição presencial
Festival de Veneza: todos têm que usar máscaras o tempo inteiro, inclusive nas sessões e tapete vermelho (Divulgação)
Num ano em que o cinema ficou praticamente paralisado, com salas fechadas, produção parada e festivais como Cannes cancelados, Veneza quer enviar ao mundo um sinal de otimismo e solidariedade com a indústria. "É hora de reabrir porque não podemos nos permitir ficar confinados durante muito tempo", disse à agência EFE (serviço de notícias internacional criado em 1939 na Espanha) Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza, o primeiro de grandes proporções a retomar uma edição presencial - outros, como Locarno, ocorreram de forma virtual, enquanto Toronto, que começa dia 10, vai ser ao vivo apenas para o público da cidade. Como prova de que a união faz a força, a abertura do 77º Festival de Veneza na última quarta-feira, contou com a presença de diretores de outros sete festivais de cinema europeus: Cannes, Berlim, Locarno, San Sebastián, Roterdã, Karlovy Vary e Londres. O evento prossegue até o dia 12 de setembro. "Acreditamos que é possível", afirmou Barbera à EFE. "Esperamos que o festival possa se converter numa espécie de laboratório. Que sirva como exemplo para outros, que seja a demonstração de que, se forem respeitados protocolos, é possível voltar ao cinema e a fazer filmes." Claro que não vai ser o mesmo Festival de Veneza dos últimos anos. Não haverá a chegada - de barco! - de astros como Brad Pitt, Scarlett Johansson e Joaquin Phoenix, que, no ano passado, saiu do Lido de Veneza, a ilha onde é realizado o evento, consagrado com o Leão de Ouro por Coringa para ganhar o Oscar de melhor ator. Os grandes filmes de Hollywood, que usaram o festival como uma plataforma para suas campanhas pelas estatuetas douradas, não estão presentes na seleção, até porque seus lançamentos estão indefinidos. Outros simplesmente não ficaram prontos devido às medidas de confinamento. Os longas americanos presentes têm uma pinta mais independente, caso de Nomadland, de Chloé Zhao (de Domando o Destino), estrelado por Frances McDormand, e One Night in Miami, estreia na direção da atriz Regina King. Devido às restrições de viagem entre Estados Unidos e Europa, a presença das equipes será apenas virtual. Há poucos latino-americanos também, segundo Barbera, por uma redução nas inscrições. New Order, do mexicano Michel Franco, é o único na disputa do Leão de Ouro. Dez dos 18 longas da competição são dirigidos por europeus. Apenas dois são americanos, cinco do continente asiático e uma coprodução Canadá/Hungria. Treze dos 18 cineastas nunca participaram da competição. Um recorde de oito longas dirigidos por mulheres disputam o Leão de Ouro. "Eles foram escolhidos com base somente em sua qualidade e não para seguir protocolos de gênero", escreveu Barbera na introdução da seleção. O diretor foi muitas vezes criticado pela presença pequena de diretoras entre os selecionados. Mas este é o terceiro Festival de Veneza em quatro anos em que o juri é presidido por uma mulher. Depois da atriz americana Annette Bening em 2017 e da cineasta argentina Lucrecia Martel no ano passado, é a vez da atriz australiana Cate Blanchett presidir o juri este ano. A ausência dos grandes filmes e das estrelas de Hollywood afastou parte da imprensa internacional, já desfalcada pelas restrições de viagem - brasileiros, chilenos, macedônios e bósnios estão proibidos de entrar na Itália por qualquer razão, a não ser que sejam residentes. A equipe de Narciso em Férias, documentário sobre a prisão de Caetano Veloso durante a ditadura militar e único brasileiro selecionado fora da competição, vai participar por Zoom. Quem veio de fora da Europa, do Reino Unido e dos países signatários do Tratado de Schengen precisou apresentar um teste negativo 72 horas antes da partida, fazer um teste na chegada e outro cinco dias após. Se algum der positivo, a pessoa tem de ficar de quarentena, por sua conta. Gregos, espanhóis e croatas também precisaram apresentar um teste negativo 72 horas antes da partida. Búlgaros e romenos precisaram cumprir quarentena de 14 dias ao entrar na Itália. Isso deve ter influenciado na substituição de Cristi Puiu pelo ator Matt Dillon no júri - o cineasta romeno também andou reclamando da obrigatoriedade do uso de máscaras no Festival da Transilvânia, algumas semanas atrás. O Festival de Veneza tomou uma série de medidas, com acompanhamento de várias instâncias governamentais. Todos têm de usar máscaras o tempo inteiro, inclusive durante as projeções e no tapete vermelho. O público não pode se aproximar do tapete vermelho nem da saída do palácio do festival. As salas têm sua capacidade reduzida pela metade, com várias sessões dos mesmos filmes. Daí a redução da seleção para um total de 64 produções, sendo apenas 18, em vez das habituais 21, na competição. Todos, inclusive os jornalistas, têm de reservar seus lugares nas salas de exibição. Há controle de temperatura nos pontos de entrada da área do festival, escaneamento de convites e credenciais, e obrigatoriedade de uso de álcool gel. As filas são organizadas para evitar aglomerações, assim como a saída das salas. Restaurantes funcionam sob reserva. Tudo pensado para identificar quem tiver contato com um eventual doente por Covid-19.