MEMÓRIA

Orquestra de Campinas resgata sua história

Família campineira Di Tullio doa acervo do maestro Luiz Di Tullio e do pianista Mário Di Tullio, que retomaram a música orquestral na cidade no início dos anos 1960

Delma Medeiros
19/04/2016 às 20:38.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:58
A partir da esq., Cássia Denise Gonçalves, Lúcia Di Tullio Cristianini, Maria Angela De Tullio Bertuzzo e Sandra Ciocci no Centro de Memória da Unicampr
 (Edu Fortes/AAN)

A partir da esq., Cássia Denise Gonçalves, Lúcia Di Tullio Cristianini, Maria Angela De Tullio Bertuzzo e Sandra Ciocci no Centro de Memória da Unicampr (Edu Fortes/AAN)

Um capítulo importante da história da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) passa a ser recuperado com a doação, pela família campineira Di Tullio, do acervo do maestro Luiz Di Tullio e do pianista Mário Di Tullio — responsáveis por retomar o trabalho da música orquestral em Campinas no início dos anos 1960, após a extinção da orquestra municipal em 1953.  Lúcia Maria Di Tullio Cristianini e Maria Angela De Tullio Bertuzzo (cujo nome foi registrado da forma aportuguesada), respectivamente, filhas de Luiz e Mário, decidiram abrir mão de parte dos legados de seus pais para que a história da Sinfônica e a participação da família em sua criação sejam recuperadas. Para tanto, doaram seus acervos ao Centro de Memória da Unicamp (CMU), que se encarregará de analisar e restaurar a documentação e agregá-la ao material de que já dispõe. “São documentos importantes que vão se somar ao material já disponível e sanar algumas lacunas no histórico da Orquestra. Esses documentos vão ajudar os pesquisadores a montarem a história da Sinfônica”, afirmou a diretora do CMU, Maria Elena Bernardes. “São originais valiosos que retraçam a trajetória da Sinfônica”, reforçou a coordenadora técnica do CMU, Cássia Denise Gonçalves. Entre os documentos estão programas de concertos, recortes de jornais, fotografias, portfólios, estatuto de criação e partituras — uma delas traz, inclusive, a transcrição de um texto de João Di Tullio, pai de Luiz e Mário e regente da orquestra antes de sua extinção em 1953, para um concerto realizado em julho de 1936, em comemoração ao centenário de Carlos Gomes. As primas Lúcia e Angela contam que a atividade da orquestra recomeçou no início dos anos 60, com a criação pelos irmãos Di Tullio da Orquestra de Jovens Violinistas de Campinas, formada por alunos de Luiz. “Com o tempo, eles conseguiram instrumentos de outros naipes e formaram a Orquestra de Concertos João Di Tullio”, afirma Maria Angela. A qualidade da orquestra encantou o monsenhor Emílio José Salim, então reitor da então Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), que encampou a ideia. “Surgiu então a Orquestra Universitária da PUCC. Essas formações foram o embrião da Sinfônica de Campinas, criada por decreto do prefeito Rui Novaes em 1966 e efetivada em 1968, sob a regência de meu tio Luiz”, conta Angela. O maestro Luiz Di Tullio esteve à frente da Sinfônica até 1974. Segundo a filha do pianista, a Sinfônica não foi criada ou estruturada em 1974, como se costuma afirmar. “Ela já existia como Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas desde o decreto de Rui Novaes. Em 1974, foi reestruturada, recebeu mais recursos e os músicos foram contratados pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) com carga horária de oito horas por dia. Antes eles recebiam muito pouco, precisavam desenvolver atividades paralelas. Mas dedicavam 4h diárias aos ensaios e estudos musicais.” Lúcia disse que não foi fácil se desfazer do acervo do pai, especialmente pelo valor afetivo. “Tirei xerox de tudo. Doeu um pouco fazer a doação, mas esta é a melhor forma de preservar e tornar público esse material, além de resgatar essa parte da história”, afirmou. “Comecei esse processo de doação em 2009. Entreguei alguns documentos que estavam em minha posse ao Arthur Achilles e ao Parcival Módolo (respectivamente secretário de Cultura e maestro titular na época), mas eles não fizeram nada sobre o assunto. Agora estamos conseguindo reverter essa injustiça histórica”, disse Célio Di Tullio Lopes, sobrinho de Mário e Luiz. Ponte para a doação A intermediação para a doação foi feita pela primeira-dama Sandra Ciocci, procurada pela família para receber os documentos. Em 2014 Sandra já havia doado documentos encontrados pelo jornalista Clóvis Cordeiro e repassados a ela, sobre a criação da Sinfônica em 1929. “As duas primas queriam que eu recebesse os documentos. Me senti muito honrada e feliz por ser escolhida como portadora, mas expliquei que não teria como conservá-los de forma adequada. São documentos que precisam de restauro, arquivo e tratamento específicos. Além disso, para ficarem disponíveis para pesquisadores, têm que estar num local público. Não tem como a história ser conhecida numa coleção ou biblioteca particulares”, explicou Sandra. “Aqui elas têm certeza de como esses documentos serão guardados e cuidados, podem verificar como serão armazenados. É o lugar ideal.” O acervo da família vai se juntar aos documentos sobre a Sinfônica doados ao Centro de Memória por Djalma Campos Pádua em 1996, Jordão Bruno Leonardi (em data desconhecida) e Sandra Ciocci.

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