Com direção de Sam Mendes, 007- Operação Skyfall tem pré-estreia hoje em Campinas
Sai o passado para dar lugar ao presente — futuro, se quiserem. Sai o obsoleto, o velho, o que não funciona mais (não?) para que prevaleça a nova tecnologia (leia-se computador e todas as suas inúmeras extensões). 007 — Operação Skyfall (Skyfall, Estados Unidos, 2012), de Sam Mendes, estabelece uma guerra entre o novo e o velho, mas sabemos que essa guerra não existe em nenhuma área da vida. Existe, sim, uma co-existência tensa, mas o novo e o velho serão sempre complementares.
E é sobre a tensão entre estes dois polos que o filme transita; porém o faz muito mais pelo registro do humor do que uma postulação séria e consequente. As piadas que surgirão desses confrontos estão entre os melhores momentos do novo lançamento da franquia, que sempre uniu o divertimento e o charme - ultimamente, com muita violência.
Charme que começa na abertura que se segue a um prólogo a mil por hora e no qual nosso herói (Daniel Craig) é dado como morto na Turquia. A música de abertura segue o script. A queridinha do momento, Adele, empresta sua linda voz que cai sob medida a uma sensualidade que a série insiste em mostrar — nunca faltam mulheres belas, às vezes fatais —, assim como insiste numa apresentação que está propositadamente a um passo do brega.
Não por acaso, portanto, que, uma vez “morto”, com direito a obituário, James Bond ressurja. A ressurreição é o ponto da tensão entre o antigo e o moderno a fim de mostrar o quanto esse veterano a serviço da Majestade britânica ainda pode ser útil.
Aqui e ali as piadas sobre o assunto aparecerão aos montes, assim como veremos um Bond fragilizado que se agiganta na hora em que é chamado. Tudo de acordo com o figurino estabelecido. Alguém acharia que pudesse ser diferente?
Os produtores e distribuidores solicitaram aos críticos para não anteciparem a história do filme. Claro que ninguém quer fazer o papel de estraga-prazeres, mas não há muito a esconder, uma vez que, para sobreviver, a série se transforma para continuar sendo a mesma.
E que tal brincar o tempo todo de James Bond, com autocitações e autorreferências aos antigos filmes da série como se necessitasse de reafirmação? E não há mal nisto, os fãs adoram — como todo mundo adora entender sobre o que se está falando (não é uma gracinha ele aparecer com um carro antigo ou fazer piada sobre o rádio para o vilão super antenado em tecnologias?).
No final das contas, descontadas as estripulias todas do personagem que nos dão a impressão de que inúmeras coisas estão acontecendo, Operação Skyfall nada mais é que um jogo autofágico: Bond se alimenta de si mesmo para continuar muito vivo.
E tenho a impressão de que os vilões dos filmes chamados pipoca estão cada vez mais meio ridículos. O desta vez, interpretado pelo espanhol Javier Bardem, tem ataques de riso fora de lugar, age com deboche, abusa do espalhafato. Parece criança. Mimada. É um caso perdido, como são casos perdidos os de todos os vilões.
E tem os efeitos especiais, que ficam velhos muito cedo. Em compensação tem uma velha que ficou ainda melhor: Judi Dench, no papel de M, esbanja categoria, é baixinha, mas poderosa e segura de si e do papel que exerce. E tem a moça bonita e simpática e parceira profissional (Helen McCrory) — sensual sem ser fatal.
Escrito por Neal Purvis, Robert Wade e John Logan, Operação Skyfall está longe de ser um grande filme. É divertido, um tanto longo, como sempre previsível, mas tem uma grife incansável. E, OK, ainda com charme, mas nem tão irresistível assim.