CRÍTICA

'Odeio o Dia dos Namorados' tem clichês e velhas piadas

Comédia nacional é protagonizada por Heloísa faz Périssé estreia nesta sexta-feira

João Nunes
07/06/2013 às 15:50.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:57

Você já viu este filme. 'Odeio o Dia dos Namorados', de Roberto Santucci, é verdadeira colcha de retalhos, a começar do título (o mesmo de Nia Vardalos, 2009), passando por uma porção de outros longas-metragens sobre casamento, amor, morte (quantas vezes se escreveu, filmou etc, sobre rever a vida nos segundos que a antecedem?) e nas muitas piadas (ou supostas) clichês, repetição do que se ouve em escritórios, festas, ruas e mesas de bares.

E tem Heloísa Périssé fazendo ela mesma e, de novo, no papel de mocinha ingênua (agora se chama Débora e vive cheia de maus-humores). E, desde a primeira cena, sabemos tudo o que vai acontecer (como nos filmes do gênero). Ou seja, a personagem vai ficar bem-humorada, reencontrará antigo amor (do qual insiste em fugir sem que se saiba muito a razão) e dirá frases de autoajuda próprias de pára-choques de caminhão.

Paulo Cursino escreveu um roteiro cuja intenção parece a de não ser mesmo nem um pouco criativo, mas repetitivo e óbvio, pois o objetivo final é fazer alguns milhões na bilheteria e estamos conversados. Não que seja condenável fazer sucesso — filme é para ser visto, de preferência por milhões —, mas que ninguém acuse o crítico de ser ele o mal-humorado.

Mas há boas notícias. Santucci, fazedor de sucessos como 'De Pernas pro Ar 1' (2010), 'De Pernas pro Ar 2' (2012) e 'Até que a Sorte nos Separe' (2012), neste, achou um caminho bem interessante: elegeu um comediante (Leandro Hassum) como protagonista e colocou molho brasileiro no gênero americano da comédia romântica — aqui, mais comédia que romântica.

Em 'Odeio o Dia dos Namorados' ele força a barra com as situações engraçadas que quase inexistem (entre as poucas exceções está a divertida cena de subalterno de Débora quebrando tudo no escritório) justamente porque as piadas são requentadas. Ou talvez porque tenha faltado um comediante, que Marcelo Saback (com look Nosso Lar kitsch de roupinha branca com detalhe em azul) deveria ser, mas não funciona muito bem.

O foco poderia ter sido mais o lado romântico, pois tudo o que Débora deseja é ter o namorado Heitor (Daniel Boaventura) de volta. Assim, todas as vezes em que se toca no tema romântico (e sério) o filme melhora.

Veja-se o exemplo da sempre apenas esforçada Danielle Winits, que conseguiu realizar um pequeno, mas notável trabalho no papel da namorada ressentida — agradabilíssima surpresa, diga-se. Na mesma medida em que o filme despenca quando procura desesperadamente o humor. Caso do rapper MV Bill que, ao chorar querendo fazer rir, criou cena constrangedora.

Porém, o melhor de tudo: Santucci descobriu que pode fazer um filme redondinho, mesmo citando meio mundo e repetindo situações, imagens etc, sem apelar para o sexo e para a escatologia. Portanto, pode-se assistir a Odeio o Dia dos Namorados sem medo. Não há vulgaridades nem excessos adolescentes — um avanço em se tratando de certo tipo de comédia (romântica) brasileira.

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