literatura

Obra de Guimarães Rosa ganha novo fôlego

A Companhia das Letras anunciou uma edição de luxo do livro com a capa feita artesanalmente por bordadeiras dos coletivos Teia de Aranha e Linha Nove

Estadão Conteúdo
19/02/2019 às 14:14.
Atualizado em 04/04/2022 às 23:55

Por uma divisão entre os herdeiros de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas é negociado separadamente do restante da sua obra. Esse é o motivo pelo qual a Companhia das Letras passa a publicar agora apenas o romance maior do escritor mineiro, publicado originalmente em 1956 e celebrado por sua potência literária como uma das grandes obras de arte do século 20. A editora Global começa em março a publicação do restante dos livros do escritor. O primeiro é Sagarana.A Companhia das Letras anunciou na semana passada uma edição de luxo do livro, limitada a 63 exemplares, com a capa feita artesanalmente por bordadeiras dos coletivos Teia de Aranha e Linha Nove, de São Paulo, e das cidades de Andrequicé, Cordisburgo e Morro da Graça, em Minas. O desenho foi inspirado numa arte de Arthur Bispo do Rosário. Cada uma das edições custava R$ 1.190 - custava porque todos os 63 exemplares já foram vendidos.Dois eventos de lançamento do livro já estão programados, em parceria com o Sesc: em São Paulo, dia 9/4 e em BH, 10/4, com o escritor moçambicano Mia Couto e com leituras de jovens do grupo Contadores de Estórias Miguilim, de Cordisburgo, cidade natal de Guimarães Rosa. A editora prepara ainda o audiolivro de Grande Sertão: Veredas, com lançamento preparado ainda para este ano.A nova edição do livro adotou como referência a segunda edição, da Livraria José Olympio Editora, de agosto de 1958 - até a quinta edição, em 1967, o autor, conhecido pela obsessão pela integridade do texto, não fez mudanças significativas.O trabalho de estabelecimento do texto foi feito por Érico Melo, doutor em literatura brasileira pela USP e pesquisador da obra de Guimarães Rosa. Ele também elaborou uma alentada cronologia de vida e obra."Quis fazer no sentido de que ela completasse as cronologias anteriores, ela fica no limite de uma pequena biografia", explica Melo. "Fiz uma pesquisa nos jornais da época, e também percorri o catálogo eletrônico do IEB de cabo a rabo, são 10 mil itens catalogados do total de 20 mil que estão lá."Segundo a nota sobre a edição, presente no livro, as variantes em que se aplicariam mudanças decorrentes de acordo ortográfico foram analisadas caso a caso. Atualizações óbvias como a acentuação de "êle" e "aquêle" foram admitidas, bem como de palavras como "vôo" e "idéia", que perderam o acento no acordo mais recente. Outras palavras foram restituídas, como "umbùzeiro", com o acento grave obsoleto.Para Érico Melo, a nova edição pode ser uma oportunidade de enfatizar a natureza totalmente oral do romance, por ser um elo de aproximação do leitor com o conteúdo denso do livro. "A dificuldade é real no sentido de que o texto exige leitores preparados. Mas esse lançamento poderia ajudar um pouco a tirar essa carga negativa do Rosa por conta dos aparatos da edição, como cronologia, fortuna crítica, fotografias."Textos de Silviano Santiago, Walnice Nogueira Galvão, Benedito Nunes, Roberto Schwarz, Davi Arrigucci Jr. e uma breve troca de cartas entre Fernando Sabino e Clarice Lispector completam o livro - depois de uma recomendação de Sabino, Clarice começa a ler o livro e responde: "Estou até tola. A linguagem dele, tão perfeita também de entonação, é diretamente entendida pela linguagem íntima da gente - e nesse sentido ele mais que inventou, ele descobriu, ou melhor, inventou a verdade". GRANDE SERTÃO: VEREDASAutor: Guimarães RosaEditora: Companhia das Letras (552 p., R$ 84,90, R$ 44,90 o digital) 25/2 nas lojasAs informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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