CADERNO C

'O vazio na mala' que carrega os horrores do holocausto, estreia em Campinas

A premiada peça — que mostra a trajetória de uma família sobrevivente do nazismo — terá duas semanas de exibição gratuita no Sesi Amoreiras

Cibele Vieira/[email protected]
17/01/2025 às 14:31.
Atualizado em 17/01/2025 às 14:31
 (João Caldas Filho)

(João Caldas Filho)

O Centro Cultural do Sesi Campinas recebe hoje a montagem teatral "O Vazio na Mala", que terá uma curta temporada de seis exibições gratuitas em dois finais de semana na cidade. A obra mescla fatos históricos a uma narrativa ficcional para reconstruir a jornada de uma família que, fugindo das perseguições nazistas, deixou a Alemanha rumo à China, enfrentou os desafios da ocupação japonesa em Xangai (1941) e, depois, migrou para o Brasil, onde recomeçou sua vida. A montagem acaba de ganhar o "Prêmio Bibi Ferreira" — nas categorias de Melhor Dramaturgia Original, Melhor Atriz (Noemi Marinho) e Melhor Peça de Teatro — e foi indicada aos Prêmios Shell e APCA. 

Idealizado pela atriz Dinah Feldman, que também integra o elenco, a peça conta com texto de Nanna de Castro e direção de Kiko Marques, construindo uma ficção atual que desdobra temas universais e atemporais.

No palco, Fábio Herford, Marcelo Varzea e Noemi Marinho interpretam marcas deixadas pela perseguição nazista. Temas universais como os ciclos familiares, a busca por significado e a herança emocional permeiam a narrativa, enquanto a peça convida à reflexão sobre o que resta de uma vida vivida em meio à violência e ao medo. O drama tem 90 minutos e é direcionado ao público adulto (recomendado para maiores de 14 anos). 

No espetáculo, o silêncio é elevado à condição de personagem principal, guardado e vigiado dentro de uma antiga mala. "Este objeto, aparentemente banal, carrega os horrores de um passado que insiste em permanecer oculto. É na busca pelo vazio que habita essa mala que a história ganha vida e revela seus segredos", conta a dramaturga Nanna de Castro. 

Depois de Campinas, "O Vazio na Mala" segue até junho em temporada popular pelo Interior paulista em cidades como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Sorocaba e Itapetininga.

A CONCEPÇÃO DA PEÇA 

A atriz Dinah Feldman conta que idealizou o espetáculo ao tomar conhecimento, por meio do depoimento em vídeo de um primo judeu, dos fatos ocorridos com familiares dele. A base da narrativa, além dessa gravação, foi uma mala de couro surrada vinda da Segunda Guerra, contendo documentos em alemão e chinês, que contam a trajetória e o drama dos Jedwab. A ideia de montar a peça nasceu paralelamente ao trabalho de Dinah no Museu Judaico de São Paulo, onde os documentos estão preservados, e onde ela conviveu por um ano com a mala exposta. "Nas visitas guiadas, contava a história e, falando da mala, fui desenvolvendo o projeto do espetáculo", relata. 

O diretor Kiko Marques comenta que a montagem foi criada a partir de um fato real e chega ao espectador na forma de uma visita aos protagonistas dessa história, um encontro com suas vidas particulares e seus dramas, abordando uma perspectiva mais ampla da trajetória que nasce no holocausto e mergulha nas marcas e repercussões deixadas para as gerações seguintes. Para escrever o texto, a dramaturga Nanna baseou-se também em entrevistas que fez com pessoas da família Jedwab, além de pesquisas em histórias similares no Museu Judaico e leitura de livros sobre o tema. 

DETALHES CUIDADOSOS 

A velha mala de couro — com os segredos e as memórias de uma história de vida — foi o objeto que inspirou e norteou a cenografia de Marcio Medina. Para reproduzir o passado de duas gerações, ele concebeu dois quadrantes espelhados com objetos e mobiliário. O fundo do palco abriga um grande telão de papel — como uma antiga carta — emoldurado com palavras e fragmentos de frases em hebraico e em chinês. Medina explica que as peças retratam o que resta de memória no cérebro e alma da protagonista e servem de superfície para inúmeras projeções de lembranças e fatos passados. 

O universo da música judaica e suas variadas matizes foram o foco da pesquisa de Gregory Slivar, autor da trilha sonora. "As músicas aparecem como traços de memória e ligações entre os recortes de espaço e tempo da peça, um caminho entre o subjetivo dessas personagens, suas buscas por um lugar de pertencimento, a fuga dos traumas e seus ritos de cura", afirma. Já o figurinista João Pimenta criou os figurinos cotidianos para depois encaixá-los na necessidade do espetáculo. Dessa forma, "o elenco ensaiou com as roupas desde o começo, sentindo o personagem e ajustando detalhes", conta. Apenas a cor cinza e suas tonalidades foram usadas. 

Em Campinas, no dia 25 de janeiro, o elenco promoverá uma "Oficina de Produção Teatral", para proporcionar uma vivência prática no âmbito da produção teatral, com foco na resolução de problemas enfrentados no cotidiano teatral. São oferecidas 30 vagas, com inscrições online pelo Meu Sesi. A produção do espetáculo "O Vazio na Mala" é do coletivo artístico Culturas em Movimento. A peça estreou em março de 2024 em São Paulo pelo Edital Sesi Artes Cênicas.

PROGRAME-SE 

Espetáculo teatral ‘O Vazio na Mala’ 

Quando: Estreia hoje, dia 17, às 20 horas. Com reapresentação nos dois finais de semana: sextas (17 e 24) e sábados (18 e 25) às 20h, e domingos (19 e 26) às 19h. A sessão de sábado, dia 25, contará com intérprete de Libras 

Onde: Centro Cultural Sesi Campinas — Av. das Amoreiras, 450, Pq. Itália 

Entrada Gratuita 

Os ingressos devem ser reservados online pelo Meu Sesi ou https://www.sesisp.org.br/ - programação do Sesi Campinas Amoreiras 

Informações: Instagram @ovazionamala @sesisp.campinasamoreiras

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