Aos 83 anos, a dinâmica cantora de rock e soul morreu ontem em sua casa na Suíça, “após longa doença” conforme uma nota oficial, que não divulgou a causa
Tina, nascida Anna Mae Bullock, nos Estados Unidos, se tornou um dos maiores nomes da música mundial (Reprodução/ Instagran)
Ela nasceu Anna Mae Bullock em 26 de novembro de 1939, em Nutbush, uma comunidade do Tennessee, nos Estados Unidos. Começou a investir na carreira musical aos 18 anos, depois de trabalhar na colheita de algodão e como doméstica. Se tornou cantora, dançarina e atriz, inicialmente conhecida como “Little Ann” até adotar o nome artístico de Tina Turner. Em pouco tempo se tornou uma das vozes mais adoradas da música, comandando os palcos com suas perucas espetadas, saias curtas e saltos enormes. Seu estilo energizante a consagrou como uma superestrela global, de quem o mundo se despediu na quarta-feira (24). Ainda sem detalhes do local e data do funeral até o fechamento desta edição, as agências de notícias dão conta que será restrito aos familiares.
Embora a causa da morte não tenha sido anunciada, era sabido que Tina havia passado por problemas de saúde nos últimos anos. Em 2016, ela foi diagnosticada com câncer no intestino e, no mesmo ano, sofreu um AVC. Em 2017, precisou passar por um transplante de rim, com o órgão doado pelo marido, o músico Erwin Bach, com quem era casada desde 2013. Mãe de quatro homens, ela perdeu dois filhos entre 2018 e 2022. Morando na Suíça desde 1995, a artista renunciou à cidadania estadunidense em 2013 e se tornou suíça. E foi em sua casa em Küsnacht, perto de Zurique, que ela morreu na quarta-feira.
Em seu retiro da Suíça, com 12 prêmios Grammys e 200 milhões de discos vendidos ao longo da carreira, Tina mantinha uma vida pacata e isolada. Em sua trajetória, ela lançou duas biografias "Eu, Tina - A História de Minha Vida" (1986) e "Tina Turner - Minha História de Amor" (2019), e uma cinebiografia "Tina" (1993), que virou o musical "The Tina Turner Musical" (2018). Rainha do rock, com uma voz potente e grave, ela foi também um ícone pop com grandes turnês pelo mundo. Teve suas músicas no topo das paradas de sucesso e foi símbolo na moda e presença no cinema, com a canção "We Don't Need Another Hero", do filme Mad Max 3.
A dupla de sucesso Tina e Ike Turner nos anos 1960 teve também um casamento marcado pela violência por parte dele. Em 1976, ela saiu do relacionamento com pouco mais que o direito de usar seu nome artístico. Após dar uma entrevista falando abertamente sobre os abusos à revista People, se tornou uma precursora do movimento Me Too. Ela deu a volta por cima, lançando "Private Dancer", um álbum de sucesso com hits como "What's Love Got to Do With It", quando já passava dos 40 anos de idade. Começou ali uma onda de sucesso que teve como um de seus picos o show para 180 mil pessoas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, um recorde de público. Gravou nove discos na carreira solo.
Documentário e Exposição
"Não foi uma vida boa." A frase marcou o documentário sobre sua trajetória pessoal e artística, intitulado "Tina" e lançado há dois anos, como uma espécie de despedida pública. O longa estreou no Festival de Berlim de 2021 e repassa a história da artista desde sua infância pobre e de abandono, a entrada na banda de Ike Turner, até a explosão de sucessos. Foi conversando com ela pouco antes da estreia do filme que os diretores tiveram a impressão de que a cantora via o documentário como um adeus, não dos palcos, de onde se aposentou em 2009, mas da vida pública. "Tina" está disponível em streaming no Brasil no canal HBO Max.
Uma exposição em homenagem à cantora está em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS), que fica no Jardim Europa, na capital paulista, desde o início de maio, onde permanece aberta à visitação pública até 9 de julho. "Tina Turner: Uma Viagem para o Futuro" mostra a essência da artista e a mulher sob as lentes de quatro profissionais: Bob Gruen, Lynn Goldsmith, Ian Dickson e Ebet Roberts. Às terças-feiras a visitação é gratuita e nos demais dias o ingresso custa R$ 30,00.
A informação sobre a morte da cantora foi confirmada pelos seus assessores ao site Sky News: "Tina Turner, a Rainha do Rock'n Roll, morreu em paz hoje aos 83 anos após uma longa doença. Com ela, o mundo perde uma lenda da música e um modelo a ser seguido".
"Tina Turner é importante para a cultura musical como um todo, a cultura pop em particular, e uma referência como mulher, negra e artista. Começou com o Ike Turner até os anos 1970, quando se separa e parte para a carreira solo. Foi o primeiro grande nome da cultura que eu lembro ter se posicionado em questões como a violência doméstica e quebrou vários tabus como cantora e mulher. Foi a primeira artista negra e a primeira mulher na capa da revista Rolling Stones. Sempre olhou muito o público nos olhos. Ela começou quando o rock, a soul music e o blues eram bem misturados e se aproveitou disso para fazer esses estilos chegarem ao grande público. Um estilo que transcende o gênero, a raça e fez com que ela se tornasse uma das grandes artistas do mundo nos últimos tempos". Paulo Sakaar Tahira, DJ e proprietário de loja especializada em vinil em SP.
"Recebi com tristeza a notícia de mais uma morte de ídolos da nossa época. Ela teve ‘muitas importâncias’ para mim. Primeiro, por ser uma mulher negra à frente de um grupo como uma líder. Segundo, por ter batido de frente com um marido abusador quando isso não era comum. Ela o deixou, manteve a carreira e fez sucesso. Tocou com quem quis, com os principais. Poucas cantoras negras conseguiram isso. E ela mostrou a beleza negra, por partes: primeiro as pernas, quebrando paradigmas, até começarmos a achar uma pessoa negra inteira bonita. E musicalmente ela revolucionou bastante com muitos e inesquecíveis hits, se mantendo criativa, e parou no auge. Uma grande perda, uma das minhas cantoras preferidas". Fred Jorge, músico, DJ, pesquisador e colecionador de discos em Campinas
"É com profunda tristeza que recebi a notícia do falecimento da lendária cantora Tina Turner. Ela, com aquela voz poderosa, uma presença marcante nos palcos e uma inspiração para milhões de fãs em todo o mundo. Sou uma jovem que vivi nos anos 1980 e percebia nela todo o pioneirismo do cenário musical que abriu portas para muitas outras mulheres da indústria da música. Além disso, as músicas dela tocaram nossos corações nas apresentações, inclusive as muitas que aconteceram no Brasil. Nesse momento a gente fica com o coração tocado, desejando que ela descanse em paz, mas sabendo que seu legado musical viverá para sempre. E como a música dizia, ela é simplesmente a melhor!" Alexandra Capriolli, secretária de Cultura e Turismo de Campinas
"Curti muito fazer o rock in roll dela, no final dos anos 1960, quando ainda era parceira do Ike Turner e depois, nos anos 1970, já sem ele. Gosto dessas fases porque era mais roots, soul, groove, que deram origem ao rock. Como DJ, uso seus discos nas baladas de rock, inclusive nesta sexta-feira, 26, teremos a Festa do Rock no Goma Espaço Cultural, onde Tina Turner e Rita Lee serão homenageadas. Levarei um disco dela que adoro, o "Acid Queen", com versões poderosas de músicas dos Stones, The Who, Led... ". Riva, DJ, colecionador de vinil e proprietário de loja em Campinas