CINEMA ALTERNATIVO

'O Lucro Acima da Vida' faz sessão gratuita nesta terça-feira

Longa é uma ficção baseada na história real de contaminação ambiental e de seres humanos conhecida como Caso Shell: exibição no Teatro Municipal José de Castro Mendes

Delma Medeiros
24/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:24
Ailton Graça e Zezé Motta nas filmagens de 'O Lucro Acima da Vida' ( Divulgação)

Ailton Graça e Zezé Motta nas filmagens de 'O Lucro Acima da Vida' ( Divulgação)

O longa-metragem 'O Lucro Acima da Vida', ficção baseada na história real de contaminação ambiental e de seres humanos conhecida como Caso Shell, faz sua estreia em Campinas nesta terça-feira (24), com sessão gratuita no Teatro Municipal José de Castro Mendes. O Caso Shell foi como ficou conhecido o episódio da poluição ambiental e contaminação por agrotóxicos de trabalhadores da Shell do Brasil, depois Basf S/A, e dos moradores do bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia, onde a fábrica foi instalada.   A exibição contará com a presença dos atores Deo Garcez e João Vitti, protagonistas do filme, que tem ainda no elenco Denis Derkian, Mateus Carrieri, Celso Batista, com participação especial de Aílton Graça, Zezé Motta, Pedro Pauleey e do campineiro Joel Barboza, entre outros. Roteirizado e dirigido por Nic Nilson, o filme foi gravado em Campinas e Paulínia e teve a participação de cerca de 100 ex-funcionários da empresa como figurantes. Nesta quarta-feira (25), o longa será exibido no Centro Educacional Unificado (CEU) Inácio Monteiro, em São Paulo. As duas sessões têm entrada franca.   Questão de honra Para Nic Nilson, a produção era uma questão de honra. “Tinha que fazer alguma coisa pela luta dos ex-trabalhadores da Shell, queria que todos soubessem o que havia acontecido, para que situações assim nunca mais se repitam”, afirma. E o diretor não ficou sozinho na empreitada. “Todos os atores doaram seus cachês. Só assim foi possível viabilizar a produção.”   Se o primeiro problema foi bancar a produção, a dificuldade agora é fazer com que o longa chegue aos cinemas e ao público. “Distribuir filmes no Brasil é impossível. As redes dos shoppings são todas estrangeiras e as pequenas não vão tirar um filme hollywoodiano para colocar um nacional. As pessoas não veem filme nacional, exceto as comédias”, lamenta.   “Mas eu vou exibir este filme nas ruas, nas escolas, em borracharias, onde me deixarem. Quero que ele seja visto por milhões de pessoas. O elenco é maravilhoso, a história é triste, mas fantástica e precisa ser contada.”   O caso   Por causa de anos de contaminação por agrotóxicos, pelo menos 77 ex-trabalhadores e moradores das imediações da fábrica morreram, a maioria em decorrência de câncer, e muitas outras permanecem doentes. Devido ao poder financeiro da Shell/Basf, a contaminação na fábrica de Paulínia foi negligenciada por anos pelo poder público e imprensa.   O filme mostra a luta dos ex-trabalhadores para conseguir levar o caso à justiça e ter o devido reconhecimento e providências pelas autoridades competentes. Como resultado, os ex-trabalhadores receberam a maior indenização por dano moral coletivo já determinada pela justiça brasileira — R$ 200 milhões. O Tribunal Regional do Trabalho também determinou às empresas o custeio do pagamento de tratamento médico vitalício para 1.058 ex-funcionários e dependentes e indenizações individuais.   Tragédia humana   Deo Garcez interpreta o coordenador da Associação dos Trabalhadores Expostos às Substâncias Químicas (Atesp), entidade que, junto com o Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas e Região, encarou os 12 anos de batalha judicial. “Fazer parte de um projeto como este, que trata de uma tragédia humana e ambiental, em que tantas vidas foram perdidas — sofrimento que ainda perdura —, certamente dignifica e dá sentido a qualquer artista preocupado com sua função social”, afirma Garcez.   “Meu desejo é que esse filme, além de ser um brado contra a ganância desmedida, seja porta-voz das vítimas do caso Shell”, reforça João Vitti, que dá vida ao diretor do Sindicato dos Químicos. “Mostramos essa história pela lente de quem viveu, lutou e segue com uma vida transformada pela inconsequência dessas multinacionais que no Exterior estavam proibidas de produzir os agrotóxicos que vieram manipular no nosso país”, resume o diretor.   Produção    O longa foi produzido pela Atesq (Associação dos Trabalhadores Expostos às Substâncias Químicas), Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas e Região e Fetquim (Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico do Estado de São Paulo.)   A produção contou ainda com centenas de doações de pessoas sensibilizadas e envolvidas na causa para finalizar o projeto que, pela temática, não atraiu patrocinadores.    AGENDE-SE   O quê: longa 'O Lucro Acima da Vida'   Quando: nesta terça-feira (24), às 20h   Onde: No Teatro Municipal José de Castro Mendes (Praça Corrêa de Lemos, s/nº, Vila Industrial) - Campinas. Telefone: (19) 3272-9359)     Quando: nesta quarta-feira (25), 19h30    Onde: CEU Inácio Monteiro (Rua Barão Barroso do Amazonas, s/nº, Distrito Cidade Tiradentes) - São Paulo     Quanto: Entrada franca em ambas as sessões (os ingressos serão distribuídos 1 hora antes do início)

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