A celebração mundial da ‘Will Eisner Week’, em homenagem a um dos mais inovadores artistas dos quadrinhos, passa por Campinas com evento gratuito na Biblioteca Municipal Zink
(Divulgação)
O legado do quadrinista americano Will Eisner (1917—2005), responsável pela popularização do conceito de graphic novel, está sendo celebrado desde o início de março com uma exposição na Biblioteca Prof. Manuel Zink, que segue aberta para visitação gratuita até 31 deste mês. Amanhã (dia 26), a exposição “Will Eisner: 4 Weeks” reúne quadrinistas e interessados no tema, com oficina de quadrinhos e roda de conversa, além de exposição das publicações do homenageado que criou, entre outros, o personagem The Spirit. Eventos semelhantes acontecem em várias cidades do mundo, em março, marcando o mês de nascimento do artista, mas é a primeira vez que Campinas participa dessa celebração.
A programação de amanhã (dia 26) é aberta e gratuita e começa às 14h30 com a Oficina de Quadrinhos e Arte Sequencial com o artista Lipe Diaz, da LDZ Escola de Arte, sediada no Rio de Janeiro. Ideal para estudantes, profissionais e entusiastas do tema, a oficina promete ser um mergulho prático na arte sequencial, guiada pelo artista que responde pela Will Eisner Week carioca.
Também amanhã, às 18h, acontece uma Roda de Conversa com o tema “Will Eisner, o artista", com o historiador e quadrinista Dario Carvalho (Djota) e o artista Lipe Diaz.
A Biblioteca Zink tem disponíveis 37 obras de Will Eisner, entre revistas e livros, e o material exposto faz parte do acervo da Gibiteca e da Coleção Derossy Araújo da Silva.
A exposição tem curadoria do docente Márcio José Andrade da Silva, que mora e trabalha em Campinas. "Aprendi a apreciar sua arte com o meu pai, que era bancário em Belém, mas gostava de desenhar, fazer poesias e fotografar. Por isso, me chamava a atenção para detalhes inusitados da produção gráfica diferenciada, as narrativas e os roteiros bem trabalhados da arte sequencial, sempre entrecortados por várias histórias", conta. Ele chama a atenção para o trabalho de Will, que "amplia as aventuras em quadrinhos para outras vertentes, como as releituras que fez de Dom Quixote e de Moby Dick, mas sempre levando as pessoas a pensarem sobre sua existência, questionando a vida, as relações e os preconceitos".
O CORREIO NA EXPOSIÇÃO
Em 10 de novembro de 1996, uma página do Caderno C do Correio Popular publicou uma entrevista exclusiva com Will Eisner, uma semana antes do lançamento no Brasil de sua autobiografia em quadrinhos "No Coração da Tempestade". Ele estava em seu apartamento na Flórida (EUA) e conversou por telefone com o jornalista Dario Carvalho, que o chama de "papa dos quadrinhos" e abordou não apenas o lançamento e a questão do preconceito americano contra os judeus, mas também detalhes de sua produção, seus quadrinistas favoritos (inclusive os brasileiros) e pensamentos sobre o futuro das HQs.
A página, que está exposta logo na entrada da biblioteca municipal, abre a exposição com livros, revistas, cartazes e todo acervo do artista presente na gibiteca. Na mostra, que permanece aberta para visitação gratuita por quatro semanas, há também material da primeira exposição sobre o autor em Campinas, realizada em 2018 — quando ele completaria 101 anos de idade — com 101 releituras de capas dos gibis do Spirit, confeccionadas por artistas de todo Brasil. Na época, o professor de Filosofia Márcio José Andrade da Silva e o cartunista Bira Dantas coordenaram a mostra.
A INOVADORA GRAPHIC NOVEL
DJota antecipa um pouco do que contará na Roda de Conversa sobre o artista que revolucionou os quadrinhos na forma e no conteúdo. O primeiro personagem de sucesso de Eisner apareceu em 1937 (Sheena, a Rainha das Selvas, uma versão feminina e loira de Tarzan, que publicava sob o pseudônimo de William Thomas), mas foi em 1940 que ele começou a se tornar conhecido internacionalmente com aquele que foi sua maior criação: The Spirit. "Nos desenhos, ele utilizou conceitos até então inéditos nas HQs: fusões, cortes, ângulos insólitos e uso de sombras. Era um mestre do branco e preto, criando noções de profundidade e claro e escuro com maestria", relata.
The Spirit era inovador em seu conteúdo: um detetive que usava máscara, mas não tinha superpoderes, em cujas histórias o personagem principal era o comportamento humano. Djota avalia que "Spirit, por vezes, sequer aparecia na HQ a não ser nos últimos quadrinhos, para fazer um comentário sarcástico/filosófico que resumia o espírito humano".
O termo "graphic novel" é usado para descrever qualquer tipo de narrativa longa apresentada em formato de quadrinhos, independentemente de seu conteúdo ou estilo.
Treze anos após a morte do cartunista, DJota foi convidado a participar da "Exposição Will Eisner 100+1", também na Biblioteca Zink (2018), fazendo uma releitura de uma capa de The Spirit, mas usando personagens de sua autoria nas tirinhas "Só Dando Gizada", publicadas por 10 anos no Correio Popular. "Reproduzindo a capa dele, descobri noções de uso de cores quentes e frias para ilustrar luz e sombra sobre as quais nunca tinha atentado antes... Mais do que as lições — dentro e fora das HQs —, guardo e guardei para sempre a generosidade e todos os magníficos quadrinhos desse artista genial", diz.
PROGRAME-SE
Exposição "Will Eisner: 4 Weeks"
Quando: Visitação até 31 de março, de segunda a sábado, das 9h às 17h. Amanhã (dia 26), haverá oficina de arte sequencial às 14h30 e Roda de Conversa às 18h.
Onde: Biblioteca Pública Municipal "Professor Ernesto Manoel Zink" — Av. Benjamin Constant 1.633, Centro, Campinas
Entrada Gratuita
Informações: Tel.: (19) 2515-7091 - Instagram @bibliotecazink
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