Os corvos da campineira Valéria Scornaienchi e o registro urbano de Raphael Franco em mostras no MACC
O Museu de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti (MACC) recebe duas exposições simultâneas em suas salas que refletem imagens do imaginário e situações concretas: Pelo Avesso, da artista campineira Valéria Scornaienchi; e Corpo-Cidade-Corpo, com registros do ciclista e artista plástico Raphael Franco. Pelo Avesso apresenta desenhos, instalação, som, livro de artista, intervenção e o processo criativo do projeto que a artista desenvolve desde 2014 quando passou a fazer desenhos de corvos. Já Corpo-Cidade-Corpo apresenta a relação que Raphael Franco desenvolve com a cidade. Registros cartográficos, mapeamentos poéticos e coletas de elementos que constituem o solo urbano são trazidas por meio de trabalhos bi e tridimensionais e vídeos. O projeto Pelo Avesso foi contemplado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) e fica em cartaz até 31 de dezembro. O ponto de partida do trabalho foi uma visão recorrente que Valéria teve na adolescência, de corvos carregando sua casa. No mesmo ano que decidiu se aprofundar na pesquisa sobre os corvos, numa viagem à Cosenza (Itália), fez um ensaio fotográfico de uma casa que podia ser vista da janela do hotel em que se hospedou e que representava exatamente o imóvel de seu imaginário simbólico. A exposição traz uma réplica dessa casa feita em madeira sobre corvos de borracha no chão, criando uma inversão de lugar, uma tensão. Outra obra mostra uma montanha de alumínio e retrata a ação dos corvos que carregam no bico pequenos elementos que brilham quando o sol bate. Quando essa ideia vai para o espaço expositivo ganha outra dimensão e cria um ambiente de convivência entre o corvo e os visitantes que passam a ser parte desse cenário. O mesmo se dá com a obra sonora da revoada na parte externa do MACC possibilitando uma intersecção do museu com o prédio da Biblioteca Pública Municipal Ernesto Manoel Zink, que fica no andar superior. "A exposição Pelo Avesso traz no deslocamento de linguagens um corpo que acolhe a arquitetura e as relações entre dois lugares que fazem parte das discussões do meu trabalho: o museu - seja na intenção de estar dentro ou fora dele - e a biblioteca, considerando como representante da literatura. No meio do projeto, o livro O Corvo de Edgar Allan Poe atravessou meu caminho, o que me fez dialogar com a literatura não de maneira linear, mas por associações e pensamentos", conta Valéria. Outra peça da mostra é o livro de artista Eu e Ele, com desenhos, fotografias e colagem digital resultado da relação que a artista criou com o corvo durante anos. "É como se o corvo tivesse se tornado um ente familiar." Corpo-Cidade-Corpo Na mostra de Raphael Franco, um dos destaques é o projeto Corpo-cubo, no qual o artista converte o peso do seu corpo em artefatos coletados no solo da cidade, ao passo que traduz o volume de seu corpo em uma caixa feita de madeira. “O artista busca absorver de diferentes maneiras, sua experiência urbana. Raphael sempre colocou seu corpo na cidade, circulando incansavelmente de bicicleta por suas ruas. Esse trânsito diário pelas ruas, com seu corpo ali, a alguns centímetros do chão, levaram Raphael a aprofundar a relação visceral que tem com a cidade, buscando incorporar esse ambiente, mapear seus cantos mais ínfimos e íntimos, colocar suas próprias geografias em contato com aquela que rege multidões de corpos diariamente perfazendo suas rotinas", avalia o curador André Leal. A mostra fica em cartaz até 6 de janeiro de 2019.