Disco do compositor e pianista é uma paisagem musical, inspirado pela natureza do Rio
A Mata Atlântica ganhou uma sonoridade orquestrada por cordas, sopros e percussão pelas mãos do compositor e pianista carioca Alberto Rosenblit. Deslumbrado com a paisagem vista através da janela de casa — ele mora no Jardim Botânico, cercado pela floresta tropical, a Lagoa Rodrigo de Freitas e com visão para um braço de mar — arregimentou dez faixas inspiradas pela “mata ao atlântico”, como prefere se referir à nova musa. Com nítidas referências a Tom Jobim e à Bossa Nova, tão marcantes quando assunto é Rio de Janeiro, nasceu o disco 'Mata Atlântica' (Som Livre, R$ 24,90), produzido pelo trombonista Vittor Santos.
Doze violinos, quatro violas, quatro violoncelos, dois contrabaixos, flautas, pícolos, clarone, oboé, corne inglês, saxes, trompas, trompetes, flugelhorns, clarinetas, trombones e clarone, além de uma cozinha que tem piano, violão, bateria, percussão, contrabaixo e vibrafone. Todos esses instrumentos estão devidamente inseridos nas canções, algumas atuais, outras mais antigas, porém com arranjos novos.
É o caso de 'Uma Valsa', composta em 1984. “Na época eu compunha muito e não tinha como gravar. Resgatei 'Uma Valsa', mas retrabalhei nela”, conta Rosenblit em entrevista ao Caderno C. Outras são mais recentes, como 'Lagoa', de 2010, que “quebra” a atmosfera animalesca da faixa-título, que abre o disco. “A música fala do movimento dos bichinhos na natureza”, define o autor.
As três primeiras canções amarram o entrelaçamento afetivo que segue até o final. Sentimento que o compositor faz questão de ressaltar. “Ao longo desses anos de carreira conheci muitos músicos excelentes e fiz grandes amigos. Mais do que um disco, nesse trabalho eu reuni importantes amigos e parceiros. Cada participação é muito especial”, afirma. Entre eles, o próprio produtor (Vittor Santos) que com precisão, segundo Rosenblit, intercalou o uso de parte dos naipes com o todo da orquestra.
Para exemplificar, ele sugere 'Guanabara', composta juntamente com Paulinho Tapajós. Trata-se de um samba criado para o violoncelista Jaques Morelembaum, que por fim ganhou forma de trombone e participação do amigo ficou para 'Uma Valsa'.
No repertório, apenas uma música cuja autoria não é de Rosenblit — ainda que ele afirme que mantenha com ela uma relação de afeto. 'Navegantes', de Fernando Leporace e Alexandre Lemos, é, para Rosenblit, o assunto do disco pela alegria contagiante. “Eu estava no show de Marina Laporace quando ela chamou o irmão, que é baixista do trio, para fazer um solo. Ele tocou essa música e eu, em processo de elaboração do disco, me encantei. Pedi licença para mexer, fiz alguns arranjos, conversamos muito e em um desses papos descobri que já tínhamos tocado juntos nos anos 80 com o nome de 'Zra Zra' (não faço ideia do que significa isso). Reativou minha memória. Nunca gravei em meus CDs autorais músicas de outros compositores, mas essa tinha que entrar. Tem a cara do Brasil.”
Destaca-se também 'Com Carinho', feita em homenagem ao ator Fábio Junqueira, morto em 2008, de quem foi grande amigo. O disco é finalizado no compasso mais lento de 'Dentro da Mata'. Se a floresta foi a musa da vez, vale lembrar que no trabalho anterior, 'De Bem com a Vida' (Dabliú/2009), Rosenblit teve como musa o bairro do Leblon. Paralelamente às gravações solo, o músico segue como realizador de trilhas sonoras para a TV Globo, emissora da qual é contratado há 28 anos.