DESPEDIDA

O adeus ao homem que amava as estrelas

Júlio Lobo, um estudioso dos fenômenos estelares e contador de histórias do universo, morreu neste domingo, após 47 anos de trabalho no Observatório Municipal

Cibele Vieira/[email protected]
28/05/2024 às 16:47.
Atualizado em 28/05/2024 às 16:48
Júlio Lobo (Divulgação)

Júlio Lobo (Divulgação)

Ele tinha apenas 64 anos de idade e, desde jovem, cultivava a paixão pela astronomia. Era conhecido por usar todos os recursos para incentivar as pessoas a olharem para o céu e valorizarem a experiência de observar as estrelas. Atuou por 47 anos no Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini e transformou o trabalho na missão de aproximar as pessoas dos astros. Para isso, promovia eventos culturais no Observatório, levava seus equipamentos para praças e parques, não tinha pressa em esclarecer dúvidas dos leigos ou crianças e usava seu carisma e bom humor para o que dizia ser o seu propósito de vida: "aproximar as pessoas do Universo para construir legados e transformar vidas". Júlio Lobo morreu neste domingo, dia 26, de tromboembolismo pulmonar e foi sepultado ontem (dia 27, às 15h), no Cemitério da Saudade. Deixa esposa e três filhos.

Júlio Lobo se autodenominava contador de histórias do Universo, de lendas, mitos e curiosidades. Ele relatava que, quando tinha cerca de 9 anos de idade, viu “uma coisa fantástica colorida passar no céu, deixando um rastro luminoso”, que muito o intrigou. Ao perguntar para o pai, soube tratar-se de um meteoro. Na época, seu pai adquiriu a enciclopédia Barsa – uma coleção de livros impressos com informações sobre tudo – e ele começou a pesquisar sobre o assunto. “Essa foi a mola da minha opção pela Astronomia”, resumia. Ele integrava o seleto grupo de ‘caçadores de meteoros’, uma rede de astrônomos amadores e profissionais que se ocupam de estudar os fenômenos estelares.

Começou a trabalhar na área no primeiro ano de inauguração da Estação Astronômica de Campinas (1977), que depois se transformou no Observatório Municipal Jean Nicolini. Na época, tinha 17 anos de idade e atuava como estagiário. Tinha orgulho em contar que esse foi o primeiro Observatório municipal do Brasil, além de ser pioneiro na oferta de ação educativa regular. Ele teve como mentor o próprio Jean Nicolini, que, segundo suas palavras, lhe “ensinou o céu”. Estudioso, amante e poeta dos mistérios do céu, repetia sempre: “eu sou a evolução da poeira estelar e o delicado bater de asas de uma borboleta". E é dessa forma que colegas de trabalho – que preferiram não se identificar — querem mantê-lo em suas memórias.

Nos últimos meses, Júlio Lobo desenvolvia projetos novos para a área que chamava de “Astronomia Cultural” que, como ele próprio explicava, é a relação do ser humano com a noite estrelada. Para isso, permanecia com as palestras e orientações no Observatório, mas desde o final do ano passado, trabalhava junto ao Museu da Cidade, onde se dedicava ao folclore envolvendo os astros. "Meu tempo no Observatório já foi cumprido e precisava dar espaço aos novos", disse, na época.

No Youtube está disponível um documentário do Canal Futura, onde ele declara o prazer pelo trabalho que fazia, a atração pela magia dos céus e a importância de alcançar as pessoas com o conhecimento, de forma simples.

Em toda a sua trajetória, ele encorajava pessoas de todas as idades a ampliarem o interesse por essa ciência, com o propósito de ajudar a construir os próximos passos da pesquisa astronômica brasileira. Era incansável na criação de projetos e eventos que atraíam grande público ao Observatório em noites de Lua Azul, cometas e outros fenômenos. E levava seus equipamentos para as ruas em eventos como a Virada Cultural. Brigava também contra o excesso de luminosidade da cidade, que atrapalhava a visualização das estrelas, como na região de Sousas e Joaquim Egídio, onde estava sediado o Observatório.

REPERCUSSÃO NAS REDES

A secretária de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, comentou que “falar da perda do Júlio é muito triste porque ele era uma referência na Astronomia em Campinas e no Brasil e, principalmente por sua dedicação ao Observatório, sempre fez parte dessa história. Mas temos certeza que hoje ele está nesse céu de estrelas que tanto observou em sua carreira”.

“O Museu da Cidade está em luto pelo amigo Júlio Lobo, profissional criativo, único e que atuou brilhantemente sobre as leituras celestes. Há um ano, ele vinha atuando no Museu da Cidade, com palestras e projetos culturais”, publicou Adriana Barão.

A filha Juliana publicou no Instagram: "Em nome da família Aguilera Lobo, agradecemos todas as mensagens de carinho e conforto com relação à passagem de meu pai”.

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