Editoras vivem momento singular em vendas de quadrinhos; especialistas apontam diversificação do público
Martini, da Zarabatana, diz que crescimento do setor favorece autores brasileiros de HQ (Érica Dezonne/AAN)
As editoras não revelam dados sobre faturamento, sob a alegação de que tratam-se de informações sigilosas e estratégicas, mas admitem publicamente que nunca se vendeu tanto quadrinhos no Brasil como nos últimos tempos.
Os quatro primeiros números da Turma da Mônica Jovem são um ótimo exemplo: foram comercializados, em 2008, 1,5 milhão de cópias, e, no ano passado, a série teve uma média de 300 mil exemplares mensais. Uma verdadeira explosão no mercado de HQs que, inclusive, chegou a Campinas. Relembrando os velhos tempos, o município tem, mais uma vez, lojas especializadas no assunto.
A Garagem Comics, que atuou durante anos dentro do Sebo Casarão, no Centro, agora tem seu próprio espaço na Rua Sacramento. E, a partir de 1º de abril, o bairro Taquaral contará com o Cantinho dos Gibis, marca que atua na internet mas, devido ao crescimento do setor, também terá uma loja física. “Chegou a hora de tentar ter um local, afinal, até nos Estados Unidos, que tem a grande fatia do mercado, o nicho cresceu”, diz o proprietário Eugênio Furtado.
Não podemos esquecer ainda que, desde 2007, Campinas é a base da Zarabatana Books, uma premiada editora especializada em quadrinhos. “O setor está tão próspero que até os autores brasileiros, principalmente eu diria, estão aparecendo mais e ganhando muito mais espaço. As publicações estão crescendo bastante ano a ano”, acrescenta Claudio Martini, editor da Zarabatana, que faz uma média de 11 publicações ao ano.
Público
Um dos principais motivos para essa profusão, apontam os especialistas, é a diversificação de público, pois foi-se o tempo em que os quadrinhos estavam destinados apenas ao público infantil ou ao mundo dos “nerds” apaixonados pelos super-heróis. “Não tem como dizer que há um segmento, ou só adolescente, ou só adulto. Realmente é bem variado. Nós mesmos, quando inauguramos o local, pensamos que mais adolescentes e jovens frequentariam a loja, mas percebemos que os adultos estão bem atuantes. Exatamente como era no Casarão”, expõe Luís Otávio de Oliveira, gerente da Garagem Comics.
Os adultos, explica Oliveira, estão mais interessados em quadrinhos antigos, gostam de colecionar, enquanto os jovens querem algo novo, o que está na moda. “The Walking Dead, por exemplo, por causa da série na TV, virou uma febre. Tanto que a galera não quer apenas os gibis, mas também os personagens. Por isso vendemos aqui também action figures (bonecos dos heróis), o novo filão do mercado.”
O velho e o novo
Não há como sobreviver na área de quadrinhos, concorda Furtado, sem oferecer material novo e antigo. “Funciona como um sebo. Sempre tem gente procurando material da década de 40 e 50, porque são os HQs preferidos dos colecionadores. E a molecada quer os novos. Eu, particularmente, gosto do material de 70 e 80. Considero a melhor época para os quadrinhos, principalmente os de super-heróis.”
O proprietário da Cantinho dos Gibis conta que, mesmo antes de saber ler, andava com quadrinhos debaixo do braço. “Sou fã mesmo e é por causa dessa paixão que estou no mercado.” O processo foi natural, explica, pois ainda moleque vendia os gibis que não queria mais. “E quando chegou aquela idade que tem que trabalhar para ter dinheiro, passei levar isso mais a sério. Tanto que muito do que vendo foi meu em um primeiro momento. Mas a gente compra e troca muita coisa também.” O acervo é vasto e Furtado acredita ter cerca de sete mil gibis à venda.
Resgate
“De uma certa forma, Campinas está voltando ao que era há alguns anos”, lembra o gerente da Garagem Comics. “A gente tomou a atitude de montar esse ponto porque não tinha mais nada na cidade. E muita gente tinha dificuldade em encontrar novos e até antigos quadrinhos. Assim como era a Pandora no passado, mas que há alguns anos virou uma escola de desenho.” Oliveira conta que existiam alguns locais em Campinas da área, mas até mesmo ele, que é do ramo, desconhecia. “Fiquei sabendo de um ponto quando comprei parte do acervo dele. E tem muita gente com quadrinhos por aí. Um senhor me vendeu, há um ano, quatro mil.”
Entre os pontos mais conhecidos, está um estande montado todos os sábados na Feira de Arte, Artesanato, Antiguidades, Quitutes e Esotéricos de Campinas — ou Feira Hippie, no Centro de Convivência Cultural.
Entre as relíquias da Garagem Comics, revela o gerente, está Aventuras de Bill - O Detective Secreto, de 18 de setembro de 1935, criado por Alex Raymond. “Temos muita coisa bacana, como um quadrinho da década de 40 de O Guarani, de José de Alencar. A galera adora, tanto que o engraçado é que tem gente que pede para entrar no meu estoque, é o sonho da pessoa, porque acha que estará em um reino encantado e encontrará a paixão da vida dela.” Mas Oliveira adianta que eles não somos colecionadores e que estão ali para vender. “Não há segredos. Claro que uma coisa ou outra a gente guarda, como quadrinhos da década de 20, que são raros. Mas é pouca coisa.”
AGENDE-SE
O quê: Inauguração do Cantinho dos Gibis
Quando: 01/04, às 12h
Onde: Rua Paula Bueno, 900 (anexo à Descam Embalagens), Taquaral,
fone: 3387-7818
SAIBA MAIS
Garagem Comics
Rua Sacramento, 160, Centro,
fone: 3342-2658