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Neste 13 de Maio, Vado traz seu Navio Negreiro a Campinas

Para lembrar o dia da abolição da escravatura no Brasil, a cidade recebe peça teatral icônica

Do Correio Popular
13/05/2022 às 11:12.
Atualizado em 13/05/2022 às 11:13
Vado imprime toda a emoção de seu monólogo em mais uma apresentação de sua famosa peça em Campinas (Divulgação)

Vado imprime toda a emoção de seu monólogo em mais uma apresentação de sua famosa peça em Campinas (Divulgação)

O teatrólogo Benedito Irivaldo de Souza, conhecido como Vado, tinha apenas 23 anos quando encenou pela primeira vez a montagem da peça "O Navio Negreiro". Hoje, aos 74 anos, ele sobe ao palco do Teatro Castro Mendes para encenar, mais uma vez, o mesmo monólogo. A peça completa 51 anos de exibição continuada e já foi apresentada mais de 12 mil vezes no Brasil e no exterior, o que garantiu a Vado o recorde no Guinness World Records pela "carreira mais longa como diretor de teatro de uma mesma produção".

A apresentação desta sexta-feira, 13 de maio, às 19h30, tem entrada gratuita e os ingressos devem ser retirados na bilheteria duas horas antes do início do espetáculo. 

Castro Alves

O monólogo "O Navio Negreiro" é baseado no poema homônimo de Castro Alves (1847-1871), tem duração de aproximadamente duas horas e foi adaptada para o teatro por Vado. Ele interpreta 16 personagens que retratam o sofrimento dos africanos escravizados no Brasil e seu sonho de liberdade.

Vado é precursor do teatro negro no Brasil e já produziu 25 peças. Sua entrada no teatro tem uma curiosidade: ele conta que foi encaminhado para aulas de teatro quando jovem para melhorar a desenvoltura, porque era muito tímido. 

Antes do início da peça, o público poderá assistir à apresentação especial da canção "Deixa a Senzala", pelo trio musical do Instituto Anelo, formado por Luccas Soares (vocal), Alline Ribeiro (violino) e Renan Augusto (violão). 

Territórios Negros 

Se Campinas carrega a culpa de ter sido a última cidade do Brasil a libertar seus escravos, a raça negra não perdeu tempo e ocupou seus espaços com muita luta e competência. A cidade tem hoje vários redutos que se mantém alertas contra o racismo, que promovem a cultura e as tradições ancestrais e, também, divulgam os ritos e crenças de matriz afro. Uma publicação no formato de cartilha foi criada pelo gabinete da vereadora Guida Calixto (PT) para registrar esses espaços culturais e de luta. "Territórios Negros - nossos passos vêm de longe" foi ilustrado pelo caricaturista João Manoel da Silva e é distribuído gratuitamente. 

Quando se fala em marcos da cidade que registram a história dos negros e escravos, dois logo são lembrados: o Largo da Santa Cruz - atualmente Praça 15 de novembro - no Cambuí, e o Largo São Benedito, onde está o Monumento à Mãe Preta (homenagem às amas de leite). O Cambuí concentrava vários cortiços negros que foram removidos para áreas distantes, dando origem a bairros periféricos. Nesses locais surgiram os primeiros movimentos culturais como as escolas de samba Vila Rica, Rosa de Prata (da Vila Bela), Estrela D'Alva (Costa e Silva) e Princesa D'Oeste e Garotos de Madureira (São Bernardo). 

A publicação "Territórios Negros" registra que a comunidade se reunia em bailes nos clubes 9 de Julho (S. Bernardo) e Machadinho (Vila Industrial). E foi desses movimentos que nasceu o grupo de teatro Evolução (1973). A Liga dos Homens de Cor - criada na primeira metade do século 20 - foi um importante espaço social, de recreação e apoio à população negra. No início da década de 1930 foi criada a Banda dos Homens de Cor, ativa até hoje, uma alternativa ao ensino musical e lazer para os negros da cidade, que não eram aceitos nas bandas dos brancos. 

Mais recentemente, o Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, fundado em 2012, teve um importante papel no debate que implementou as cotas raciais na universidade. Outras entidades relevantes são a Casa de Cultura Tainã, que pensa as tecnologias livres, e a Fazenda Roseira (Jongo Dito Ribeiro), que preserva a história ancestral e suas tradições. Mas há muito mais, como o Instituto Babá Toloji, que guarda um acervo afro com cerca de 12 mil peças que revelam um pouco da cultura dos diferentes povos africanos, seus rituais e crenças. 

A lavagem das escadarias da Catedral já integra o calendário de eventos da cidade (aos Sábados de Aleluia). Um bom exemplo disso é a reunião de hoje, na Prefeitura, quando a Associação de Religiosos de Matriz Africana de Campinas (Armac) pretende tratar do monitoramento dos templos e terreiros pelas câmeras da Cimcamp, como forma de ampliar a segurança. Mas há outras iniciativas como a pastoral afro da comunidade São Joaquim Santana (Vila União), onde são promovidas missas afro. 

Neste sábado, começa a ser discutida a rede de espaços negros, articulada pela Fundação Baobá. É uma entidade que atua no âmbito da equidade racial. Este ano, a Associação do Jongo ganhou um edital para organização interna da instituição, a formação desta rede e o registro desse processo na forma de livreto. 

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