CRÍTICA

Nem o patriotismo salva 'O Ataque', de Roland Emmerich

Longa com Jamie Foxx e Channing Tatum mostra destruição da Casa Branca mais uma vez

João Nunes/Especial para o Correio
correiopontocom@rac.com.br
07/09/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 00:49

Channing Tatum em cena do filme 'O Ataque' ( Divulgação)

Pobre Casa Branca. Só neste ano ela foi destruída duas vezes: em abril, Antoine Fuqua quase mandou a residência do presidente norte-americano pelos ares em 'A Invasão da Casa Branca'; agora, o reincidente Roland Emmerich detona um dos lugares mais visitados da América em 'O Ataque' (White House Down, 2013, Estados Unidos). Como se sabe, o diretor explodiu o famoso local por três vezes: 'Independence Day' (1996), 'O Dia Depois de Amanhã' (2004) e '2012' (2009). (CLIQUE AQUI E CONFIRA A GRADE DE CINEMA)No entanto, não se deve levar Roland Emmerich a sério. De origem alemã, ele chega a ser mais patriota que os próprios americanos, pois tem verdadeira obsessão por provar o quanto ama o país que o adotou e o transformou em um fazedor de sucessos de filmes dos quais o espectador esquece um segundo depois de encerrada a sessão.Com a ferida do 11 de Setembro de 2001 ainda aberta, Hollywood, entretanto, não titubeia em colocar fogo em alguns de seus mais caros símbolos. Por trás dessa sanha, há inimigos — sempre de fora; russos, norte-coreanos (como em 'A Invasão da Casa Branca'), aliens, etc. Agora, são os próprios assessores do presidente (ele é negro, claro), gente do próprio palácio — como nas tramas shakespeareanas, mas sem nenhum parentesco com estas em termos de sofisticação e do trágico que representam. A trama, aqui, e seus personagens, são tão caricatos que parecem saídos de revista infantojuvenil de HQ. Se o presidente (Jamie Foxx com cara de paisagem) da maior potência mundial está indefeso, o herói John Cale (Channing Tatum, que melhorou muito como ator) pode tudo: salvará o “mister president”, a filha e o país. E como é herói dos bons, após inúmeros sopapos, quedas, tombos e tiros (dos quais ele sempre desvia), Tatum terminará o filme com uns hematomas sem maiores consequências e ferimentos leves. Nada que a mocinha (Maggie Gyllenhaal) não possa curar depois. De outro lado há os vilões. E são muito maus. O agente Walker (James Woods) tem câncer e quer vingar o presidente por ter enviado o filho dele para a guerra. A fragilidade do argumento é de doer. O roteirista James Vanderbilt (que ganhou US$ 3 milhões) não deve acreditar nele, mas Emmerich e os produtores acreditam. Por conta disso, Walker vai, literalmente, explodir o mundo. E com apoio descarado da mulher dele. E de mercenários como Emil Stenz (Jason Clarke) que não se sabe direito porque está lá - mas é o mais violento e cruel do bando, capaz de estapear a filhinha do herói. E tem o hacker Skip Tyler (Jimmi Simpson) que mais parece o personagem da animação famosa: enquanto invade o sistema de informática da Casa Branca e ajuda a colocar fogo no mundo, ele ouve sinfonias de Beethoven, chupa pirulito, solta gritinhos e faz graças como se caos fosse sinônimo de parque de diversões.Pior é a filha de John Cale, Emily (Joey King). Ela passa o filme chorando (ok, é quase uma criança), mas não se acovarda, não. No meio do tiroteio, ela grava tudo no celular e envia para o canal dela no YouTube (não é mais vídeo blog, ensina) e ajuda a salvar o mundo. Quando o cruel Emil Stenz aponta-lhe uma arma, ela o desafia. E quando Walker faz o mesmo, mas o presidente justifica que não poderá ajudá-la, pois milhões morrerão, ela aceita na boa virar heroína. Por fim, tem uma ação no desfecho que faz piloto de míssil desobedecer ordem presidencial. Não vale elogiar 'O Ataque' pela produção, pelos efeitos e pela alucinada direção que o torna eficiente na hora de gerar adrenalina no espectador. Para isto, foram gastos os milhões devidos. Sim, a adrenalina está garantida, mas o fio patriótico que procura segurar o filme é tão frágil que joga contra ele. Não há como entender que a armadilha contra o presidente estivesse tão próxima e uma fortaleza de segurança igual aquela não tenha previsto. E não dá para imaginar porque o poderoso exército americano não aniquila com os poucos pangarés que tomam conta da situação. Está bem: verossimilhança não cabe em filmes do gênero, mas fantasia tem limites. A não ser que estejamos falando de Roland Emmerich. Este, afinal, não dá mesmo para ser levado a sério.

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