ENTREVISTA

Natália Lage fala como ser atriz de muitos papéis

A artista conversou com o Caderno C por ocasião da pré-estreia do longa Vai que Dá Certo, em Paulínia

Fábio Trindade
09/05/2013 às 16:17.
Atualizado em 25/04/2022 às 16:56
Natália Lage cresceu fazendo televisão: primeira novela aos 9 anos (Divulgação)

Natália Lage cresceu fazendo televisão: primeira novela aos 9 anos (Divulgação)

Natália Lage pode dizer que cresceu na televisão. O primeiro programa foi 'Tarcísio e Glória', em 1988, quando ela tinha 9 anos, e a primeira novela, O 'Salvador da Pátria', no ano seguinte, ambos na Globo. Mas antes disso, desde os 4 anos, ela era estrela de diversos comerciais, inclusive de marcas grandes. Ou seja, é um rosto que estamos acostumados a ver há mais de 30 anos. Algo que, confessa a atriz, acabou consumindo todas as suas energias e apagando outras áreas importantes, como a vida pessoal. Exatamente por isso, a vontade de parar veio inúmeras vezes, mas nunca forte o suficiente para segui-la. Atualmente, Natália pode ser vista interpretando uma dançarina em dois lugares diferentes: nos cinemas, no filme 'Vai Que Dá Certo', e em 'Tapas e Beijos'.

Caderno C — Interpretar uma dançarina, e em duas produções diferentes, é algo inusitado, principalmente por se tratar de um personagem que pede uma sensualidade que normalmente não associamos a você. Era algo que você evitava?

Pois é, eu demorei bastante para fazer mesmo. Eu fugia um pouco, sim, sempre tive um certo medo. Um dos motivos pelo qual estou fazendo, tanto no programa como no filme, é ter o filtro da comédia. Eu acho que quando você chega pela comédia, você chega mais defendido, o que, para mim, fica mais divertido brincar com esse lado da sensualidade. É gostoso e é diferente de quando é à vera mesmo. Aconteceu dessa forma e eu estou achando bom assim.

Ou seja, se o convite fosse de outra forma, você ainda estaria pensando?

Hoje em dia estou mais tranquila, amaciada. Eu era mais travada em relação a isso, o porquê eu não sei explicar. Talvez porque eu comecei muito criança e essa transição é delicada. Eu vejo que muita gente faz essa transição pela sexualidade, algo como “virei mulher”. E eu nunca quis dizer para o meu público que eu virei mulher pela sexualidade. Vou posar nua para mostrar para as pessoas que eu não sou mais uma menininha. Jamais. Eu achava isso pouco para mim porque eu queria mostrar minha maturidade com meu trabalho. Como eu não sou mais uma menininha e nem uma jovem, estou com quase 35 anos, estou mais tranquila agora.

Conversando com alguns de seus colegas que também começaram a carreira bem criança, como o Danton Mello que faz o filme com você, todos dizem que, apesar de uma carreira tão longa, ainda é preciso provar o tempo do que você é capaz. É assim com você também?

Vai ser assim para sempre. A gente vai sempre testando nossos limites, vendo para onde a gente consegue esticar a corda mais um pouquinho. Mas é legal isso, é legal transitar por lugares diferentes. Dois meses depois de eu filmar 'Vai que Dá Certo', eu fiz no teatro um menino, ou seja, uma menina que se veste de menino, que é a história do JT Leroy (pseudônimo da escritora norte-americana Laura Albert), com direção do Paulo José. Foi superlegal porque é outro universo. Em 'Tapas e Beijos' faço essa Lucilene inescrupulosa e faço no teatro, em 'Edukators', uma revolucionária superengajada, comprometida em mudar a sociedade. É bacana ser esse tipo de atriz, que vai a lugares diferentes e pode brincar com muitas coisas.

Transitar é algo que muitos atores deixaram de buscar hoje em dia? Mudou muito esse meio, você que começou tão cedo?

Eu não sei mudou tanto, mas sempre foi difícil. É uma profissão que exige muita disciplina, muito cuidado e muito amor, porque tem momentos que são complicados, tanto na demanda emocional, física e mental do trabalho em si, quanto no entorno, no ser uma figura pública, como se colocar publicamente, no compromisso que você tem por ser assim. Eu não sei se está mais difícil, mas as pessoas que querem seguir têm que ter essa consciência de que é muito difícil, que envolve muitos aspectos e que tem seriedade com suas escolhas, integridade, fazer o que acredita e gosta, fazer de coração e dar o seu melhor. Quem tem que ficar, fica, eu sempre digo isso. É lógico que há injustiças, pessoas muito talentosas que não conseguem, isso é fato. É uma profissão de muita competitividade. Talvez esteja então difícil estar na televisão, mas se você quiser fazer arte, você tem espaço.

Essa tão falada busca por “novos rostos bonitos” está tornando a TV ainda mais mesquinha?

Isso é algo que acontece no mundo. Em Hollywood é assim. A menina de 22 anos (Jennifer Lawrence) ganha da atriz francesa maravilhosa (Emmanuelle Riva) no Oscar porque ela vai protagonizar todos os filmes e vai gerar dinheiro para a indústria. É assim que o mundo roda. Adianta brigar com isso? Não. É saber que isso existe, até onde você transita e dialoga com isso e onde você vai fazer o seu e até conversar com esse universo, sem esquecer o seu caminho.

Sua última novela foi 'Pé na Jaca', em 2006. Faz um bom tempo. O motivo seria um pouco por causa disso tudo que você falou, já que em séries como 'A Grande Família' e 'Tapas e Beijos' é possível construir um personagem diferente?

Me aconteceu isso, na verdade. Eu não escolhi parar de fazer novelas. Eu fui convidada pelo Maurício Farias para fazer 'A Grande Família' e fiquei muito feliz lá, tanto que fui ficando bastante tempo. São 11 anos de programa no ar e eu fiquei quatro. Por isso gosto de chamar de uma grande escola. O convívio com as pessoas era incrível, todo aquele elenco maravilhoso. Foi muito importante para mim como pessoa e como atriz e eu não trocaria por nenhuma novela. Saí de lá e de cara o Maurício me chamou para 'Tapas'. Também estou emendando uma peça na outra. Não foi uma escolha, seria até chique eu poder dizer isso: “Ai, não vou mais fazer novela.” Mas não foi isso e está bom assim.

Além da peça e de 'Tapas', tem mais algum plano?

Sim. Vou apresentar um programa que chama 'Revista do Cinema Brasileiro'. Ele era do Canal Brasil e agora está na TV Brasil. É um programa que foi apresentado pela Julia Lemmertz, Maria Luísa Mendonça e que está sendo reformulado. Fiquei superfeliz com o convite porque eu adoro cinema, vou entrevistar bastante gente, apresentar conteúdo. É uma novidade bacana essa. Estamos conversando ainda, decidimos faz pouco tempo, ainda não tenho informações concretas. Mas deve estar para começar. Vai dar uma canseira extra, mas é bom. Só não posso esquecer que tenho uma cachorra para cuidar (risos).

Aliás, falando em vida pessoal, só se fala por aí agora que você quer ser mãe. É isso mesmo?

É um sonho mesmo. Vai chegando uma idade que você pensa: caramba, e agora? Eu fiz escolhas que trouxeram um reconhecimento profissional, mas que tem outro lado que é muito importante, que é fundamental para mim, principalmente porque eu sou muito apegada à minha família. Tenho um sonho, mesmo, de ser mãe. Só preciso achar a pessoa que encaixe, e o cara tem que entender esse meu ritmo de trabalho. Eu tenho que me apaixonar, porque sem paixão eu não consigo. Eu quero um filho fruto de um amor, eu não quero um filho solto, só para dizer que eu tenho ou para cumprir algo. Eu quero que seja o resultado de um encontro e estou procurando encontrar (risos). Talvez eu tenha encontrado, mas não posso dizer ainda.

Esse é o preço de começar muito jovem? Se arrepende?

Talvez seja esse o preço sim, porque eu me apeguei muito ao trabalho e sempre foi a minha prioridade, meu foco. Algumas outras áreas ficaram defasadas, a gente vai criando defesas, vai se defendendo. Várias vezes eu pensei em parar. Várias mesmo. Mas nunca forte o suficiente para tomar a decisão. Em diversos momentos eu fico desiludida, penso: ai, que saco, ai, que coisa chata. Tem vários aspectos que são difíceis de lidar, às vezes mais, outras menos. Tem fases ruins. Mas tem algo no fazer, na hora, na brincadeira, no jogo que me deixa muito à vontade, e isso talvez aconteça justamente por eu ter começado criança. Tudo é muito natural. E não consigo me imaginar não fazendo.

Você consegue fazer um balanço dessa carreira, o que foi mais importante, o que valeu a pena?

Teve tantas coisas importantes. As primeiras novelas que eu fiz, ainda muito criança, como 'Salvador da Pátria', 'Perigosas Peruas'. Depois fica as experiências no teatro, ter trabalhado com a Bia Lessa, Felipe Richter, João Fonseca, Gilberto Gawronski, essas pessoas foram mestres pra mim no Teatro. No cinema, 'O Homem do Ano' foi um filme em um momento muito importante para mim, e na televisão 'A Grande Família' e 'Tapas'..., porque englobam um universo com que eu me identifico e que me deixa extremamente feliz. Uma coisa é fato, nenhum momento está relacionando na exposição pela exposição, que tem um pouco a ver com reality shows, Facebook, com toda essa onda contemporânea nossa dessa necessidade da imagem. A profissão está por trás desse véu.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por