MEMÓRIA

Na TV, há meio século surgia a telenovela brasileira

Nesta segunda-feira, completam-se 50 anos da estreia, na extinta TV Excelsior, do 1º folhetim diário

Fábio Trindade
21/07/2013 às 13:36.
Atualizado em 25/04/2022 às 08:05

Emily era uma detenta que trabalhava como telefonista em um presídio. Sempre muito simpática, Larry se apaixonou por ela após ouvir sua voz ao telefone, porém, sem saber que ela estava presa. Um enredo estranho, vivido por Glória Menezes e Tarcísio Meira, mas que marcou época e jamais sairá da história. Afinal, ele foi o fio condutor de '2-5499 Ocupado', a primeira telenovela diária brasileira, que estreou na extinta TV Excelsior no dia 22 de julho de 1963. Ou seja, nesta segunda-feira (22), esse gênero que arrebata milhões de fãs no País até hoje celebra 50 anos, com sinais de que, provavelmente, ainda escreverá novos capítulos da própria história do Brasil por muito tempo.

A telenovela como formato estreou por aqui 12 anos antes, em 1951, trazendo tramas ainda baseadas no modelo dos teleteatros, com a diferença de que as mesmas se desenvolviam não só em um capítulo, mas em vários, como até hoje. A primeira foi 'Sua Vida me Pertence', da TV Tupi, que tinha Vida Alves e Walter Foster como casal protagonista, além da participação de Lia Borges de Aguiar. Foi nessa novela que a televisão brasileira mostrou seu primeiro beijo na boca. O casal protagonista da novela e da cena foi hostilizado por muitos telespectadores, dando origem a um verdadeiro escândalo, além de muitos boatos e uma chuva de cartas enviadas à emissora, criticando a atitude dos atores.

Por inúmeros motivos, foi preciso mais de uma década para termos novelas diárias. Além da dúvida em relação à aceitação do público, quando elas começaram, eram feitas ao vivo e possuíam aproximadamente 15 capítulos, transmitidos às terças e quintas-feiras — horários em que o público não saía da frente da TV. A Tupi só realizou mais novelas no ano seguinte, sendo respectivamente 'Noivado nas Trevas', 'Um Beijo na Sombra', 'Rosas para o Meu Amor', 'Uma Semana de Vida', 'De Mãos Dadas', 'Direto ao Coração' e 'Meu Trágico Destino'.

Um ano após sua fundação, a TV Paulista resolveu também fazer, começando em 1952 com 'Senhora', 'Helena', 'Casa de Pensão' e 'Diva', respectivamente. Neste mesmo ano, fora de São Paulo, nasceu a primeira novela carioca: 'Sinhá das Dores', na TV Continental.

O maior dilema na época, e que permanece até hoje, era a escolha da história. Enquanto a Tupi adotava romances latinos e tramas vindas de novelas radiofônicas, peças teatrais e de seus teleteatros, as demais se dedicavam à adaptação de obras literárias. Numa primeira fase, Machado de Assis, José de Alencar e Érico Veríssimo eram os autores prediletos.

Quando a Tupi decidiu adotar essa linha, atingiu grande sucesso com a novela 'Éramos Seis', a primeira das quatro adaptações da obra de Maria José Dupré, com Geny Fonseca como Dona Lola e o locutor Silvio Luiz como um de seus filhos. Mesmo com todo o sucesso, a ideia de se fazer novela diária era considerada um absurdo. Os produtores não sabiam se os gastos seriam compensados, além do fato de que era preciso um estúdio só para novelas, já os cenários sempre teriam que estar iguais e por semanas.

Quem decidiu arriscar, como dito, foi a TV Excelsior, tornando-se a primeira emissora a fazer uma novela diária do País, há exatos 50 anos, o que a consagrou até seus últimos dias. Assim, ela lançou '2-5499 Ocupado' já na era do videotape, e a trama durou até setembro 1963. Mesmo tendo sido gravada em VT, entretanto, há poucos registros da novela, visto que antigamente as fitas eram reutilizadas, gravando novos capítulos e novas novelas por cima de produções antigas. A trama ganhou um remake em 1999, na Record, chamado 'Louca Paixão', com Karina Barum e Maurício Mattar.

Mais marcantes 

Nilson Xavier, autor do 'Almanaque da Telenovela Brasileira' (Panda Books, 372 págs.) fez uma seleção com os momentos mais marcantes da história do gênero. Além da primeira telenovela do Brasil na década de 1950, e a primeira diária em 1963, o especialista destacou ainda na década de 1960 'O Direito de Nascer', de 1964, escrita por Talma de Oliveira e Teixeira Filho, exibida em São Paulo pela TV Tupi; 'Redenção', de Raimundo Lopes, na TV Excelsior, a mais longa novela brasileira, com 596 capítulos, ficando praticamente dois anos no ar; Antonio Maria, de Geraldo Vietri, na TV Tupi, a primeira tentativa de êxito em transformar a telenovela em um produto genuinamente brasileiro; e 'Beto Rockfeller', de Bráulio Pedroso, que foi ao ar na TV Tupi, e se tornou uma divisora de águas, já que imprimiu características realistas e nacionais ao gênero. 

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