ante a iminência da morte

Musical 'Lazarus' é legado de David Bowie

Espetáculo, em cartaz na Capital paulista, reflete o estado de espírito de um artista lutando entre estar vivo

Estadão Conteúdo
24/08/2019 às 16:37.
Atualizado em 30/03/2022 às 18:43

Um dos musicais mais aguardados do ano, 'Lazarus' impressiona pelas mensagens cuidadosamente deixadas nas entrelinhas por seu autor, David Bowie, que o finalizou em seu último ano de vida. Afinal, trata-se de uma obra que reflete o estado de espírito de um artista lutando entre o momento de estar vivo e a iminência de deixar tudo para trás. "Lazarus, entre outros assuntos, trata de morte e ressurreição", comenta Felipe Hirsch, diretor da versão nacional que estreou na última sexta-feira, inaugurando um novo espaço, o Teatro Unimed. De fato, até 10 de janeiro de 2016, quando o mundo foi surpreendido pela notícia de sua morte, em decorrência de um câncer de fígado, Bowie, que completara 60 anos dois dias antes, trabalhou cuidadosamente no álbum 'Blackstar' e no musical 'Lazarus'. E, em ambos, a finitude é um tema que permeia várias letras. "Mas Bowie não traz isso de forma simples, evidente. Seu trabalho tornou-se clássico porque ele nunca refletia diretamente sobre o que se passava com o mundo naquele momento da criação - ele tinha a capacidade de selecionar as ideias que estavam fora do mainstream e que, muitas vezes, só iríamos entender o significado anos depois", observa Hirsch. "Por isso, 'Lazarus' é mais um convite a uma navegação sensorial que simplesmente uma peça com enredo e música." Escrito por Bowie e pelo dramaturgo irlandês Enda Walsh, o espetáculo se inspira no romance 'O Homem que Caiu na Terra', publicado por Walter Tevis em 1963, cuja versão para o cinema, rodada em 1976, teve o cantor como protagonista. Trata-se da vida atormentada de Thomas Jerome Newton, um alienígena que viaja para a Terra para salvar seu planeta, ameaçado pela falta de água. Na verdade, no palco, Newton é um ser alcoólatra, sem objetivo e incapaz de modificar sua terrível situação: imortal e incapaz de deixar a Terra. "Bowie vivia essa situação intermediária, buscando se encontrar em vez de simplesmente se deixar ir", explica Hirsch. "Acredito que Walsh veio para ajudar a organizar essas ideias." Com total liberdade para reorganizar o original (condição essencial, aliás, para aceitar o convite feito pela Dueto Produções, de Monique Gardenberg), o encenador buscou um caminho distinto das montagens de Londres e Nova York. "Fui mais fiel ao livro de Tevis, que busca descobrir a origem de sua existência." Para isso, contou com a ajuda de colaboradores fiéis ao seu pensamento. Assim, para a direção musical, ele convidou Maria Beraldo e Mariá Portugal, hábeis em criar sonoridades a partir da voz e de instrumentos. As canções, assim, fazem uma interessante costura com o tom ligeiramente onírico da trama. "O trabalho delas traz uma transcendência, alcançando o espírito das músicas de Bowie", confia o encenador. Já Daniela Thomas e Felipe Tassara criaram novamente um cenário instigante, em que o palco se movimenta, formando pequenos declives que auxiliam para mostrar o estado de espírito dos personagens. Com a presença de um enorme espelho atrás, que também se movimenta, Hirsch criou cenas de puro ilusionismo, dignas do canadense Robert Lepage, graças ainda às projeções que identificam o cenário. E a trilha traz 18 canções especialmente escolhidas por Bowie, como 'Life on Mars', 'Valentine’s Day' e 'Changes'. Destaque para as três que foram escritas especialmente para o musical: 'No Plan', 'Killing a Little Time' e 'When I Meet You'. Hirsch refletiu e, ainda que Bowie preferisse o contrário, manteve uma versão de 'Heroes' no final, como nas outras montagens. AGENDE-SE {TEXT} 4 O quê: Lazarus 4 Quando: Até 27/10, 5<SC210,170> a sábado, às 21h; domingo, às 18h 4 Onde: Teatro Unimed (Alameda Santos, 2.159, 1º andar, Jardim Paulista, São Paulo) 4 Quanto: De R$ 120,00 a R$ 180,00

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