O Instituto Anelo, que nasceu e cresceu na periferia, celebra as iniciativas de formação musical que atenderam a comunidade durante 25 anos e hoje expande fronteiras
O Anelo já beneficiou mais de 12 mil pessoas com seus projetos, firmou parcerias que propiciaram a participação de alunos em eventos internacionais e até se apresentou com a banda Titãs no programa Caldeirão do Hulk (Divulgação)
A iniciativa social que se transformou no Instituto Anelo nasceu do sonho de um jovem músico. Ele buscou apoio de comerciantes da comunidade do Jardim Florence, periferia de Campinas, para alugar o salão – onde funcionava um antigo bar – e usá-lo para dar aulas de música. Assim começava, em maio de 2000, o Anelo, uma instituição sem fins lucrativos que oferece aulas de música gratuitamente no Distrito do Campo Grande. Para celebrar os 25 anos, foram realizadas atividades todos os sábados de maio, e amanhã essa programação será encerrada com a apresentação em sua sede, entre 9h e 15h, das bandas Pretas&Pretos, Combo Anelo, Orquestra Anelo, Jam Session e os corais infantil, juvenil e adulto.
Ao celebrar seus 25 anos, a entidade contabiliza 1.200 alunos, mas já beneficiou mais de 12 mil pessoas em seus projetos intergeracionais desde o início de sua história. "A minha maior motivação ao iniciar, lá atrás, o trabalho com o Anelo era deixar de ser invisível, sair deste lugar em que me sentia só, mais um menino preto, esquecido na periferia, sem autoestima e sem perspectiva de um futuro. Nessa jornada, foram muitas pessoas que se conectaram e ainda estão conectadas com o Anelo, e não imaginavam o que ele seria hoje. Fala-se do Anelo hoje como referência, mas a ideia que eu tenho é mais modesta, porque somos uma referência dentro de uma realidade de diversas vulnerabilidades, em meio à ineficiência de políticas públicas", afirma o fundador Luccas Soares.
Desde 2020, o Anelo funciona em sede própria, em uma estrutura adaptada (antiga base da Guarda Municipal) para as atividades de ensino de música. Atualmente, o Anelo busca apoio para aprimorar e ampliar a estrutura disponível para a realização das atividades pedagógicas e artísticas, com espaços mais adequados e sustentáveis. A ideia para o futuro é também investir mais na qualidade de formação, ajudando a fazer dos alunos agentes multiplicadores. "Que eles inspirem mais pessoas a atuar pelas mudanças que desejam ver em suas comunidades”, comenta Luccas.
NOVAS FRONTEIRAS
Sonhar é um exercício muito estimulado no Anelo e contagia alunos e familiares. Por isso, ao longo dos anos, as fronteiras da entidade foram se expandindo para além das vielas do Jardim Florence, em Campinas, com várias premiações e reconhecimentos. Em 2018, por iniciativa de uma carta enviada por um pai de aluna, o programa Caldeirão do Huck (do apresentador Luciano Huck, da TV Globo) mostrou o trabalho em rede nacional. Nessa ocasião, o Anelo fez uma apresentação no programa com a banda Titãs e DJ Alok.
E o trabalho segue ampliando parcerias também em outros países. Foram firmadas colaborações com a Arcevia Jazz Feast, da Itália, onde mais de 40 jovens já foram representar o Anelo; Standard Bank Jazz Festival, na África do Sul; e com a unidade chinesa da Juilliard, uma das escolas de música mais conceituadas do mundo.
UM HISTÓRICO DE APOIOS
Ao longo dos anos, os voluntários apoiaram de várias formas, tanto com ajuda financeira quanto com apoio administrativo, social e pedagógico. O risco de fechamento sempre rondou o Anelo durante os 15 primeiros anos, com muitas crises, e foram as iniciativas do voluntariado – de pessoas e empresas – responsáveis por manter a continuidade do trabalho. Após 18 anos de atuação, o Anelo se estruturou, obteve aprovação de projetos em editais e acessou recursos por meio de leis de incentivo (como Lei Rouanet e Proac), possibilitando o fortalecimento e ampliação dos trabalhos.
Guilherme Ribeiro, músico que passou a colaborar quando a entidade ainda era embrião, comenta que "talvez seja difícil para as pessoas terem a noção que o Anelo começou com muito pouco, com colaboração de comerciantes, numa salinha. Hoje, uma das conquistas é que o Anelo se colocou na agenda da cidade, é um bem cultural, um patrimônio”. Ele foi um dos incentivadores para a criação da Orquestra Anelo, com estrutura de Big Band, da qual faz a direção artística.
Gabriela Ibiapina Lira Aguiar foi uma das voluntárias que se envolveu com o Anelo, contribuindo na estrutura administrativa. Ela chegou a presidir a instituição, organizando a estrutura burocrática para obter recursos do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, patrocínios de empresas privadas e captação via leis de incentivo.
Outro contribuinte importante é dr. John – nome pelo qual é conhecido o arquiteto e industrial Johnson Kahung Sieh –, que ajudou inclusive a planejar um novo espaço físico para as aulas. "O crescimento de Anelo tem sido espantoso, suas imagens e sons são inspiradores e de grande alcance. Minha esperança para o Anelo permanecerá com o amor e a alegria carinhosa da sua música que transforma”, comenta.
A assistente social Maria Madalena Meloni de Oliveira é outra colaboradora histórica, responsável pela elaboração dos planos de trabalho, relatórios e projetos do Instituto. "Agora o Instituto cresceu, profissionalizou sua atuação e conta com uma equipe multidisciplinar para realizá-la. Hoje sou quase só uma amiga, uma admiradora emocionada e orgulhosa de ver tantas vidas impactadas, talentos revelados, a música expandir-se, famílias convivendo e a comunidade valorizada."
PROGRAME-SE
Apresentações Anelo 25 anos
Quando: Amanhã (sábado, dia 31), a partir das 9h
Onde: sede do Anelo - Rua Vicente de Marchi, 718, Jardim Florence, em Campinas
Entrada Gratuita
Informações: : https://anelo.org.br/ -Instagram @institutoanelo
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