Música on-line filmes de streaming e série de TV: as preferências culturais dos brasileiros

As três principais atividades culturais dos brasileiros são virtuais. Ouvir música on-line lidera a lista de preferências, com 83%. Logo em seguida vem assistir a filmes em plataformas de streaming, com 73%, e depois, o consumo de séries, 69%. É o que demonstra a Pesquisa Hábitos Culturais realizada recentemente pelo Instituto Datafolha e Fundação Observatório Itaú, que ouviu 2.494 pessoas em todas as regiões do País. Para o vice-diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Michel Nicolau Netto, a pandemia pode ser relacionada ao comportamento das pessoas em aderir às atividades online, não como causa da mudança, mas como acréscimo das opções de lazer e da cultura online, diante das limitações das atividades presenciais impostas naquele período.

Os motivos mais apontados pelos entrevistados para justificar a preferência pelas atividades online ou em casa são a insegurança das ruas e questões financeiras, sendo citados os preços dos ingressos e o custo do deslocamento. O cansaço, disponibilidade de horário e a demora no trajeto também foram justificativas mencionadas. Outras atividades virtuais na preferência dos brasileiros são: assistir novelas (56%), ouvir podcasts (52%), jogos eletrônicos online (42%) e leitura de e-books e livros digitais (36%).

AMANTE DE BONS FILMES E SÉRIES

A jornalista Rosa Guedes integra o grupo crescente de pessoas que têm procurado por momentos de lazer em casa. Ela sempre foi uma amante da televisão. Com a chegada dos streamings, a paixão se estendeu ao online, devido às inúmeras possibilidades de títulos que as plataformas disponibilizam, mediante a assinatura mensal do serviço. O que a atrai é o conforto de estar em casa. Inclusive, ela tem o hábito de convidar os amigos e pessoas próximas para desfrutar desses momentos. Não sair aos sábados e maratonar uma série tornaram-se-parte de seus momentos de qualidade. 

Rosa também gosta de ouvir podcasts e músicas online. Entre o período em que trabalha e de descanso, ela acredita gastar em média quatro horas por dia com os momentos de lazer online e em casa. Às sextas-feiras, ela se propõe a fazer diferente e sair de casa junto com o marido e alguns amigos. O hábito de sair se reduziu durante a pandemia da covid-19, período em que ela e as seis irmãs que moram em cidades diferentes começaram a assistir a séries simultaneamente. Assim, quando se encontravam online, trocavam opiniões e se atualizavam sobre os novos episódios. 

Desde o final da pandemia, Rosa foi ao cinema apenas uma vez. Estar em casa, se proporcionar um momento a sós, ao mesmo tempo em que consome cultura na TV, é uma oportunidade de desfrutar de sua própria companhia. “As narrativas, histórias dos personagens, modos de pensar e os diferentes pontos de vista de uma mesma trama me envolvem. Normalmente, eu me empolgo. Gosto de histórias altruístas, inspiradoras. Assim, a TV e a minha casa também ganharam espaço como se fossem minhas amigas.”

FONE DE OUVIDO, UMA COMPANHIA INSEPARÁVEL

A também jornalista Karime Ribeiro afirma não ter muito tempo livre. Ela se divide entre o trabalho, a maternidade e os afazeres de casa. Entre uma tarefa e outra, ouvir música online é algo comum e diário, principalmente enquanto pratica alguma atividade física. Por isso, o fone de ouvido tornou-se sua companhia inseparável. Às vezes, as músicas dão lugar ao podcast e a áudios de transcrições de programas de entrevistas.

Aos finais de semana, ela prefere ficar em casa. A preguiça de interagir com desconhecidos e muitas vezes se decepcionar com as relações a fizeram preferir as comodidades e o conforto que encontra em seu lar, por ter a garantia de que a dinâmica será da maneira que ela escolher, sem imprevistos ou motivos que a façam se arrepender.

Quando sai de casa, suas preferências são ir ao cinema e ao teatro. As questões de deslocamento e financeiras acabam pesando na escolha de não sair. Karime mora em Vinhedo, então quando escolhe ir ao cinema, por exemplo, precisa ir até a cidade mais próxima. Na conta, entram os custos com o combustível, o valor do estacionamento do local e do ingresso, e a possibilidade de gastos com comida e bebida. Assim, na comparação, o custo-benefício do pagamento dos serviços de streaming compensa, tendo em vista que as plataformas podem ser utilizadas todos os dias, sem limite.

ANÁLISE ESPECIALISTA

O vice-diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Michel Nicolau Netto, informou que a universidade, em parceria com outras instituições, tem realizado pesquisas para mapear a relação de classe social e cultura. Ao analisar as preferências apontadas na Pesquisa Hábitos Culturais, ele ressaltou que as atividades on-line não necessariamente ocorrem dentro de casa, apenas significa que o momento de lazer e cultura se dará por meio de uma plataforma. Há os que utilizam o streaming e escutam música online no ônibus, no carro e enquanto praticam atividade física, por exemplo.

Ele aponta que a escolha pelo on-line ou presencial não implica em substituição das atividades, uma pela outra. "O que ocorre é um acréscimo das atividades culturais, no geral. Para além do presencial, agora nós temos mais opções”, afirma. A conclusão positiva, acrescenta, é o aumento de pessoas que recorrem a alguma atividade cultural e a intensificação dessa procura.

“Mesmo com a diversidade das opções de lazer on-line, há quem prefira determinadas atividades presenciais, como os shows de música. Mesmo que eles sejam também transmitidos on-line, quem tem a oportunidade de ir, acaba optando por assisti-lo presencialmente.”

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