Exposção 'Vestígios', de Kika Nicolela, está em cartaz no Museu da Imagem e do Som
Rapaz observa uma das obras da exposição Vestígios, em cartaz no Museu da Imagem e do Som em Campinas ( Leandro Ferreira/AAN)
Uma viagem ao mundo das imagens analógicas. Assim pode ser resumida a exposição Vestígios, da artista plástica Kika Nicolela, em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS). O foco são fotografias e vídeos criados a partir de filmes caseiros de famílias da região. “Minha primeira motivação para o trabalho foi pessoal. Sentia falta de entender o contexto em que nasci”, diz Kika. Ela nasceu em Campinas na década de 70, mas saiu da cidade com apenas 1 ano. “Queria entender essa história, uma espécie de melancolia do passado. Ver como era a vida na região naquela época pelo ponto de vista da intimidade, não da história oficial”, explica a artista.A outra razão, segundo ela, é a falta de uma política nacional de resgate da mídia em película, material que se deteriora rapidamente sem um cuidado adequado. “Até mesmo na Cinemateca Nacional muitas relíquias estão se perdendo pela falta de estrutura em manter as películas num ambiente adequado. Imagina os acervos pessoais, guardados de forma aleatória, sujeitos a umidade”, avalia. Kika cita que o registro analógico vem caindo cada vez mais no esquecimento. Porém, por mais de um século o filme foi usado como documento e memória pessoais. Considerando a quantidade acumulada de filmes e cópias em diversos formatos (35mm, 16mm, 8mm, super-8, fotografias, slides e negativos nunca copiados que estão se perdendo), no ano passado, a artista, que atualmente vive entre São Paulo e Zurique, na Suíça, elaborou o projeto Media Memory Collection, aprovado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) do governo estadual, com o qual recolheu doações de filmes caseiros e passou a trabalhar esse material.“No projeto, fiquei particularmente interessada em usar material em que o processo químico de deterioração já tinha deixado sua marca, de forma aleatória e única ao mesmo tempo”, explica. Ela coletou doações de filmes de famílias da região que retratam a intimidade e o cotidiano nas décadas de 50, 60, 70 especialmente e início dos 80. Quase todos os rolos de filme estavam se deteriorando, alguns já em estado avançado. Após o trabalho de restauro e digitalização, os filmes foram devolvidos aos participantes, juntamente com suas cópias digitais. “Assim, as famílias podem acessar e manter a memória familiar contida nesses suportes que, de outra maneira, acabariam se perdendo”, diz Kika, citando que a maior parte dos familiares nunca tinha visto esses registros até então. Em contrapartida, os participantes a autorizaram a utilizar esse arquivo como base de suas obras.“A proposta foi fazer um retrato daquela época pelo viés da intimidade, algo que tem a ver com a minha história. Mesmo não sendo da minha família, nos filmes reconheci muitas coisas que vivenciei, roupas, penteados”, resume.Serviço Exposição 'Vestígios', de Kika NicoletaDe terça a sexta, das 10h às 17h; e sábado, das 10h às 16h. Até 5/10No Museu da Imagem e do Som - MIS (Rua Regente Feijó, 859 - Centro) - Campinas. Telefone: (19) 3733-8800De graça