Conexão entre o CAFÉ e a HISTÓRIA

Mostra gratuita na Casa de Vidro expõe objetos históricos de Campinas

Exposição Café & Cidade revela a cultura cafeeira como o motor do desenvolvimento da cidade

Cibele Vieira
31/05/2022 às 10:05.
Atualizado em 31/05/2022 às 10:05
Santa do pau oco, que pertenceu à antiga Fazenda Taquaral (Juliana Vieira)

Santa do pau oco, que pertenceu à antiga Fazenda Taquaral (Juliana Vieira)

Ao passar pelas ferramentas e maquinários usados no campo no final do século 19, os visitantes da mostra "Café & Cultura" se sentem mergulhando na história. Entre objetos cotidianos da época, esculturas, fotos e gravuras é possível traçar um paralelo entre a riqueza gerada pelo grão - e sua mão de obra escrava - e suas influências no crescimento da cidade. Os anos que finalizaram o século 19 e os que iniciaram o século 20 foram fortemente marcados por essa relação da cidade com o café e a exposição que fica na Casa de Vidro, do Lago do Café, até o dia 24 de junho esclarece parte dessa história. 

O próprio local da exposição - a Casa de Vidro - é uma referência histórica. Foi este prédio - projetado pelo arquiteto Roberto José Goulart Tibau (1924-2003), em 1970, usando concreto armado e vidro - que sediou por duas décadas o antigo Instituto Brasileiro do Café (IBC). Quando o órgão foi extinto, em 1990, o Lago do Café e todas as construções que lá existiam foram doados para o município, que manteve em seu interior o Museu do Café, fechado no ano passado para reformas. Hoje, a Casa de Vidro sedia atividades culturais e preserva o acervo do Museu da Cidade. 

Parte do conjunto da mostra veio do Museu do Café, como as ferramentas do trabalho na lavoura (enxada, peneira, escada de colheita e outras) que abrem a exposição. Elas são seguidas de imagens selecionadas no arquivo do Centro de Memória da Unicamp, que mostram cenas da época com a população trabalhadora nas lavouras, formada principalmente por escravos. Há também peças do Museu da Cidade, como uma liteira - uma espécie de cadeira coberta que transportava pessoas entre as fazendas sobre os ombros dos escravos - que data de 1876 e pertencia à Fazenda Rio das Pedras. 

Peças de destaque

A coordenadora do Museu da Cidade, Adriana Barão, ressalta duas aquarelas importantes que estão expostas. Elas foram produzidas em 1951 por José de Castro Mendes e mostram construções históricas da cidade sendo erguidas pelos escravos. "Quando falamos do café, lembramos do trabalho escravizado, mas é importante lembrar também que a riqueza do grão impulsionou o desenvolvimento da cidade, como a construção da primeira igreja matriz de Campinas e o antigo teatro São Carlos", relata.

Para ela, os registros feitos em aquarela pelo artista, historiador, músico e pesquisador que dá seu nome ao Teatro Municipal mostram com muita clareza essa relação do café como promotor do desenvolvimento urbano. 

A mostra inclui ainda objetos do cotidiano das fazendas, como uma Santa do pau oco - escultura religiosa em madeira que tinha o interior oco para esconder objetos valiosos - que pertencia à antiga Fazenda Taquaral e foi incorporada ao acervo do IBC. E uma salamandra de ferro - uma espécie de aquecedor de ambiente à lenha, que também acomodava ao seu redor pequenos ferros de passar roupa - além de rocas de fiar, balança para sacas de café destinadas ao Porto de Santos, um torrador de café gourmet do início do século 20, entre outras curiosidades. 

Uma maquete da Cia Lidgerwood também incorpora a exposição. Afinal, a fundição foi responsável pela fabricação do maquinário agrícola que impulsionou as fazendas de café da região. Ela marcou o início da industrialização no País e a mecanização agrícola ajudou a internacionalizar o café brasileiro. Sua localização urbana inclusive é considerada uma síntese do desenvolvimento econômico paulista, representado pelo café, pela ferrovia e pela industrialização. Adriana Barão lembra, ainda, que a antiga fábrica da Lidgerwood - tombada pelo Patrimônio Histórico - já sediou o Museu da Cidade. 

Desdobramentos previstos

A mostra integra o Projeto Café & Cidade, que é coordenado pelo professor André Argollo, da Unicamp, em parceria com Museu da Cidade e o Projeto Arquitetura do Café. A ideia é desdobrar essa exposição em várias ações para levar o público a refletir sobre os aspectos históricos, sociais e econômicos que cercam o grão que já foi chamado de "ouro verde" e deu a Campinas o título de "Princesa D'Oeste". Em julho, um recorte dessa mostra será instalado no Centro de Cultura Caipira em Joaquim Egidio, onde ficará por um período longo e receberá eventos periódicos como degustações, cursos e palestras ligados ao café.

PROGRAME-SE 

Mostra Café & Cidade 

Quando: até 24 de junho - de terça a sexta-feira das 10h às 12h e das 14h às 17h e sábados das 10h às 14h 

Onde: Casa de Vidro (Museu da Cidade), no Lago do Café - Av. Heitor Penteado, 2145, Taquaral

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