Evento internacional - uma festa para os cinéfilos - tem programação quase 100% digital
Cena do filme 'Balada de um Homem Comum', de Joel e Ethan Coen, vencedor do Grande Prêmio do Júri de Cannes este ano ( Divulgação)
A Mostra é um risco. A definição de Renata de Almeida, diretora de um dos mais aguardados eventos de cinema do País, a 37ª Mostra Internacional de São Paulo que começa nesta quinta-feira (17), refere-se a quem a realiza e a quem a desfruta. Quase 100% digital (apenas três filmes serão exibidos em película, fora os das retrospectivas), ela conta que conseguiu se acalmar só quando viu a programação pronta.“Mas a Mostra é um risco, assim como cada sessão. Pode haver erros, ou o arquivo digital não abrir; são problemas que afetariam a nós e ao público.” E ao lado do risco técnico há o do conteúdo. E este bem mais agradável. Alguém pode não gostar de um filme (por ser diferente daquilo que está acostumado) ou sentir estranhamento no início e elaborá-lo melhor depois. Tudo isto faz parte do espírito do evento, sugere.No princípio da história de 37 anos, a Mostra descortinava um universo de informações em meio a um País fechado pela ditadura. Em tempos de internet, que se pode ver filmes à vontade, qual seria o papel da Mostra? O mesmo, responde Renata. “Quase quatro décadas atrás não havia nenhuma informação, hoje há um oceano. Nosso papel é organizar algumas e oferecê-las ao público.”Segundo ela, a história se encarregou de conferir confiabilidade à Mostra. “O público sabe o que encontrar, seja nas retrospectivas que permitem às pessoas verem filmes aos quais nunca assistiram na tela grande, seja nas descobertas de diretores e obras, gente que está começando, ou que há muito está em atividade.”Cita o exemplo do cineasta filipino Lav Diaz, um dos homenageados desta edição. Conhecido por abordar questões sociais e políticas do seu país, ele se consagrou em grandes festivais, mas pouca gente o conhece no Brasil. Diaz será júri e apresentará 12 títulos da sua filmografia.Além disso, Renata aposta em algo essencial ao ser humano. “Somos seres sociais, gostamos de estar juntos, de assistir ao filme no evento de comunhão que são as sessões. Não tiro a importância da internet em termos de informação, mas ela não substitui a emoção de ver filmes na tela grande.” E conta a história que sempre repete: a do rapaz que lhe apresentou o filho, dizendo que conheceu sua mulher em uma fila da Mostra.Renata se diz satisfeita ao saber que no ano passado 20% do público nunca tinham ido à Mostra. E, em geral, são jovens. Essa renovação significa a alma do evento, pois sem o público, diz, não haveria sentido. Para ele, a equipe da diretora fez a seleção a partir de 1,5 mil inscrições. “Todos os filmes de que gostei foram selecionados, mas também escolhi com base na diversidade; buscamos o equilíbrio pensando em um público amplo.” O eventoA Mostra será aberta nesta quinta, no Auditório Ibirapuera, para convidados, com 'Balada de um Homem Comum', de Joel e Ethan Coen, vencedor do Grande Prêmio do Júri de Cannes em maio. Até 31 de outubro, serão exibidos títulos de cinematografias hegemônicas como as dos Estados Unidos, França e Inglaterra; de países com cinema consolidado (Itália, Alemanha, Espanha, Brasil, Argentina, México, China, Japão, Coreia do Sul e Rússia); e menos conhecidas, como Grécia, Bulgária, Indonésia, Polônia, Israel, Filipinas, Noruega, Hungria, Finlândia, Ucrânia, Iraque ou Afeganistão.Além de Lav Diaz, o britânico Stanley Kubrick ganha homenagem. Haverá retrospectiva, exposição composta de vídeos dos filmes, figurinos, objetos de cena, documentos e fotos; lançamento do livro 'Conversas com Kubrick', do crítico francês Michel Ciment, que virá a São Paulo; e tributo na arte do cartaz da Mostra e na vinheta. A arte é uma aquarela feita pela mulher do cineasta, Christiane, em 1974, durante as filmagens de 'Barry Lyndon'.O brasileiro Eduardo Coutinho também ganha retrospectivas. Considerado o mais importante documentarista do País, Coutinho, que está completando 80 anos, terá lançamento do livro com o nome dele, coletânea de textos editado pela Cosac Naify, Sesc e a Mostra.No dia 26 de outubro será exibido ao ar livre, no Parque do Ibirapuera o filme 'Nathan, o Sábio', de Manfred Noa, clássico restaurado do cinema mudo alemão, de 1922, que ficou desaparecido entre 1930 e 1996. O prêmio Leon Cakoff homenageia os diretores Ettore Scola e Hector Babenco. O italiano estará em São Paulo no encerramento para exibir seu mais recente filme, 'Que Estranho Chamar-se Federico'.Serviço Mostra Internacional de Cinema de São PauloAté dia 31 de outubroEm diversos espaços (ver locais e programação em http://37.mostra.org)Ingressos: Permanente integral (R$ 410), permanente especial para sessões de 2ª a 6ª-feira até às 17h55 (R$ 95), pacote com 40 ingressos (R$ 300), pacote com 20 ingressos (R$ 175), ingressos individuais, de segunda a quinta (R$ 15 e R$ 7,50), e de sexta a domingo (R$ 19 e R$ 9,50). Vendas no saguão do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2.073, São Paulo)