despedida

Morre Léa Ziggiatti, uma incentivadora da cultura e das artes na cidade

A mantenedora do Conservatório Carlos Gomes e grande incentivadora das artes na cidade morreu ontem e será sepultada nesta quarta-feira, às 10h30, no Cemitério da Saudade

Cibele Vieira/ [email protected]
17/01/2024 às 09:25.
Atualizado em 17/01/2024 às 09:25
Pedagoga, bacharel em Direito, jornalista e musicista (pianista e flautista por formação), Léa Ziggiatti foi, por mais de cinco décadas, a mantenedora do Conservatório Carlos Gomes. (Divulgação)

Pedagoga, bacharel em Direito, jornalista e musicista (pianista e flautista por formação), Léa Ziggiatti foi, por mais de cinco décadas, a mantenedora do Conservatório Carlos Gomes. (Divulgação)

O Hino das Crianças do Conservatório, uma das composições da musicista Léa Ziggiatti Monteiro, será executado por seus ex-alunos, na cerimônia de despedida que ocorrerá na manhã desta quarta-feira (17), no Cemitério da Saudade, onde ela será sepultada às 10h30. Léa completaria 88 anos no dia 8 de fevereiro e, embora com limitações físicas, nunca deixou de se envolver com a arte e a cultura. Ela deixa dois filhos, Evandro – que é professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Unicamp – e Lara, que a sucedeu na direção do Conservatório Carlos Gomes (CCG), instituição com 97 anos de existência.

Pedagoga, bacharel em Direito, jornalista e musicista (pianista e flautista por formação), Léa Ziggiatti foi, por mais de cinco décadas, a mantenedora do Conservatório Carlos Gomes. Por muitos anos, ela escreveu sobre arte e cultura no extinto Diário do Povo e no Correio Popular (entre 1981 e 2005), no chamado Correio Ilustrado, embrião do atual Caderno C. Léa dizia que Direito nunca foi sua praia, mas que o jornalismo era uma vocação.

“Ela foi uma patronesse da cultura em Campinas, escreveu inúmeras crônicas valorizando sempre a arte e a cultura e, ultimamente, o que ela mais dizia era que queria continuar trabalhando, mas o corpo já não ajudava. Agora, eu acho que ela vai trabalhar no plano espiritual, nos inspirando aqui no plano terreno. O Conservatório, que ela dirige desde os anos 1960, tem planos de trazer um teatro de bolso para Campinas e ela, com certeza, vai ajudar nesse projeto de criar o teatro Léa Ziggiatti”, declarou o filho Evandro.

Quando o conservatório completou 95 anos (2022), ela passou a direção administrativa da escola para a filha Lara – que é violoncelista da Sinfônica de Campinas –, mas estava sempre no local, acompanhando com entusiasmo todas as atividades. Lara comenta que "o CCG sempre foi um coração pulsando a cultura da cidade, hoje renovado por novos ares. Devemos isso à minha mãe, que nos contagiou com sua boa energia e sempre foi a alma e o cérebro dessa instituição".

Léa passou por uma cirurgia de urgência na madrugada de domingo, após fortes dores abdominais, teve complicações, foi para a UTI “e, sedada, partiu dessa vida, nos deixando um legado de genialidade, sensibilidade, acolhimento e desenvolvimento das artes em Campinas e região”, informou a coordenadora pedagógica do CCG, Cláudia Bortolato.

SONHOS E REALIZAÇÕES

A criação do Conservatório Carlos Gomes nasceu do sonho do maestro e compositor Antônio Carlos Gomes (1836-1896), que queria construir em sua cidade natal um Conservatório de Música. O CCG foi fundado como uma escola de música em 1927, por José Ziggiatti, de quem Léa era neta. Ela assumiu a direção da instituição em novembro de 1965 e se dedicou a pesquisar e elaborar uma Educação Artística integrada, envolvendo Música, Artes Plásticas, Dança e Teatro. E colocou suas teorias em prática, nos cursos especiais de Arte para crianças e jovens, um método próprio que foi apresentado em congressos de educação em vários países.

O Conservatório se tornou, sob sua direção, um símbolo de resistência cultural na cidade, se consolidando como um centro de artes. Dentro de suas salas, nasceu a orquestra que se transformou na Sinfônica de Campinas, o Coral Meninos Cantores de Campinas, e foi onde começaram a se desenvolver talentos de artistas de teatro como Edgar Rizzo, Zé de Oliveira, Abílio Guedes, da televisão como Regina Duarte, de artes plásticas como Paulo Cheida e Jésus Seda, de dança como Dulce Mirian Schmidt, da música como Deise de Lucca e Paulo Steinberg, entre muitos outros. Um levantamento informal indica que apenas pelos cursos técnicos já passaram mais de mil profissionais das artes.

HOMENAGENS

“Luto na Cultura de Campinas. Faleceu a querida Léa Ziggiatti, falar dela é reconhecer uma das maiores personalidades fazedoras de arte e cultura de Campinas... É um legado que enriquece nossa cultura e ilumina o caminho para as futuras gerações de artistas. Descanse em paz ao som das músicas da orquestra que você tanto admirava.”
Alexandra Caprioli Secretária de Cultura e Turismo – ex-aluna do CCG

“Ela foi uma jornalista muito moderna, era uma revolucionária. Juntos e ainda jovens, implantamos a escola de artes para crianças, ficamos muito amigos. É uma grande perda, ela colocou a cultura de Campinas em uma posição de destaque.”
Egas Francisco, Artista plástico

“Léa Maselle Ziggiatti Monteiro foi uma das mais destacadas musicistas de Campinas e deixa seu nome esculpido na história da cidade, um tributo cunhado na mente e coração de todos nós.”
Jorge Alves de Lima Presidente da Academia Campinense de Letras

“Todos que acompanharam o incrível trabalho de Léa Ziggiatti pela cultura de Campinas se sentem tristes com essa notícia. Prontificou em muitas áreas artísticas e no jornalismo, com raro brilho.”
Alcides Acosta Presidente da Associação de Cantores Líricos (Abal)

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