história em risco

Monumentos históricos de Campinas sofrem com depredações e abandono

Os bustos e monumentos em homenagem a campineiros ilustres estão sendo furtados, vandalizados e depredados, sem uma política efetiva de preservação

Cibele Vieira/ [email protected]
27/08/2023 às 12:42.
Atualizado em 27/08/2023 às 12:42
A responsabilidade pela segurança do patrimônio público cabe à Guarda Municipal, (Divulgação)

A responsabilidade pela segurança do patrimônio público cabe à Guarda Municipal, (Divulgação)

Campinas tem um dos mais importantes acervos nacionais de monumentos públicos artísticos no seu território, um conjunto de 105 monumentos tombados pelo patrimônio histórico e outros cerca de 20 não tombados, mas sem uma política de segurança, valorização e preservação efetiva. Por isso, quem anda pela cidade verifica nas praças e áreas públicas pedestais sem o busto de bronze, sem as placas, com pedaços faltando e muitas pixações. Nas três últimas semanas foram furtadas algumas preciosidades históricas, como o busto do Padre Anchieta (em frente ao colégio Carlos Gomes), o monumento da Companhia Mogiana (em frente à Estação Cultura) e peças do monumento túmulo de Carlos Gomes (na Praça Bento Quirino).

O arquiteto, urbanista, restaurador e professor universitário Marcos Tognon acompanha essa questão e comenta que é urgente a implementação de um plano de segurança para esse patrimônio. "Percebemos que há um plano, um grupo que fez roubos significativos e não vai parar. Os monumentos precisam de restauro urgente, iluminação, videovigilância e painéis informativos". Ele acrescenta que "monumentos como aquele do D. Nery, do Bicentenário do Café, o conjunto em homenagem a Tomaz Alves, e até mesmo o Campos Salles, se encontram em estado lastimável, com várias partes roubadas ou removidas, com pátinas químicas erodidas".

Tognon sugere que a Prefeitura "crie uma força-tarefa para encerrar essas décadas de descaso com um patrimônio único, celebrado em uma publicação em 1974, justamente no período em que se comemorou duzentos anos da fundação da cidade. Vamos completar 250 anos, o momento é agora para valorizar esses monumentos!". Na Prefeitura, três secretarias se responsabilizam pelos monumentos, mas tudo indica que não há muita sintonia entre elas sobre esse trabalho. A Secretaria de Segurança Pública cuida, por meio da Guarda Municipal, da questão de vigilância. A Secretaria de Serviços Públicos é responsável pela limpeza e manutenção, enquanto as questões de tombamento e reposições são de responsabilidade da Secretaria de Cultura e Turismo.

DEBATES SOBRE A REPOSIÇÃO

A secretária de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, conta que tem conversado com setores da Unicamp para encontrar uma alternativa para a reposição dos monumentos depredados, furtados ou vandalizados. Uma das alternativas debatida, com apoio do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), é reconstruir em material sem interesse comercial e usar novas tecnologias como a impressão em 3D para manter a perfeição dos detalhes técnicos e históricos.

"Não adianta repor nos materiais originais como bronze ou cobre, porque vão roubar novamente, esses materiais hoje são muito valorizados", explica. Entretanto, o primeiro passo para isso seria construir um inventário atualizado de todos os monumentos da cidade para avaliar o que precisa ser refeito, reposto ou consertado, para fundamentar um projeto de recuperação e/ou substituição. Mas hoje tudo isso são ideias ainda em discussão, admite.

DEZ INTERVENÇÕES MENSAIS

Responsável pela Secretaria de Serviços Públicos, Ernesto Paulella explica que as equipes do departamento de Parques e Jardins fazem a manutenção mensal das praças e os encarregados comunicam quando há algum problema de vandalismo nos monumentos instalados nesses locais. "Temos em média dez intervenções por mês, entre pixações e depredações", afirma. "Quando conseguimos recuperar as pedras quebradas ou pedaços das peças, guardamos e comunicamos pasta de Cultura porque a reposição tem que ser acompanhada por técnico do patrimônio histórico. As lavagens das peças em granito ou mármores são feitas em média duas vezes por ano, por uma empresa especializada contratada para isso, a Camp Ambiental", diz Paulella.

Monumento de Carlos Gomes é um dos monumentos que foram pichados (Divulgação)

Monumento de Carlos Gomes é um dos monumentos que foram pichados (Divulgação)

Segundo o secretário, a equipe dessa empresa terceirizada lava as pedras usando jatos de alta pressão para limpeza geral e produtos químicos para remover pixações. Entretanto, ele ressalta que é um problema social, há furto para vender peças e quando conseguem limpar, "na semana seguinte está pixado novamente, e em muitos casos não conseguem remover a tinta porque o granito é poroso, ela penetra e nesses casos não tem o que fazer". Já as peças metálicas dos bustos, geralmente bronze, "não pode lavar para não tirar a pátina (o zinabre do bronze), que cria um efeito esverdeado como sinal de envelhecimento da peça". Ele comenta ainda que nos últimos vinte anos vem aumentando o vandalismo nos monumentos, com depredação, quebra, furto e pixação.

A responsabilidade pela segurança do patrimônio público cabe à Guarda Municipal, que não respondeu aos questionamentos enviados sobre isso. Em uma "nota oficial da corporação", justifica que os agentes fazem a segurança de monumentos durante o patrulhamento, abordando quando suspeitos quando os pega em flagrante em ações de depredação ou vandalismo. Diz ainda que tem "feito operações para identificar receptadores de metais, como bronze e cobre, e assim coibir os furtos", mas não deu detalhes sobre essas operações. E solicitou que a população denuncie pelo 153 quando observar esse tipo de ocorrência, "fornecendo o máximo possível de características do autor".

EDUCAÇÃO E CULTURA

"A única solução para o vandalismo é a Educação e Cultura", afirma o secretário Paulella, lembrando que o problema ocorre em menor escala na Europa porque lá as pessoas entendem a importância dos monumentos em seu contexto histórico. Por isso, ele sugere que sejam criados programas com alunos das escolas municipais para fazerem, periodicamente, tours pelos monumentos para entender, conhecer a história e conscientizar sobre sua importância.

A pasta de Cultura concorda com a linha de educação das novas gerações para construir um senso de preservação através do conhecimento. Embora sem um programa sistemático alinhado com a Educação, algumas iniciativas esporádicas nesse sentido vêm sendo adotadas, como a preparação para o mês de Carlos Gomes (que acontece em setembro), que foi iniciada em agosto com roteiros realizados pelos monumentos em homenagem ao maestro campineiro, que tiveram a participação de aproximadamente 1.400 alunos das escolas públicas, conta Alexandra Caprioli.

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