PROGRAME-SE

MIS recebe sessão única e inédita de ‘O Grande Espanto de Dorothy Boom’

A produção, que só foi apresentada em São Paulo, vem a Campinas para contar a história da famosa Gilda e depois segue para exibição em festivais

Cibele Vieira/ [email protected]
27/03/2024 às 08:53.
Atualizado em 27/03/2024 às 08:53
A protagonista do filme é Regina Müller, antropóloga e performer que, por décadas, atuou como professora e diretora no Instituto de Artes da Unicamp (Divulgação)

A protagonista do filme é Regina Müller, antropóloga e performer que, por décadas, atuou como professora e diretora no Instituto de Artes da Unicamp (Divulgação)

Devoção e transgressão são duas palavras que representam bem as sensações do filme “O Grande Espanto de Dorothy Boom”, que terá uma sessão especial e gratuita nesta quarta-feira (27) no Museu da Imagem e do Som (MIS). O longa-metragem vem para essa exibição na cidade, antes mesmo de seguir para os festivais do ano, porque muito da história está relacionada a personagens locais, como contam os produtores Alberto de Oliveira e Alberto Camarero, conhecidos como “Os Albertos”, já que atuam em parceria como escritores, cineastas e produtores culturais.

O filme tem um bloco sobre a “Gilda de Campinas”, uma personagem local folclórica que zanzava pelo centro da cidade entre os anos 1940 e 1970, e exibe imagens dela em arquivos de vídeo. A protagonista do filme é Regina Müller, antropóloga e performer que por décadas atuou como professora e diretora no Instituto de Artes da Unicamp. A película agrega ainda os depoimentos dos campineiros Egas Francisco (artista plástico) e Augusto Sevá (cineasta), conta Camarero, cineasta que foi criado em Campinas, onde viveu até os 30 anos. Oliveira também é da região, nascido em Jundiai, mas ambos moram na capital paulista nesta quarta-feira.

Durante a pandemia de coronavírus – 2020 e 2021 –, Oliveira e Camarero se isolaram em um sítio no interior de São Paulo para dar continuidade a uma série de projetos nos quais trabalham. “Foi nessa época, andando pelas estradas de Itupeva, que nos deparamos com algumas capelinhas e passamos a voltar com certa frequência a elas, encantados com a aura de mistério que as envolvia”, contam. Eles passaram a registrálas, pela beleza estética e por terem virado um lugar de descarte de objetos devocionais católicos ou de raiz africana, percorrendo inclusive outras cidades da região em busca de capelinhas para filmar. Esse registro foi sendo valorizado porque muitas delas foram destruídas nos meses seguintes.

“Conforme mergulhávamos naquele universo, nascia em nós uma reflexão mais profunda e percebemos que algo parecido se dava com os ídolos pop, fossem eles de rádio, disco, televisão, cinema, teatro ou até mesmo da internet: após um tempo sob os holofotes e sendo alvo de adoração, poucos escapam do descarte, seja pelos veículos midiáticos que os construíram ou pelo próprio público que antes os idolatrava”, relata Oliveira. Foi assim que nasceu a figura de uma “Carmen Miranda andarilha e fantasmagórica circulando pelas capelinhas em ações performáticas pensadas para o cinema”, revela Camarero.

Para representá-la, eles chamaram a atriz e performer Regina Müller, conhecida nas rodas burlescas e cabareteras como Dorothy Boom, com quem os cineastas já haviam trabalhado no filme anterior e em outros projetos com a experiência de “incorporar” Carmen. Na prática, porém, a caracterização de Regina para a primeira gravação do filme remeteu a outra figura do imaginário popular: a famosa Gilda de Campinas.

Camarero, que a conheceu, comenta que “essa figura de mulher atraía olhares curiosos, sorrisos e, muitas vezes, expressões de desdém pelo incômodo que a diferença sempre causou. Em suas caminhadas, trajada sempre como uma estrela de cinema, distribuía sorrisos, parava para fotos, dava autógrafos e cantava quando pediam. Uma verdadeira celebridade atendendo seus fãs”.

“Substituir a Carmen Miranda andarilha do argumento original por uma versão underground de Gilda nos pareceu pertinente, pois a própria estrela das ruas campineiras era um exemplo de devoção intensa a um ídolo, além de ser uma legítima andarilha urbana”, afirma Oliveira.

Paula Toledo, filósofa e performer (@raeliselektra), colaborou com um contraponto como iconoclasta. No elenco, se somaram Índia Rubla e André Silva no quadro das capelinhas, Egas Francisco e Augusto Sevá no de Gilda e Maura Ferreira e Bayard Tonelli em participações pontuais. Os produtores ressaltam ainda que Dorothy Boom, a persona de Regina, se impôs de tal forma no roteiro que “o filme passou a ser guiado por sua caminhada existencial nos temas iconofilia e iconoclastia, devoção e transgressão, incorporação e performance”.

PROGRAME-SE

Exibição do filme “O Grande Espanto de Dorothy Boom”

Quando: quarta-feira, às 19h30

Onde: Sala Glauber Rocha do MIS Campinas – Rua Regente Feijó, nº 859, Centro

Entrada Gratuita – Distribuição de ingressos a partir das 19h

Informações: Instagram @osalbertosapresentam @mis.campinas

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