Documentário de campineiros abre evento dedicado ao ator, produtor, diretor e empresário
Mazzaropi em cena do filme 'Nadando em Dinheiro' (Divulgação)
O caipira mais famoso do Brasil e um dos personagens mais carismáticos e populares da cultura brasileira das décadas de 50 a 80 é homenageado com o ciclo 'Mazzaropi', promovido pelo Museu da Imagem e do Som (MIS), com curadoria dos produtores de um documentário sobre o ator, produtor e diretor. O média-metragem 'Mazzaropi: o Jeca Empreendedor', produzido por cinco campineiros, abre o ciclo que apresenta, ao longo da semana, sete filmes do cineasta paulistano. O documentário foi resultado do trabalho de conclusão de curso de jornalismo da PUC-Campinas dos então estudantes Amanda Cotrim, Danilo Zanini, Marcelo de Barros, Priscila Souza e Renata Ananias.
Segundo Amanda, a data foi escolhida em função do aniversário de Mazzaropi, que no dia 9 de abril completaria 101 anos. “Esta data foi escolhida porque o mês de abril fecha o centenário de Mazzaropi, comemorado durante todo o ano de 2012”, diz Amanda.
Compõe o ciclo os filmes: 'Sai da Frente' (1952), 'Chofer de Praça' (1958), 'Casinha Pequenina' (1963), 'Meu Japão Brasileiro' (1965), 'O Corintiano' (1966), 'A Banda das Velhas Virgens' (1979) e 'Jeca e a Égua Milagrosa' (1980). “Depois de cada filme, vamos promover um debate com o público, com o objetivo de trazer as pessoas para mais perto de Mazzaropi”, adianta Amanda. Além de pelo menos dois dos produtores do documentário nos debates, já está confirmada a participação do jornalista Tiago Gonçalves, para falar sobre o circo-teatro, meio ambiente e cooperativas, temas recorrentes na obra de Mazzaropi.
“Diferentemente de outras produções sobre ele, nosso documentário não é biográfico. O filme, como o nome já diz, mostra Amácio Mazzaropi, como o empresário empreendedor que ele foi, fato que se comprova pelos números”, afirma Amanda. Segundo dados da Produções Amácio Mazzaropi (PAM Filmes), Mazza, como era chamado, participou de 32 filmes, sendo que desses, 24 ele produziu com recursos próprios, recorrendo à venda de seus bens. “Seus filmes foram vistos por cerca de 160 milhões de pessoas em 30 anos de carreira. Ele ganhou muito dinheiro com cinema”, conta a jornalista.
De acordo com Amanda, Mazzaropi tinha um grande sócio em seu negócio: o público. Enquanto a crítica o destruía, o público o aclamava. Mas, como afirmou a atriz Marly Marley, “não fez falta nenhuma a imprensa não dar cobertura a ele. Pois quem deu cobertura chama-se público!”.
O média-metragem conta sobre o empreendedorismo do artista desde sua época no circo, quando sua família vendeu tudo para montar um pavilhão e viajar com ele pelo interior de São Paulo. Mazzaropi também fez o que ninguém tinha feito até então: cuidou da distribuição dos seus filmes, sem interferência estrangeira, se impondo no mercado exibidor.
“Na verdade o que a gente quer com esse documentário é mudar a indústria. E fizemos isso, de certa forma. Fomos um pouco Mazzaropi, pois produzimos esse filme sem nenhum recurso, nenhum incentivo”, afirma Danilo Zanini. “Não tínhamos nem carro para levar a equipe. Mas contamos com muita gente boa para nos ajudar. E, de certa forma, vivenciamos que, para fazer cinema, basta querer fazer”, reforça Amanda.
Para Zanini, o trabalho empenhado no documentário deu certo, pois o filme já foi visto por cerca de 200 pessoas, em apenas uma exibição oficial e 15 caseiras. “E são pessoas de todas as idades que assistem ao filme, ficam surpresas com essa faceta empreendedora de Mazzaropi e saem comentando sobre o cinema brasileiro”, destaca.
A pesquisa para a produção durou dois anos e contou com cerca de 50 fontes, entre livros, arquivos e entrevistas com pessoas que conviveram e trabalharam com Mazzaropi. O filme traz a participação de grandes nomes do cinema nacional, como José Mojica Marins (Zé do Caixão), Galileu Garcia, o diretor Virgílio Roveda e os atores Marly Marley e Luiz Homero, que entrou meio por acaso numa produção, substituindo outro ator. Aliás, uma característica do cineasta, conforme descobriram os jornalistas, era sua preferência por trabalhar com atores inexperientes.
As filmagens ocorreram durante o mês de setembro nas cidades de Campinas, São Paulo e Taubaté, município onde Mazzaropi manteve seus estúdios; e foi lançado em dezembro do mesmo ano. De Campinas, os produtores ouviram o sociólogo Glauco Barsalini, especializado em cultura caipira, e Cristógene Faria, o Cebola, músico que tocava com Mazzaropi em suas apresentações circenses e trabalhava com ele na produção dos filmes. Ele atualmente mora no Jardim São José. Barsalini, o jornalista Celso Bodstein, orientador do projeto; e Virgílio Roveda foram convidados, mas ainda não confirmaram participação nos debates do ciclo.
Serviço
Ciclo de cinem 'Mazzaropi'
Nesta segunda (8), às 19h: 'Mazzaropi, o Jeca Empreendedor'; às 19h30: 'Sai da Frente' (direção de Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida)
Terça (9), às 19h: 'Chofer de Praça' (direção de Milton Amaral)
Quarta (10), às 19h: 'Casinha Pequenina' (direção de Glauco Mirko Laurelli)
Quinta (11), às 19h: 'Meu Japão Brasileiro' (direção de Glauco Mirko Laurelli)
Sexta, às 19h: 'O Corintiano' (direção de Milton Amaral)
Sábado (13/4), às 16h: 'Mazzaropi, o Jeca Empreendedor'; às 16h30, 'A Banda das Velhas Virgens' (direção de Mazzaropi e Pio Zamuner); e às 19h30, 'Jeca e a Égua Milagrosa' (direção de Mazzaropi e Pio Zamuner)
No Museu da Imagem e do Som - MIS (Rua Regente Feijó, 859 - Centro) - Campinas. Telefone: (19) 3733-8800
De graça