ADAPTAÇÃO

Minissérie 'Neruda' estreia na TV paga

Versão em quatro episódios do filme de Pablo Larraín será exibido às sextas, a partir de hoje, no canal Fox Premium 1

Rodrigo de Moraes
11/05/2017 às 19:35.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:24
Luis Gnecco como o poeta chileno Pablo Neruda em cena da minissérie  (Divulgação)

Luis Gnecco como o poeta chileno Pablo Neruda em cena da minissérie (Divulgação)

Aos 40 anos, o cineasta chileno Pablo Larraín já é autor de uma cinematografia respeitável, em que a tônica é a própria história recente — e muitas vezes traumática — do país latino-americano.' Tony Manero' (2008) é protagonizado por um sociopata cujos atos são uma metáfora da brutalidade da ditadura que o país viveu entre 1973 e 1990. 'Post-Mortem' (2010) gira em torno de um desaparecimento ligado ao golpe militar; 'No' (2012) acompanha os tensos dias que antecederam o plebiscito que tirou o general Augusto Pinochet do poder; 'O Clube' (2015) é ambientado em uma ilha na costa chilena que abriga padres excomungados por pedofilia. E, em 'Neruda' (2016), Larraín narra a caça empreendida pelo governo, no final dos anos 40, ao poeta comunista e Prêmio Nobel Pablo Neruda (1904-1973). O filme, que chegou a ser candidato à disputa ao Oscar de filme estrangeiro, foi adaptado e transformado em uma minissérie de quatro episódios que estreia hoje no canal' Fox Premium'. A trama coloca, de um lado, o poeta — vivido com uma maestria que chega a ser zombeteira pelo chileno Luis Gnecco —, e de outro, o chefe de polícia Óscar Peluchonneau, interpretado pelo mexicano Gael García Bernal. Neruda, senador pelo Partido Comunista do Chile, tem a cabeça colocada a prêmio após o presidente Gabriel González Videla decretar a ilegalidade do partido. Peluchonneau é encarregado de localizar e prender o poeta, que, com a ajuda de correligionários, empreende fuga junto com a mulher, Delia Del Carril (Mercedes Morán). Em entrevistas, Larraín já havia definido 'Neruda' como uma “antibiografia”, porque o filme se baseia em personagens e fatos para construir uma trama fictícia e por vezes delirante. Nesta, a perseguição de Peluchonneau a Neruda se transforma em um jogo entre ambos. O primeiro se revela cada vez mais admirado pelo segundo, que, por sua vez, deixa pistas e presentes para o perseguidor. Segundo afirmou o diretor em entrevista por telefone do qual o Caderno C' participou, a versão televisiva da história enfatiza o aspecto de policial noir sugerido no longa-metragem — que tem cerca de 1h47, menos da metade da duração da série. “A série é um pouco mais noir que o filme, é onde o policial tem uma crise existencial, fica dividido entre capturar ou não capturar Neruda”, diz Larraín. A propósito do personagem de Gael García Bernal, realmente houve um policial chamado Óscar Peluchonneau, mas a semelhança para por aí: o homem movido por dúvidas e angústias existenciais no filme/série é uma criação do roteirista Guillermo Calderón. E, de acordo com Larraín, o Neruda retratado por Luis Gnecco não fica muito atrás, ainda que seja um homem de biografia amplamente conhecida. “Neruda era um especialista em literatura, história, em cozinha, um colecionador, falava muitos idiomas, foi diplomata, senador, escreveu prosa, poesia. É alguém que não se pode classificar, não se pode colocar dentro de uma caixa — e muito menos dentro de uma série ou filme”, afirma o cineasta. E é a propósito dessa dificuldade de se aproximar de quem realmente foi Neruda que o diretor diz ter filmado uma história “nerudiana” — complexa, densa, multifacetada, onírica — e ter se disposto a “encarar Neruda, mais do que como uma pessoa, como uma série de peças de um quebra-cabeças que não se monta nunca. Um Neruda que não é capturável ou compreensível, um Neruda inacessível.”

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