Filme foi um dos mais comentados da Mostra Internacional de Cinema, que termina na quinta
Um dos mais comentados e uma das boas surpresas da 37ª Mostra Internacional de São Paulo, que termina na quinta-feira (31) - quando acontece a cerimônia de premiação —, foi o mexicano 'A Jaula de Ouro', do espanhol naturalizado mexicano, Daniel Quemada-Diez, e que tem vários elementos brasileiros.O diretor foi operador de câmera de Fernando Meirelles em 'O Jardineiro Fiel' (2005), e teve como preparadora de elenco a brasileira Fátima Toledo. Além disso, uma das cenas (um dos garotos tem de escolher quem vai morrer) remete claramente a 'Cidade de Deus' (2002, do mesmo Meirelles).O cineasta, também um dos roteiristas, ri da lembrança e concorda. A cena existia no roteiro, mas foi potencializada e ficou muito mais dramática com a presença de Fátima durante os laboratórios de preparação.Mas o grande aporte quem trouxe para o filme, segundo Daniel, foi o britânico Ken Loach, de quem foi assistente de câmera em 'Terra e Liberdade' (2001). Loach tem um método muito particular, pois filma em ordem cronológica do próprio roteiro e não deixa os atores saberem o que vai acontecer.Daniel aplicou o mesmo método. Por exemplo, em dado momento ocorre uma morte, mas o ator ficou sabendo somente cinco minutos antes que iria morrer. E a reação do ator foi imediata. “Por que eu?”, perguntou e ouviu uma convincente resposta antes de encenar a própria morte.Loach não apenas aportou técnica, mas um modo de pensar, pois é considerado um cineasta superpolitizado. Em 'A Jaula de Ouro' não temos discursos, claro, pois estamos no terreno do cinema, mas há clara camada sóciopolítica na história que conta. Começa com três adolescentes (dois garotos e uma menina travestida de rapaz) guatemaltecos que saem da favela e atravessam o México em busca do sonho de fazer a vida nos Estados Unidos.Diego não economiza palavras para falar do significado desse movimento de imigração. “O modelo econômico político ao qual estamos mergulhados é uma m...” Vai além nas críticas porque um dos meninos é índio. Obviamente, ele não está ali por acaso, como não está a menina, segundo Daniel, dois segmentos marginalizados na cultura latina, em especial a do índio.De qualquer maneira, ele demonstra esse choque da cultura ocidental com a do índio, que nem sequer fala espanhol. E lá pelas tantas, o outro garoto rouba uma galinha, mas não consegue matá-la e quem vai dar uma aula de como realizar com técnica aquele procedimento é, justamente, o índio.O filmeOs três adolescentes atravessam o México viajando de trem. Entretanto, os perigos são muitos durante toda a viagem. Assistimos a uma enorme sequência de obstáculos em uma verdadeira jornada do herói.Daniel mostrou o filme em várias comunidades e pode perceber a reação das pessoas. “Foi muito legal porque elas riam e entenderam o desenvolvimento da história dizendo que o filme retrata a vida deles, ou seja, houve muita identificação com o que foi mostrado na tela.”O cineasta acha que o segredo desse rodie movie está na maneira documental como ele conta a história. A câmera está o tempo todo observando, como espectador, diz ele, e a altura dos olhos. O olhar dos atores, afinal, é um dos trunfos do filme.O elenco foi escolhido em um teste entre seis mil adolescentes na Guatemala. E lembra que se os Estados Unidos têm preconceito com mexicanos (latinos, na verdade), estes têm contra os centroamericanos. “Dizem que é tão forte quanto, mas talvez seja exagero.” E o preconceito está lá no filme, que estreia no México em fevereiro. No Brasil, ainda não há previsão de lançamento.