30 anos atrás

Memória: Legião Urbana no Brinco

O rock brasileiro completa neste domingo 24 anos sem Renato Russo, o eterno vocalista da banda Legião Urbana, que morreu no dia 11 de outubro de 1996

Gustavo Magnusson
11/10/2020 às 10:35.
Atualizado em 27/03/2022 às 23:05
A performance de Renato Russo em Campinas foi comparada a um culto religioso pelo Correio Popular (Alexandre Battibugli/Divulgação)

A performance de Renato Russo em Campinas foi comparada a um culto religioso pelo Correio Popular (Alexandre Battibugli/Divulgação)

O rock brasileiro completa neste domingo 24 anos sem Renato Russo, o eterno vocalista da banda Legião Urbana, que morreu no dia 11 de outubro de 1996, aos 36 anos, no Rio de Janeiro, vítima de complicações da AIDS.  Além disso, a data de hoje marca ainda o aniversário de 30 anos do último show de Renato Russo realizado em Campinas. No dia 11 de outubro de 1990, a Legião Urbana apresentou-se no estádio Brinco de Ouro da Princesa diante de uma multidão enlouquecida de fãs. Não era a primeira vez que Renato Russo e sua banda tocavam em solo campineiro. Em maio de 1986, o grupo formado em Brasília já havia atraído cerca de 5 mil pessoas ao então recém-inaugurado Ginásio da Unicamp, em um espetáculo que ficou conhecido como Feliz Legião, realizado em conjunto com a célebre peça de teatro Feliz Ano Velho, inspirada no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva. Se na primeira passagem por Campinas a Legião Urbana tinha apenas um disco lançado e ainda era praticamente desconhecida do grande público, na segunda ocasião a banda vivia o auge de popularidade no País e promovia a turnê de seu quarto álbum de estúdio, o aclamado As Quatro Estações, que vendeu cerca de 2 milhões de cópias. Em uma megaestrutura montada sobre o gramado do campo do Guarani, Renato Russo subiu ao palco com flores nas mãos e entoou 25 canções, incluindo sucessos como Pais e Filhos, Geração Coca Cola, Tempo Perdido e Será. O show durou aproximadamente duas horas e também registrou discursos antidrogas e cobranças políticas por parte do cantor, além de homenagens a artistas como Cazuza, que havia morrido há apenas três meses, acometido pela mesma doença que tiraria a vida de Renato Russo exatamente seis anos depois do show em Campinas. A inspirada performance de Renato Russo no Brinco de Ouro foi comparada a um culto religioso pelo Correio Popular, na edição de sábado, 13 de outubro de 1990: "O público cantava e urrava. Não faltaram nem os tradicionais isqueiros acesos na plateia, enquanto Renato Russo ajoelhado, como se estivesse pedindo clemência a Deus, distribuía uma hóstia imaginária a sua legião de fãs. A Legião Urbana surpreendeu a todos que esperavam os tradicionais tumultos e ataques de estrelismo de Renato Russo. Enquanto o guitarrista Dado Villa-Lobos, o baterista Marcelo Bonfá e os demais músicos de apoio mantiveram uma postura sóbria durante praticamente todo o show, Russo corria e saltitava, discursava e chamava a atenção para si como se fosse ele um deus abençoando seus fiéis. As mais de 10 mil pessoas que assistiram o show saíram quase hipnotizadas". O jornal Diário do Povo, em sua edição de 13 de outubro de 1990, também relatou a histórica exibição da Legião Urbana em Campinas, com destaque para a atuação do líder da banda: “Renato Russo mostrou que não é só um bom letrista e dominou o palco. Sua performance, seus gestos, suas declarações e até seu jeito de dançar transita entre agressivo e sublime sem maiores traumas. Ele dá a impressão que voa pelo palco, seja como uma gaivota ou como uma águia. Levanta o público tanto com gestos agressivos ou quando canta abraçado com um buquê de rosas". Exclusiva com vocalista marca repórter A histórica apresentação da Legião Urbana em Campinas, em 1990, representou um momento único na vida de cada um dos quase 15 mil espectadores que marcaram presença no estádio Brinco de Ouro, mas teve um significado ainda mais especial para o jornalista Marcelo Andriotti, que cobriu o evento como repórter de Cultura do Diário do Povo. Completando 23 anos de idade naquele inesquecível 11 de outubro, Andriotti ganhou o 'presente' de entrevistar Renato Russo de forma exclusiva algumas horas antes do show. "Durante o ensaio da banda, um rapaz se aproximou de mim e se apresentou como o empresário que trouxe a banda a Campinas. Ele comentou que o Renato Russo tinha gostado muito da matéria pré-show que eu tinha escrito e aconselhou que me apresentasse ao cantor assim que acabasse a passagem de som. Renato já estava caminhando em direção aos vestiários para ir embora, mas aceitou dar a entrevista", relembra Andriotti, que estava acompanhado do colega repórter Aray Nabuco e do fotógrafo Élcio Alves. "Conversamos sentados no banco de reservas do estádio. Renato falou bastante, estava bem humorado. Deu muita risada quando perguntei se o Bob Dylan tinha 'baixado' nele quando compôs Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica, que tinham letras longuíssimas. Também riu muito quando o Élcio perguntou se o filho dele tinha nome de santo, em referência ao trecho da música em que dizia "Meu filho vai ter nome de santo, quero o nome mais bonito", recorda-se Andriotti. Para o jornalista, a entrevista com Renato Russo significou uma verdadeira conquista. "Renato estava há muito tempo sem falar com a imprensa, eu mesmo já tinha tentado outras vezes sem sucesso. Ele tinha ficado chateado por causa de algumas reportagens que insinuaram ser ele um dos responsáveis por uma briga em um show da Legião em Brasília que havia deixado vários feridos." A atmosfera no Brinco de Ouro, no entanto, foi completamente oposta ao incidente de Brasília, ocorrido em 1988. "O show foi muito bonito, a noite estava agradável e o Renato parecia muito emotivo, diferente de outros shows que já tinha visto da banda. Tive a impressão, passados alguns anos, que na época daquele show ele já sabia que estava doente", suspeita Andriotti.

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