Livro infantil é a inspiração para série brasileira de mesmo nome que estreia no streaming
Cena da série infantil "Marcelo Marmelo Martelo" da Paramount+ (Fabio Braga/ Pivô Audiovisual)
Vem aí mais um clássico da literatura brasileira que ganha adaptação no audiovisual. Estreia neste sábado (8) no canal de streaming Paramount+ a série nacional infanto-juvenil "Marcelo, Marmelo, Martelo", que, como o título indica, é baseada na obra de mesmo nome de Ruth Rocha, que tem atravessado gerações ao longo de quase 50 anos. A primeira temporada terá 13 episódios no total, com um novo capítulo por semana, todo sábado. Os episódios também serão exibidos pelo canal a cabo Nickelodeon, sempre aos sábados, às 18h30, e a série é distribuída para a América Latina pela Paramount+.
Como o livro, a série é centrada neste garoto chamado Marcelo (Enzo Rosetti), "um menino diferente que tem um jeito próprio de falar, pensar e se vestir". O protagonista é bastante esperto e questionador, por isso desenvolve uma maneira única de inventar palavras, muitas vezes renomeando termos já existentes, para o desassossego dos pais (vividos por Priscila Sol e Oscar Filho), que nem sempre o entendem. Mas ele não está sozinho. A série expande o universo que havia no livro, assim como a própria Ruth fez em outras publicações, dando amigos ao seu personagem.
O seriado então traz o grupo formado por Catapimba (Davi Martins), Terezinha (Rihanna Barbosa) e Gabriela (Lara Capuzzo). Junto com Marcelo, o trio vai aprontar muitas aventuras no bairro onde mora, transformando o seu entorno a cada episódio. A música-tema de "Marcelo, Marmelo, Martelo" foi interpretada pelo cantor Arnaldo Antunes e a série chega ainda este ano no Canadá, Reino Unido, Austrália, Áustria, França, Alemanha, Irlanda, Itália e Suíça.
Clássico que encantou gerações
O livro "Marcelo, Marmelo, Martelo" não ganhou a denominação de clássico à toa. Publicada originalmente em 1976, a obra ganhou 55 edições e até hoje é usada nas escolas. Antes de falar sobre ele para o Correio Popular, a assessora pedagógica Jussara Cristina Barboza Tortella releu a sua edição, que é do mesmo ano da publicação original. "Me lembrei da trajetória com meus filhos na escola como leitores. Todos leram o livro da Ruth. Ele é trazido para as instituições de ensino até hoje por abordar questões muito importantes da vida da criança e da família". Jussara, que tem doutorado em Psicologia Educacional pela Unicamp, desenvolve uma pesquisa sobre como crianças aprendem muitos conceitos através da literatura infantil, uma autorregulação da aprendizagem.
Ela conta que não considera o livro somente para crianças, pois adultos têm muito o que aprender com as mensagens que ele transmite. "A Ruth tem esse olhar, mostrando que elas pensam, e pensam muito, observam, criam hipóteses, refletem sobre o mundo e as questões sociais. E vem o momento dos porquês, quando elas começam a questionar". Jussara lembra que a neta, quando criança, ao descobrir a borracha começou a falar "emborrachar" no lugar de "apagar", pois fazia mais sentido na cabeça dela. Assim como acontece com Marcelo no livro.
"A Ruth traz no livro esse olhar cuidadoso para a criança, que deve vir não só na escola, mas em casa [...]Quantas crianças não se veem nessa posição do Marcelo, sentindo que tudo aquilo que elas fazem não tem sentido para os pais?". Sem estragar a experiência para quem não leu o livro (existe alguém?), a autora contraria as nossas expectativas ao longo da história com o final proposto pela narrativa, sem buscar penalizar a criança por questionar e imaginar demais, mesmo muitas constrangendo e confundindo a "gente grande", como ele diz.
"É um clássico atemporal. A Ruth Rocha tem esse talento de escrever para ser compreendida. A criança e o jovem [no contato com o livro] se identificam com o personagem", explica a pedagoga Luciana Mello, que acredita que a obra discute temas pertinentes mesmo em 2023, como a inclusão, aceitação e respeito às diferenças, e valorização da individualidade de cada um. Temáticas essas que podem ser trabalhadas pela série, sugere. "Os leitores do livro são convidados a refletir sobre questões que envolvem habilidades importantes de convivência e de empatia, compreendendo a diferença no outro e se compreendendo, se aceitando", completa a pedagoga.